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Feira Panamazônia supera metas a cada dia e deve consolidar intercâmbio comercial histórico

Mais do que um sucesso de vendas, Feira Panamazônia está provando, dia após dia, que pode superar suas metas e se transformar num conceito maior de exposição internacional (e nacional) de intercâmbios. Com mais de 300 pequenos empreendedores (151 do Acre e os demais de outros estados, entre alguns de fora do país), a feira projeta números cada vez maiores, como arrecadação de negociações acima de R$ 8 milhões – 60% a mais do que os R$ 5 mi da edição passada – e expectativa de público próxima a 100 mil pessoas.

Reunindo representantes de todos os estados brasileiros, de 9 países latino-americanos e ainda de ilhas caribenhas, a edição deste ano tem tudo para consolidar marcas históricas no câmbio comercial de produtos e serviços que compõem a Economia Solidária. Entre eles, o artesanato, biojóias, adornos e decorações, produtos agrícola-familiares, artigos moveleiros, indígenas e do ramo alimentício. Os 9 países presentes na Panamazônia são: México, Uruguai, Guatemala, Equador, Colômbia, Chile, Peru, Bolívia e Brasil.   

A feira foi aberta desde quarta (20) e já apresentou uma série de atividades de conteúdo (palestra, seminário, cursos, oficinas e reuniões) de manhã, e de exposições para vendas e atrações artísticas (peças, exposições culturais e shows de bandas locais) de noite. Os expositores atuam nas tendas e stands montados no Horto Florestal, que funciona das 17 às 22h. Lá, está disponível uma rica variedade de artigos, tais como camisetas, máscaras, brincos, colares, bolsas, quadros, artes indígenas, comidas regionais, entre muitos outros.

Seu foco principal é centrado em revelar os bons resultados que  Economia Solidária da região Norte brasileira, em especial do Acre, vem desenvolvendo nos últimos anos. Em outras palavras, é uma oportunidade para mostrar ao mundo o progresso que a economia com base nos valores humanos é capaz de alcançar. E este potencial não é pequeno! De acordo com Márcia Lima, coor-denadora do Fórum Brasileiro de Economia Solidária, a Panamazônia marca a superação dos limites a serem alcançados pelos empreendedores.

“A exposição é a maior chance aos produtores acreanos de prosperar nos seus negócios, pois ela oportuniza o momento perfeito pra firmar parcerias e trocar experiências. Além do que, a feira privilegia a produção dos pequenos como indicadores da atual conjuntura econômica regional, criando incentivo para políticas públicas que fortaleçam atividades econômicas solidárias, para formação de uma rede integrada entre comerciantes de toda Amazônia e para reafirmar a força de tais práticas perante a sociedade”, enfatiza Márcia.

De fato, as propostas são nobres. Mas se dependesse apenas da virtude conceitual, toda a feira não valeria nada. Nesse sentido, o esforço maior foi para tirar as metas do papel e trazê-las à realidade, num formato capaz de agradar ao público local e atrair investidores estrangeiros. Por tal razão, o representante local dos empreendedores solidários, Carlos Taborga, conta que trabalharam mais de 120 homens, durante 30 dias, só pra montar as locações físicas do Horto. Na programação da feira, a organização foi ainda maior.

Com mega estrutura e uma preparação ordenada, o que a iniciativa mais teve foi espaço para crescer e propiciar novidades. De produtores, o total duplicou, saindo da faixa de 150 para 300 (no Estado, foi de 80 pra 151). Aliás, quem a viu na 1ª edição de 2007 não tem como não se surpreender com o atual progresso, afinal, são muitos atrativos novos.

Carlos Taborga destacou algumas delas, tais como a entrada de serviços da piscicultura (inclusive uma mostra de peixe-frito ao vivo), a exposições de móveis feitos sob manejo e com materiais de baixo impacto ambiental, a instalação de um mini-apiário, a Casa da Farinha, as tendas das sementes brancas e dos grãos, a adesão de entidades religiosas (já que a Campanha da Fraternidade 2010 foi com o tema Economia Solidária), entre outras. 


Comerciantes comprovam o sucesso da feira
Para medir o sucesso da segunda Panamazônia, não há grupo melhor do que os próprios expositores da feira! Com empreendedores de todos os cantos do país,a exposição conta com uma riqueza interminável de produtos, culturas, estratégias,metas e fins comerciais. Diversidade esta que pode somar muito aos produtores da Economia Solidária local.

