Considerando a iminente conclusão das obras da Rodovia Transoceânica, ligando o Brasil, por meio do Acre, aos portos do Oceano Pacífico, no Peru, é fundamental solucionarem-se os entraves fronteiriços, para que a grande estrada possa propiciar de modo pleno todos os benefícios socio-econômicos que dela se esperam. Avanços nesse sentido verificaram-se em dezembro último, quando os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Alan Garcia, durante visita de uma delegação brasileira ao país vizinho, regulamentaram os vôos entre Cuzco/Porto Maldonado/Rio Branco e Pucalpa/Cruzeiro do Sul e criaram a Zona de Integração Fronteiriça Peru-Brasil (ZIF).
A meta, no entorno geográfico abrangido, é estabelecer a livre passagem na fronteira de moradores das cidades vizinhas e os transportes fluviais nos rios amazônicos que ligam as re-giões peruanas ao Acre e Rondônia. Também se espera o livre trânsito de veículos turísticos entre os dois países, bem como a simplificação de procedimentos administrativos, de modo a incrementar o comércio bilateral e o turismo.
Para a concretização prática de todos esses avanços, será realizada, em 22 de dezembro, na cidade de Cuzco, no país vizinho, reunião da comissão binacional encarregada de implantar as medidas necessá-rias à implementação da ZIF Peru-Brasil. Antes, porém, acontecerá encontro preparatório em Rio Branco, em mea-dos de novembro.
A indústria acreana, por meio de sua entidade de classe, a Fieac, vem defendendo há alguns anos a adoção de medidas capazes de mitigar a burocracia na fronteira e facilitar a integração. Assim, esperamos que tudo possa concretizar-se de modo ágil neste momento. Além das providências já encaminhadas, entendemos que deveria ser estabelecido regime cambial direto para o comércio, sem a necessidade de conversão ao dólar das moedas brasileira e peruana.
Todas essas medidas são fundamentais para potencializar a operacionalização da Rodovia Transoceânica, empreendimento de 1,8 bilhão de dólares, investido pelos governos brasileiro e peruano e a iniciativa privada. Trata-se de uma estrada de 2,6 mil quilômetros ao longo da Floresta Amazônica e dos Andes, estabelecendo estratégica ligação do Brasil com o Oceano Pacífico. Seu traçado parte de Rio Branco e segue por 344 quilômetros em território brasileiro. Cruza a fronteira com o Peru, percorrendo mais 2.256 quilômetros, cortando a Floresta Amazônica e a Cordilheira dos Andes, até chegar a três portos do país vizinho: Ilo, Matarani e San Juan de Marcona.
A rodovia abre uma nova rota comercial para o Brasil, via Oceano Pacífico, com positivo impacto no processo logístico do comércio internacional, principalmente nas exportações à Ásia. Além desse grande benefício econômico para todo o Brasil, a estrada representará inegável fator de progresso regional, não apenas no Acre, onde começa, como nos estados vizinhos e vasta área do território do Peru. Trata-se, sem dúvida, de um novo marco no desenvolvimento acreano e amazônico.
* João Francisco Salomão é o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Acre – Fieac (salomao@fieac.org.br).