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Cacimbão da Capoeira: atração turística vira abrigo de moradores de rua

O presidente da Fundação Garibaldi Brasil, historiador e arqueólogo Marcos Vinícius das Neves, confirmou esta semana investimento na ordem de R$ 1,5 milhão para mais uma obra de revitalização do Cacimbão da Capoeira. O local, que por muitas décadas funcionou como atração turística da Capital, atualmente é ocupado por moradores de rua e não conserva mais a beleza e o encantamento de outrora.
Cacimbao
“O Cacimbão a gente só vai conseguir recuperar de fato se tiver uma ação integrada da comunidade e os setores do meio ambiente, segurança e cultura, senão sempre será uma obra breve”, sentencia Vinícius, chamando atenção para o processo de afastamento da comunidade que, segundo ele, é um dos fatores negativos que precisam ser revertidos.

De acordo com o historiador, o surgimento do Cacimbão da Capoeira data de 1927, durante o governo de Hugo Ribeiro Carneiro. Com seis fontes de água natural, era responsável pelo abastecimento das famílias que residiam nas proximidades. O trabalho era manual, feito através dos chamados “aguadeiros”, que transportavam os baldes cheios de água nos ombros ou no lombo de animais.

A efervescência cultural registrada nas décadas de 70 e 80 resultou no processo de tombamento, transformando o Cacimbão em Patrimônio Histórico e Cultural de Rio Branco. Nesse período, além de fonte natural de água, o local servia de ponto de encontro da comunidade, sobretudo dos grupos ligados ao time de futebol e ao bloco de carnaval Bem-Te-Vi.

Com o tempo, ressalta Vinícius, a Capoeira foi perdendo suas características de bairro residencial e passando a ser vista como bairro comercial, o que resultou no processo de afastamento da comunidade, que só favorece a situação de abandono. “Todo mundo tem muita saudade, mas não quer cuidar”, critica.

O historiador também não vê com bons olhos a instalação de um posto de combustível e de um lava-jato praticamente colados ao Cacimbão. “Estudos indicam que a água não tem mais a mesma pureza de antigamente”, revela. Alia-se a isso, o esgoto in natura procedente das residências vizinhas que é lançado diretamente no solo, se infiltrando e contaminando a fonte.

O processo de abandono do Cacimbão teve início na década de 90. Um trabalho de pesquisa, coordenado por Marcos Vinícius buscou definir as causas e buscar a solução para o problema. Tudo foi documentado através de vídeos e fotografias. “Foi quando identificamos que a participação da comunidade é essencial para a conservação do local”, diz.

Durante o 1º mandato de Jorge Viana (PT) na Prefeitura de Rio Branco foi realizado a 1ª obra de revitalização da atração turística. A mesma iniciativa tiveram os prefeitos Mauri Sérgio (PMDB), Flavia-no Melo (PMDB) e, por último, Raimundo Angelim. “O Angelim sabe da importância dessa obra”, assegura.

Instalação de câmeras de vigilância permanentes
Segundo Marcos Vinícius, há um mês toda a extensão do Cacimbão passou por uma limpeza geral. O próximo passo é dar início a obra de revitalização. A Fundação Garibaldi Brasil pensa, inclusive, na instalação de câmeras de vigilância permanentes para evitar que o local seja novamente ocupado por moradores de rua e depredado por vândalos.

A Fundação também está fazendo contato com grupos que desenvolvem trabalhos com moradores de rua para dar uma ocupação aos atuais moradores do Cacimbão. Alguns contatos foram feitos, porém nada definitivo. O grupo que marca território na área, atualmente é composto por uma média de cinco pessoas, incluindo homens e mulheres.

A residência da dona-de-casa Josiane Félix da Silva é literalmente colada ao Cacimbão. De uma de suas janelas é possível observar a rotina do grupo que vive por lá. Josiane não demonstra medo dos moradores de rua, mas admite que a presença deles gera certo inconveniente.
É que, muitas vezes, eles tomam banho despidos, sem se preocupar com a vizinhança. A dona-de-casa torce para que mais esse projeto de revitalização do Cacimbão da Capoeira finalmente funcione. (D.A)

 

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