Depois de 19 dias em coma, o comerciante Kender Conceição, 32, deixou a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Pronto-Socorro, e se recupera dos seis tiros que recebeu do presidiário Gleisson da Silva Andriola, 25, no leito 75 do Hospital de Base. A informação é da mãe Miracele Alves dos Santos, que atribui a recuperação do filho a um milagre de Deus.
Ela narra com emoção o telefonema que recebeu do filho assim que ele recobrou os sentidos. “Quando ele disse mãe estou vivo e pediu a benção meu coração disparou e comecei a louvar a Deus. Para honra e glória do senhor, meu filho está vivo”, declarou com um largo sorriso nos lábios.
Andriola efetuou seis disparos contra Kender. Todos à queima-roupa. Um dos projéteis entrou pela mandíbula e saiu na cabeça. Teve ainda perfurações no diafragma, fígado e nas duas pernas. Poderia ficar cego, débil mental e paralítico das duas pernas, mas deixou a UTI sem nenhuma seqüela aparente.
“Deus não cura pela metade”, diz Miracele, a Dona Mira como gosta de ser chamada. Ela não consegue conter a alegria em virtude do bom estado de saúde do filho. “Ele come sozinho, toma banho sozinho e reconhece todo mundo”, informa.
A transferência de Kender da UTI para o leito ocorreu na última quarta-feira (28/7). Desde então, segundo a família, ele só tem melhorado. A expectativa é que ganha alta em breve e retorne ao convívio da família.
Kender é casado e pai de três filhos. A família estava toda reunida na noite em que a casa foi invadida por Andriola e seu comparsa. No leito do hospital, ele revelou à mãe que enfrentou o presidiário para proteger a mulher e os filhos. “Meu filho disse que preferia morrer a ver sua família nas mãos daquele bandido”, conta Miracele.
Kender chora ao saber da morte de Ana Eunice
Kender Conceição chorou ao saber que a vizinha e amiga Ana Eunice, 52, morreu pelas mãos do mesmo homem que disparou contra ele por seis vezes. Até sair do coma, ele não tinha noção do tamanho da tragédia que começou com um assalto no Pronto-Socorro, passou pela sua residência e culminou com o bárbaro assassinato da assessora parlamentar.
O companheiro de Ana, jornalista Tião Maia, ficou feliz ao saber da recuperação do comerciante e manifestou interesse de fazê-lo uma visita no hospital. Ainda tomado de uma profunda tristeza, ele demonstra dificuldade em falar do trágico episódio que interrompeu um dos momentos mais felizes da sua vida. “Ana era a pessoa mais feliz que eu conheci”, lembra.
Miracele continua com a idéia fixa de visitar Andriola na prisão. “Não existe alma perdida para Deus. Quero que ele viva para suportar o grande fardo que pesa sobre as suas costas”, finaliza.