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Produtos florestais desvalorizados levam extrativistas à pecuária

Com o mundo consumindo mais carne e a conseqüente valorização do alimento, um número ascendente de pessoas está substituindo antigas atividades econômicas pela pecuária. No Acre a tendência é a mesma. Com uma pecuária cada vez mais lucrativa, os extrativistas deixam de lado os produtos da floresta e partem para a criação de gado.

É o que aponta estudo de uma equipe de pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo), a mais importante instituição de ensino e pesquisa do país. Coordenado pela professora Helena Ribeiro, do Departamento de Saúde Ambiental da USP, o estudo teve como “objeto” de estudo Xapuri (distante 188 km de Rio Branco).

O município foi escolhido pelo governo como laboratório para a política de desenvolvimento sustentável. Na região foram instalados empreendimentos com recursos públicos que têm como objetivo agregar valor aos produtos da floresta, incentivando o extrativismo vegetal. Todos esses investimentos, contudo, não tiveram impactos na economia local.

“Muitos dos entrevistados trabalhavam originalmente com atividades extrativistas. Mas a queda no preço de produtos como a borracha, por exemplo, levou essas pessoas a optar pela criação de cabeças de gado”, disse Helena.

Segundo o estudo, nem mesmo a fábrica de preservativos não se mostrou competitiva diante da lucratividade da pecuária. Xapuri é o marco do modelo de reserva extrativista no país. A partir dele estende-se a Reserva Extrativista Chico Mendes, ocupando 6% do território acreano. Mas nem mesmo esse modelo se livrou da pecuarização.

Extrativistas conciliam a retirada de produtos da floresta com a pecuária de pequeno porte. No estudo, os pesquisadores afirmam que a ocupação do solo pela pecuária, tanto por grandes como pequenos produtores, é uma forma de acomodação de capital e reserva monetária.

“Um dos dados que verificamos é que nas próprias reservas extrativistas, originalmente criadas para a exploração de recursos naturais das florestas, o avanço da criação de gado é visível”, destacou a professora. Segundo ela, as políticas de valorização dos produtos florestais são ineficazes.

Ao contrário do extrativismo, onde os seringueiros precisam andar horas e dias pela floresta para levar a produção aos compradores, na pecuária os frigoríficos mantêm uma logística de buscar o gado na propriedade. “A criação de gado acaba se impondo”. 

 

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