A primeira a comprovar isso é Otilia Melo, presidenta da Coopermav (Cooperativa de Artesãs Mulher Arte de Viver), uma entidade com cerca de 20 associadas. Segundo ela, os 3 primeiros dias da feira foram muito proveitosos. Inclusive, bem melhores do que as artistas da cooperativa esperavam. Desta forma, ela diz que a Coopermav já visa metas mais ousadas para os próximos dias, que ela acredita que devem ser ainda melhores por serem no final de semana, quando as pessoas terão mais tempo para visitar a feira.

“Para a Coopermav, a feira é uma realidade que bate na nossa porta. Uma iniciativa que vem para suprir nossas reais necessidades de expor aquilo temos a oferecer à sociedade, ao mesmo tempo que nos valoriza e dá incentivo ao futuro”, prega Otília, que completa apresentando alguns produtos da cooperativa, como panos de prato, bolsas, camisetas, imãs, vestidos e jogos de cama, mesa e banho (tudo confeccionado por artesãs acreanas).

Por sua vez, o produtor Antônio Azevedo, da Cooperativa Agrícola Mista de Produtores da Reserva de Cruzeiro do Sul (Comprecsul), opinou sobre a como a feira será essencial ao crescimento da qualidade dos produtos de Alimentos do Juruá. “A Panamazônia está sendo frutífera tanto para vendas, quanto para a contribuição aos nossos conhecimentos. Eu vejo nela uma chance de mostrar as especialidades da nossa terra. Apesar de sermos o 2º maior município do Estado, eu sei ainda podemos nos integrar muito mais com Rio Branco para fazer a Economia Solidária acreano crescer num ritmo maior”, analisou.

Outro produtor que também não deixa de ressaltar a boa fase na feira é Francisco Souza. Ele é de uma reserva indígena, a Aldeia Japaal, da etnia Apurinã, e narrou sobre os mais de 20 dias de trabalho árduo que os membros da sua tribo tiveram para confeccionar os produtos trazidos à feira. Eles fizeram desde calçados e mantas até bordumes, biojóias, arcos, flechas, lanças e outros artefatos indígenas. Segundo ele, no fim todo o esforço valeu a pena diante das recompensas que estão obtendo na Panamazônia.

Conforme o representante do Governo do Estado pela Fundação do Índio, Juan Scalia, a valorização cultural dos povos da floresta tem marcado presença na feira. Ele aponta que das tribos acreanas participam da feira os artesões das etnias Apurinã e Kaxinawá. De fora, participam várias etnias do Amazonas, do Pará, do Amapá e de Rondônia.   

Na avaliação do coordenador da incubadora de cooperativas da Ufac, Carlos Franco, são estas metas comerciais atingidas pelos expositores que refletem no grande sucesso que a edição deste ano está conquistando. O referido setor da Ufac tem sido o responsável por quantificar o volume financeiro da Panamazônia. Assim, Carlos Franco já adianta, com base no resultado parcial das pesquisas com os 300 empreendedores, que a feira de 2010 deve sim superar todos os números anteriores com uma larga diferença.

“A evolução da feira é evidente na qualidade de produtos e de materiais, na estrutura, na participação de entidades e, sobretudo, na visão positiva dos pequenos produtores. Por conseguinte, fica claro que o valor geral estimado em R$ 8 milhões deve ser alcançado e até superado. Na semana, os números já tabulados devem provar isso, que eu creio que será uma grande vitória para o pequeno e micro empreendedor acreano”, ponderou.

 A feira não acabou, ainda faltam mais 2 dias de bons negócios
Com os 3 primeiros dias tão positivos, a expectativa gerada para estes dois últimos dias da feira, neste sábado (23) e domingo (24), não poderia melhor. Para hoje de manhã e de tarde, será o fim da programação de debates e conteúdos, ocorrendo, simultaneamente às 8h30, os seminários Mercado Justo na Amazônia (Sebrae, na Av. Ceará) e de Redes e Cadeias Produtivas (No Horto Florestal); o curso de Formação em Economia Solidária do Itcpes/UFPA (no Cieps), a Rodada de Negócios do Sebrae (na escola Municipal de Governo); e a oficina de Bancos Comunitários na região (no Cieps).

A partir das 17h, como sempre, funcionará a feira comercial no horto e a programação cultural, até as 22h. Para amanhã, domingo, a feira será encerrada de vez apenas com as programações de final de tarde no horto, sem nenhuma atividade de debate/conteúdo.

