Os acreanos terão hoje um dia histórico, único. Após ter seu horário mudado sem a mínima consulta popular, agora eles podem dizer se aceitam ou não a mudança. Muito mais do que ir às urnas declarar se aprovam ou desaprovam a nova hora, os eleitores estão dispostos a depositar um voto de protesto, e dizer que nenhuma mudança pode ser realizada sem antes consultá-los.
É esse o sentimento que, como repórter, senti das pessoas quando indagava seu voto. As pessoas nem mesmo falavam de horário, mas de Tião Viana, o senador petista autor do projeto que reduziu de duas para uma hora a diferença do Acre em relação a Brasília. Aprovada pelo Congresso e sancionada por Lula, a lei está em vigor desde 2008.
De lá para cá, muitas foram as discussões em torno da alteração – principalmente a forma como se deu. Após muita batalha na Câmara, o deputado federal Flaviano Melo (PMDB) conseguiu a aprovação do projeto que estabelecia o referendo de hoje. Foi em cima dessa consulta popular que Flaviano fez sua campanha eleitoral, o que lhe rendeu a terceira posição entre os mais votados.
Em resumo, muito mais do que se debater o que é melhor para o Acre, os diálogos se concentram no âmbito político da coisa; como é tudo no Acre. Como plano de fundo houve a campanha do Sim e do Não, especificados pelos números 55 e 77, respectivamente.
Formado por membros de sindicatos e outros movimentos sociais, o Não tinha como principal argumento, justamente a não consulta popular à época da mudança. Outra alegação é de que a vida dos trabalhadores mudou para pior. Com a redução da diferença no horário, muitos passaram a acordar ainda de madrugada para chegar ao trabalho, expondo-se aos perigos da violência na bruma.
O mesmo aconteceu com os estudantes do turno da manhã. Já o Sim estava composto pelas entidades patronais, para quem a diferença de apenas uma hora em relação ao resto do país é melhor para os negócios. O movimento para a manutenção da atual hora também é apoiado pelo movimento intelectual, como a AAL (Academia Acreana de Letras).
Para os apoiadores da idéia, a redução integra o Acre mais ao país, tão já distanciado histórica e geograficamente. Outro ponto defendido é que, como está, o horário aperfeiçoa a grade de programação das emissoras de televisão, evitando as crianças de assistir programas inadequados.
Mas o debate sobre o fuso horário local, neste período de campanha, deixou muito a desejar. Ficou evidente o seu uso político-eleitoral. As idéias só foram apresentadas pelas inserções no rádio e TV. Faltou uma discussão mais ampla, até mesmo pelos próprios meios de comunicação.
A preocupação esteve mais voltada em emplacar Dilma Rousseff no Acre, do que discutir aquilo que é essencial para o futuro e desenvolvimento do Estado. Seja qual for o resultado de logo mais, a única certeza é que o grande vencedor não foi o confronto de ideias e propostas, mas a bandeira eleitoral.