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Nada mudou!

Nesta semana, quando induzidos, especialmente por um mercado malvado e ávido por lucro, o mundo festejou o dia da criançada, faço uma breve ponderação temá-tica conjugando os problemas que vitimam crianças, aqui e acolá. O que vai escrito neste artigo é, em 90%, uma repetição do que foi dito, por mim, em anos passados, com algumas ressalvas, porquanto nada mudou em relação ao tratamento dispensado às crianças que zanzam por este Brasil afora. Aliás, em sã consciência, acho que piorou, e muito, a situação da meninada. 

A principal ênfase ou inserção que se faz aqui não aponta para as crianças que vivem em lares estruturados,  com pais responsáveis, comprometidos com a educação, a saúde e o crescimento equilibrado de seus filhos. Antes, a reflexão, chama a atenção de homens e mulheres de bem, que se indignam com as injustiças sofridas, inconscientemente, pelas crianças. Investidas criminosas, produto dum sistema iníquo que só pode ter sua origem no inferno, visto que, nestes novos tempos, as crianças  são alvos principais de toda sorte de perversidades já vistas abaixo do firmamento. Portanto, volto-me para aquelas crianças, que estão inseridas num contexto familiar miserável; sobrevivendo à margem da vida, sacrificadas pelas desigualdades sociais, fruto, também, duma sociedade míope e arrogante em todas as suas manifestações, quando se trata de proteger e defender os sem defesa. 

 Desigualdades sociais que, segundo dados estatísticos recentes, faz com que um terço das crianças dos países em desenvolvimento apresente atraso no crescimento físico e intelectual, ademais 11 mil crianças morrem de fome a cada dia. Além dessa trama dos infernos e das desigualdades sociais tem, ainda, a tal onda da diversidade social globalizada e a cultura do “ficar” que levam a maioria das nossas crianças, meninos e meninas, ainda em tenra idade, 9 a 14 anos, talvez mais ou menos, experimentar uma realidade sexual própria de adultos. Reverberando, portanto, no dia-a-dia a violência a que são submetidos seus corpos juvenis. No campo do abuso sexual contra crianças, a estatística é alarmante e estarrecedora: a cada 8 minutos, uma criança é violentada no Brasil.

Qualquer pessoa, com um mínimo de bom senso pode constatar que as nossas crianças são um portal para as mais cruéis maquinações do mundo do crime. Hoje, as casas de “recuperação”, estão repletas de crianças, adolescentes e jovens, que inegavelmente cometeram delitos hediondos e que já experimentam no início da vida, a mais vil degradação humana. Assim sendo, pergunta-se:  como é possível que crianças, com o caráter, ainda em formação, sejam capazes de crimes tão perversos?

Outro item alarmante é o fato de meninas, entre 10 a 14 anos, estarem parindo mais do que mulheres adultas, e nós estamos achando tudo isso normal. No Brasil já são 900 mil jovens parindo anualmente aumentado a cada dia o elevado índice de gravidez precoce. Especialistas, atribuem tais índices ao amadurecimento sexual em tenra idade, contrariando a teoria do desenvolvimento humano de Jean Piaget que apontava que tal afloramento se-xual chega mais tarde. Ocorre que milhares crianças são iniciadas na vida sexual de forma constrangedora ou na marra”, como dizem por aí. Não é à toa que meninos e meninas estejam ficando sexualmente maduros aos quinze anos de idade. Muitos são os fatores que corroboram para essa alta incidência
Um dos principais fatores que corrompem a alma da criança, passa pelos programas via televisão com suas programações pernósticas, indutoras de maus costumes e que, à luz notadamente do Ministério da Justiça são impróprios para menores.

O problema tende a recrudescer nos meses do famigerado horário de verão que se aproxima, especialmente, na parte vespertina. A propósito, nunca é demais repetir, sem falso moralismo, que alguns programas televisivos não deveriam vir ao vídeo em horários em que as crianças ainda estão zanzando pela casa, já que trazem em seu bojo todos os ingredientes pornográficos que afrontam os bons costumes, ainda necessários na condução de famílias ajustadas socialmente. Creio que se a sociedade em geral não tomar cuidados em relação às nossas crianças, criando projetos da mais ampla pesquisa sobre o assunto, o resultado será amargo em demasia.
A situação exige, sem estardalhaços, que voltemos a semear bons propósitos nos corações das crianças, pois a safra de miséria, que estamos colhendo agora é o resultado da semeadura, no curso dos últimos decênios, de que a moralidade é relativa.

 O que se requer e se exige, alusivo ao dia das crianças, é que tenhamos programas, venham de onde vier que resgatem a essas quase inditosas, o direito de viver dignamente a fase mais bela da vida humana. Ser criança; estudar, viver e usufruir dessa condição de ser criança, é  tudo o que elas precisam! É, pedir demais?

* Francisco Assis dos Santos é professor e pesquisador  biblio-gráfico em Filosofia e Ciências da Religião. E-mail: assisprof @yahoo.com.br

 

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