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Revolta e pedido de justiça marcam o velório de empresária

Os níveis de violência no Acre já superaram todos os limites. Nunca nos últimos anos os acreanos conviveram com o medo provocado pela insegurança, levando-os ao pânico. Na noite da última segunda-feira (23), mais um inocente perdeu a vida para a bandidagem que a cada dia toma de conta das ruas.
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Enquanto estava em frente à casa da mãe, Janete Silva de Morais, 48, foi abordada por assaltantes em uma motocicleta que exigiram sua bolsa. Segundo testemunhas, Janete entregou a bolsa sem rea-gir. Ao entregar a bolsa, entretanto, uma amiga a puxou de volta e arremessou para dentro do quintal.

Foi nesse momento que o bandido disparou contra o coração de Janete. O tiro foi mortal. Janete tinha passado na casa da mãe, Clarice Morais, 70, para deixar o pão que comprara em uma padaria próxima, no bairro do Bosque. Após o latrocínio, a dupla roubou a moto de um policial para continuar a fuga.    

Os bandidos fugiram sem deixar pistas e até o fechamento desta edição a polícia não os tinha capturados. No velório, a revolta de parentes e amigos era evidente e todos, de alguma forma, mostravam a apreensão diante da violência que pode atingir qualquer um.

O enterro de Janete Pinheiro, como também era conhecida, aconteceu no dia que seu filho mais velho, Anderson Morais da Cunha, completou 23 anos. “Eles [os bandidos] me deram de presente o enterro da minha mãe”, disse ele ao amigo Leandrius Muniz.
Frequentador da casa de Janete, Muniz afirma que ela era uma grande mãe para todos os amigos dos filhos. “Ela sempre abria a porta de casa com um sorriso, com uma conversa amiga, com algo para oferecer”, recorda Muniz. Além de Anderson, Janete deixou Andressa Morais Cunha, 18.

Zayra Ayache é a atual esposa do ex-marido de Janete. As duas sempre mantiveram amizade como irmãs. Revoltada com a barbárie, Ayache criticou o movimento do Conselho Nacional de Justiça de esvaziamento dos presídios. “Foram colocados nas ruas mais de 300 bandidos”, disse ela, numa referência ao Mutirão Carcerário.

“A morte da Janete e da Ana [Eunice] não podem ser em vão. A mãe de qualquer um pode sair para comprar o pão na padaria e não voltar porque foi morta por um bandido que estava na condicional”, desabafa ela. A amiga defende que o Acre seja a gênese de um movimento nacional que conclame mudanças no atual modelo de leis.

Durante o velório, familiares e amigos usavam uma camisa branca com a foto de Janete e o dizer “Ordem Pública Já”. O corpo da última vítima da violência acreana foi enterrado no Cemitério Morada da Paz.

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