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Acordo ortográfico: como evoluir

A cada dia confirmamos as inúmeras falhas no Acordo Ortográfico. Aliás, podemos constatar o quanto este é desconcertante, sendo questionado por jornalistas, professores e escritores, generalizando uma preocupação crescente com a solução dos problemas advindos dessa proposta ortográfica ilógica.

 Com tudo isso, confirma-se a necessidade de uma evolução do Acordo, considerando que esse já nasceu obsoleto, ou seja, o que trouxe como inovação ficou muito aquém da real necessidade do mundo moderno, o que não é de se espantar, pois foi pensado há mais de 30 anos. É preciso evoluir, afinal estamos no século XXI.

Entre tantos questionamentos, dúvidas e falta de argumentos lógicos, vigoram incertezas que vão das mais básicas até outras que sequer foram priorizadas no novo Acordo. A começar pela sua implantação, pois ninguém tem conhecimento de como anda a introdução oficial do Acordo nos países lusófonos. Em verdade, o Acordo foi assinado e aprovado por oito países, mas, oficialmente, até o momento, nenhum dos outros sete signatários pôs em vigor suas regras.

O porquê ninguém sabe precisar, porém não fica difícil imaginar, pois ainda há inúmeras dúvidas para os usuários do idioma e certo mesmo são os problemas que o Acordo traz consigo. Os parâmetros comportamentais do século XXI evoluíram muito. A internet permitiu a democratização do conhecimento e as populações tornaram-se mais lógicas e informadas. Nos séculos anteriores, a informação mantinha-se na mão de poucos e, devido mesmo a interesses políticos de dominação, a imprensa era praticamente inacessível a quem não estivesse no poder. Por isso as alterações ortográficas anteriores foram impostas e aceitas com muita tolerância.

Agora se fez o mesmo, impuseram-nos um acordo cujo primeiro erro foi a imposição e o segundo foi querer instalar, na era da internet, pensamentos dos séculos XX, XIX etc. A redação do Acordo trouxe à luz o despreparo ou o descaso de quem o assinou, o que se demonstra também por outros motivos, entre os quais: sempre que fala de palavras aglutinadas, dá exemplos de justapostas; mantém exceções absurdas e cria outras, quando deveria tê-las eliminado; permite incoerentemente palavras com dupla grafia; elimina indevidamente o trema, que é ortofônico e, por isso, foge da finalidade apenas ortográfica do Acordo; as muitas ilogicidades, exceções e duplas grafias escravizam ao dicio-nário todos os professores, alunos e os que escrevem.

O fato é que se contraria a didática atual decorar tais absurdos. Do jeito que está o decreto 6.583 pode ser comparado a uma lei que nos obrigue atualmente a andar em carros de 1975 ou nos comunicar por telex. A internet contribui para fazer nosso mundo muito diferente do que havia quando da discussão e assinatura do Acordo.
 
* Ernani Pimentel é professor e líder do Movimento Acordar Melhor. 

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