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A práxis do Lula

Práxis, para quem não sabe, é  o termo que designava no pensamento da filosofia grega uma tarefa, transação ou negócio, ou seja, à ação de levar a cabo algo; a propósito, o marxismo (o antigo, não o de hoje) foi apresentado como uma “filosofia da práxis”. A práxis do marxismo visava criar condições indispensáveis à existência, no caso sobrevivência, de um povo ou sociedade.

Sufragado por milhões de homens e mulheres que, até ali, eram vítimas de governos fracos e omissos, bem como incapazes, quando se tratava de assegurar ao pobre, todos os direitos de que são credores, Luiz Inácio Lula da Silva, provavelmente o último populista da política partidária brasileira, foi eleito e reeleito presidente com um discurso de guerra à pobreza e à desigualdade.

Entretanto, antes de conti-nuar este artiguete, deixa-me dizer, que a minha esperança no êxito desse programa, passava pela expectativa de que era necessário, entre outras providências, que a administração do governo Lula não caísse nos erros de governos anteriores, que eram abertos (generosos) com apaziguados, mas indiferentes à miséria. Contraste produzido por uma estrutura iníqua, pois afinal, somos um país rico e um povo miserável. Também o governo não poderia incidir na má administração dos recursos que tributam ao povo, e ainda deixar à conta do próprio povo, cuidar daqueles que compete ao Estado cuidar. Não poderia permitir que setores viciados da sociedade de grupos organizados continuassem intermediando os recursos destinados às necessidades dos municípios, que é onde os problemas e as soluções precisam ser discutidos e dirimidos. Havia uma grande fé neste governo, desde o primeiro mandato, na descentralização dos recursos, via BNDES, até então destinados, em per-centuais alarmantes, apenas as grandes empresas localizadas no Sudeste.

A práxis do Lula de combate à fome, inicialmente foi o “Fome Zero” programa considerado pela oposição como um mero slogan de marketing, idéia obsoleta  eleitoreira, hoje substituído pelo programa Bolsa-Família. Alheio as críticas, Lula fez ouvido de mercador, e seguiu obstinadamente batendo na mesma tecla. Foi assim em Davos (Suíça), depois em Porto Alegre no Fórum Social Mundial, na ONU, nos EUA, na Espanha, na Índia, ou seja lá o lugar em que Lula esteve nestes oito anos de mandato presidencial, o discurso foi o mesmo: Lula concitava os maiorais de  países ricos, bem como  investidores dos quadrantes da terra que financiassem programas sociais. Lula queria  um pacto mundial através de “um fundo internacional para combate à miséria e a fome nos países do Terceiro Mundo”. No início de seu governo, ganhou de alguns renomados chefes de grandes nações, tapinha nas costas e promessas, até hoje não cumpridas, de adesão ao seu plano de ação contra a fome.

De lá pra cá, em meio a tantas corrupções envolvendo vá-rios setores do seu governo, bem como do seu partido de apoio, o PT, Lula não abriu mão dessa práxis: Em nível de Brasil, colocar três refeições, ao menos, por dia na mesa do trabalhador brasileiro.

Dessa forma, Lula, quase que ingenuamente, uniu a sua teoria a pratica. Deu certo, principalmente entre os mais humildes, gente sofrida. Com Lula, a fome,  tão antiga quanto à incompetência do homem em erradicá-la do seu convívio diário, cessou em milhares de lares brasileiros. Não é àtoa que  se apregoa nos quatro cantos  do Norte e Nordeste brasileiro que Dilma, candidata do Lula, é melhor para a região. Talvez porque os Estados do Norte e do Nordeste não tenham isenção dessa praga que assola o mundo todo. Por aqui o refrão de que Dilma é melhor para o Acre se faz presente de forma implacável. Afinal a miséria que ainda afeta algumas famílias do interior do Estado e, não podemos negar, da periferia de Rio Branco, fazem reverberar, nestas plagas, a mesma preferência dos eleitores do Nordeste, visto que só no semi-árido nordestino, existem 15 milhões de miseráveis.

Agora, no crepúsculo de sua missão, com  progressos consideráveis no campo social, Lula  decantado, pela maioria dos brasileiros, notadamente os que viviam abaixo da linha de pobreza, como o melhor presidente da história republicana brasileira, vive a expectativa de no próximo domingo os eleitores brasileiros elevarem Dilma à Presidência da República. Em se confirmando as pesquisas que apontam nesta direção, Lula sai do governo de “alma lavada”.

* Francisco Assis dos Santos é professor e pesquisador  bibliográfico em Filosofia e Ciências da Religião.E-mail: assisprof@yahoo.com.br

 

 

 

 

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