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Sindicato denuncia 4ª morte por acidente de trabalho em obras de construtora

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Construção Civil no Estado do Acre (Sticcea), José Aldemar, denunciou ontem (14) a 4ª morte por acidente de trabalho em pontes sob a responsabilidade da Construtora Cidade. A vítima é o operário Walcemir Félix Brandão, 39 anos, morto por descarga elétrica enquanto trabalhava na ponte do Rio Purus, na BR-364, a 15 km do município de Manoel Urbano.
Sindicato-denuncia
O caso será oficializado perante ao Ministério Público do Trabalho (MPT), ainda esta semana, junto com um pedido de investigação. O sindicalista suspeita que o óbito esteja relacionado, a exemplo de situações anteriores, às precárias condições de segurança que os operários estão submetidos.

O local do acidente e o velório de Walcemir foram documentados em áudio e vídeo pelo sindicato. A gravação subsidiará o relatório que será entregue ao MPT. “Há sete anos estou alertando para as precárias condições de segurança nas construções de pontes no Estado do Acre e as mortes continuam acontecendo”, desabafa Aldemar.

O acidente aconteceu no dia 18 de agosto, por volta de 16h30. Walcemir exercia a função de pedreiro e enchia uma das colunas quando o cabo do guindaste atingiu a rede elétrica. O operário – que além de capacete deveria estar de botas e luvas de proteção – recebeu um choque e morreu na hora, deixando viúva e três filhos.

De acordo com informações repassadas pela família ao sindicato, os encarregados da obra se apressaram em sepultar o pedreiro para o caso não ganhar destaque. Apesar de o corpo ter sido trazido ao Instituto Médico Legal (IML) para realização de autopsia, a morte só foi divulgada agora porque o presidente do Sticcea teve coragem de denunciar.

O caso gerou revolta e comoção no município de Manoel Urbano, onde a vítima residia com a família. O caixão com o corpo do pedreiro foi transportado até o local do sepultamento em caminhonete da Construtora Cidade. O sindicato tem conhecimento, porém, que os dias trabalhados pelo operário não foram repassados à família.

“Para eles, quem morre em acidente de trabalho é uma coisa comum. É mais uma família que vai ficar desamparada se nenhuma providência for tomada”, diz. A viúva da vítima promete vir a Rio Branco nos próximos dias para adotar as medidas que o caso requer. A mulher e os três filhos dependiam da renda de Walcemir e vão ajuizar a ação cabível para o pagamento da indenização devida.

Um histórico marcado por tragédias
O histórico da Construtora Cidade no Acre está marcado por tragédias. Todas relacionadas a acidentes de trabalho. O primeiro registro data do segundo semestre de 2006. Um engenheiro morreu após ser atingido por uma tábua que despencou sobre a sua cabeça, na passarela Joa-quim Macedo, Centro de Rio Branco, à época sob a responsabilidade da empresa.

O segundo caso aconteceu em fevereiro de 2009, na ponte sobre o Rio Iaco em Sena Madureira. Um operário, que a época não teve o nome divulgado, morreu ao despencar de um andaime onde trabalhava. O caso foi tratado como fatalidade e a obra chegou a ser paralisada para averiguação da segurança no local.

Em outro do mesmo ano, caso semelhante. O operário Francisco Silva das Neves, 33 anos, morreu após cair de uma altura de 15 metros na obra da 4ª ponte em Rio Branco. Um cabo de aço que sustentava a estrutura do andaime rompeu. Dos três operários que trabalhavam na plataforma, Francisco foi o único que caiu. Os demais ficaram pendurados pelo cinto de segurança e apresentaram apenas ferimentos leves.

O último caso vem agora de Manoel Urbano. O sindicato quer uma apuração detalhada das circunstâncias em que o acidente aconteceu e mais uma vez volta a questionar o fornecimento de equipamentos de proteção individual pelas empresas.

Em virtude de todas essas ocorrências, a Construtora Cidade já foi alvo de investigação por parte da Delegacia Regional do Trabalho pelo não cumprimento rigoroso das normas de segurança que garantem a integridade física de seus trabalhadores e já teve, inclusive, algumas de suas obras embargadas.

O outro lado – Com sede em Porto Alegre, a Construtora Cidade mantém escritório em Rio Branco, mas os responsáveis não estão autorizados a falar sobre o assunto. A GAZETA tentou contato então direto com a direção, mas até o fechamento da edição não havia tido retorno por parte do diretor encarregado de fazer os esclarecimentos.

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