Representante do Uruguai destaca o vasto patrimônio regional na feira
Um dos maiores indicadores do crescimento desta segunda edição da Panamazônia sem dúvida é a maior participação de representantes internacionais. Para resumir a forma na qual eles enxergam a feira, a representante do Uruguai, Rosana Facal, coordenadora da maior entidade nacional de Economia Solidária daquele país, concedeu entrevista para A GAZETA. Segundo ela, as práticas de comer-cialização solidária demonstram uma parte do rico patrimônio do Acre, com potencial para ser, sustentavelmente, explorado.

Rosana Facal contou que esta é a primeira vez que vem ao Acre e está maravilhada com o potencial desabrochando da Economia Solidária local. Sobre a exposição, a uruguaia a definiu como sendo um retrato do ‘grande momento’ que atravessa a produção acreana, já a colocando como umas das ‘maio-res feiras mundiais’ do gênero. Como prova, ele enalteceu a quantidade de expositores e a mobilização so-cial em torno do evento.

Para a economista uruguaia, os pontos altos da feira estão sendo o compromisso de criar uma economia centrada nas relações humanas e os debates a respeito do futuro regional, focado na integração com os países latino-americanos. “Muito mais do que as vendas, é importante ver que estes pequenos empreendedores estão aprendendo, se relacionando e tirando valiosas lições deste encontro. Isso será fundamental para fazer os nossos países interagirem melhor para fomentar esta cadeia econômica humanizada”, disse (tradução).

Por fim, Rosana definiu o Acre como lugar que ‘está no caminho certo’ para contribuir num salto qualitativo da Economia Solidária. “Aqui é um exemplo de local que valoriza seu pequeno empreendedor, mas esta é uma corrente mundial. Por isso, essa valorização precisa se estender aos outros estados brasileiros e a regiões latino-americanas. Só assim superaremos os desafios que a Economia Solidária encontra pela frente nos planos de se consolidar como um modelo na vida de todos, em escala global”, finalizou (tradução).  

Rodada de negócios reafirma visão positiva acreana e interação comercial
Para marcar o terceiro dia, durante a manhã e tarde de ontem, das 9 às 16h, foi a vez da rodada de negócios do Sebrae superar seus objetivos e se tornar um verdadeiro sucesso prático de vendas e acordos comerciais. A iniciativa aconteceu na Escola Municipal de Governo, na Avenida Getúlio Vargas. De forma simples, a idéia foi expor os produtos e serviços de mais de 30 vendedores acreanos para 7 compradores de diversos lugares do país. Conforme o interesse de ambos, eles trocavam contatos e estabeleciam acordos.

De acordo com a analista do Sebrae, Miriam Moreno, organizadora da rodada, além do volume de vendas em si, a abertura de negociações também foi importante para que os empreendedores locais divulgassem seus talentos e, assim, aprendessem a lidar melhor com as exigências dos mercados de fora. “Colocamos compradores e vendedores frente à frente. Daí, eles podem fazer acordos duradouros ou tentar descobrir o que falta para combinarem o seus interesses comerciais, adaptando seus produtos”, completou ela.    

Os números de vendas e tratos de ontem só serão divulgados junto aos resultados finais da feira. Porém, se depender do otimismo das duas partes de comerciantes, já dá para adiantar que a rodada será mais um evento da Panamazônia que excederá expectativas.

Conforme uma das compradoras na rodada, Vanessa Gomes, de Manaus/AM, o evento foi uma boa chance de conhecer sobre a produção artesanal e gastronômica acreana. Ela disse estar animada para buscar novidades à sua loja, que vende desde itens artesanais e indígenas até souvenirs e comidas típicas. “Encaro esta como uma oportunidade de achar peças de qualidade, que venham a somar com a linha de atuação da minha loja. Além disso, pode ajudar no meu novo projeto, que é investir numa cafeteria”, comentou.

Já os vendedores agradeceram o espaço cedido pela rodada de ontem e se mostraram bastante entusiasmados de que fariam bons negócios. Para tanto, eles levaram consigo alguns dos seus principais produtos. “Para mim, esta é uma chance única para sair do anonimato e poder mostrar o potencial do meu trabalho. Estou confiante nos resultados desta rodada de negócios, e mesmo nos demais dias lá no horto, da feira em si”, resumiu Socorro Acácia, artesã de biojóias, quadros de buriti, velas aromatizadas e fibras naturais.

 BONS NEGÓCIOS – Durante horas, compradores de vários lugares do país olharam os melhores produtos e serviços, de Economia Solidária, oferecidos pelos empreendedores de todas as regiões do Acre. O objetivo do encontro foi viabilizar a troca de contatos comerciais e a firmação de parcerias entre os comerciantes.

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