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Em 1962, Acre elege seu primeiro governador e inicia processo histórico

Após mais de cinco décadas como Território Federal, onde a então capital Rio de Janeiro definia quem decidiria o destino dos acreanos, no final de 1962 o Acre elege seu primeiro governador pelo voto direto. Então um político desconhecido, José Augusto de Araújo assume o Palácio Rio Branco em março de 1963.

Desde aquela eleição, o Acre passa a definir seu processo histórico de escolha dos governantes: revelar jovens lideranças, uma disputa pelo bi-partidarismo e adotar o bairrismo. A escolha de José Augusto sintetizou bem esses três critérios. Como já dito antes, ele era político não muito conhecido da sociedade.

A primeira eleição foi marcada pela disputa entre PDS e PTB, e José Augusto era acreano nato. Seu adversário, Guiomard Santos, mineiro. O slogan da campanha dele era o “Acre para os acreanos”. A primeira eleição direta no Acre aconteceu após um longo período de luta para transformar o território Federal em Estado.

Aprovado pelo Congresso e sancionado pelo presidente João Goulart, o projeto de lei que transformou o Acre em Estado (em 15 de julho de 1962) representou a luta do Movimento Autonomista, assim denominada a mobilização política para que o sonho dos revolucionários se tornasse realidade.
Eleito o primeiro governador e deputados estaduais, o Acre Estado começava sua organização política. Essa fase democrática, porém, foi interrompida em 1964 pelo golpe militar. Visto como de esquerda, José Augusto foi derrubado e instalou-se o governo provisório de Edgard Cerqueira.

Daí até 1982, o Acre passaria a ter seus governadores escolhidos pelos militares. “O interessante é que os quatro governadores desse período eram acreanos”, observa o historiador Marcus Vinicius das Neves. Os chefes do Palácio Rio Branco nos anos de chumbo foram: Jorge Kalume, Wanderley Dantas, Geraldo Mesquita e Joaquim Macedo.

Em 1982, quando o processo de reabertura dava seus primeiros passos, houve as eleições diretas para governador em todo país. No Acre, o vitorioso foi Nabor Júnior, do MDB, coligação que reunia os partidos de oposição e deu origem ao atual PMDB. Assim como 20 anos atrás, a eleição de 82 foi marcada pela polarização entre MDB e Arena (Aliança Renovadora Nacional), sigla de sustentação do regime.

Além disso, Nabor Júnior representava a renovação. “Do ponto de vista político, e do próprio governo, o Nabor Júnior obteve sucesso”, analisa Vinicius. Com uma gestão bem-sucedida, Nabor Júnior não teve dificuldades em eleger seu sucessor, o prefeito de Rio Branco Flaviano Melo.
A eleição de Flaviano representou a ascensão de uma jovem liderança política, mais a manutenção do bi-partidarismo.

A chegada da esquerda no cenário político
Após os quatro anos de governo Flaviano Melo, a eleição de 1990 foi marcada pela participação de partidos de esquerda, que durante a ditadura militar ficaram na clandestinidade. O pleito do início da década passada no Acre simbolizou a entrada do Partido dos Trabalhadores no cenário político.

O PT, então, foi representado pelo desconhecido Jorge Viana. Mas uma vitória dos petistas naqueles tempos era impossível. A sociedade via a esquerda com desconfiança “e como a encarnação do mal na terra”. Apesar de todos os fatores contrários, Jorge Viana conseguiu uma boa votação e foi ao segundo turno com Edmundo Pinto, do PDS.

Mas a vitória ficou com Pinto. Visto como a promessa de mudança e renovação nos rumos políticos acreanos, Edmundo Pinto teve sua trajetória interrompia por um crime até hoje envolto em mistérios. No lugar de Pinto assumiu o vice Romildo Magalhães.

Em 1994 os acreanos voltam às urnas para escolher o novo chefe de Estado. Na disputa surgem como favoritos o ex-prefeito de Cruzeiro do Sul Orleir Cameli, o ex-governador Flaviano Melo e o petista Tião Viana. Dessa feita, o PT não recebe boa votação e o segundo turno fica entre Flaviano e Orleir.
Mesmo já bem conhecido da população, com passagem pelo Rio Branco e mandato de senador, Flaviano perde e Orleir é eleito. O resultado, mais uma vez, confirmou a tendência do eleitorado local, ao escolher Orleir, então com pouca relevância política. Em 1998, após 20 anos de partidos de direita no poder, o PT chega como favorito ao pleito.

O principal motivo para isso era o cenário em que se encontrava o Acre no final dos anos 1990: falido financeira e politicamente, o crime organizado à solta e com as instituições aos frangalhos. Também foi fator preponderante para os petistas o candidato da legenda: Jorge Viana.

Ex-prefeito de Rio Branco, Viana deixou a prefeitura com alto índice de aprovação. A capital é o maior colégio eleitoral do Acre. A eleição de 1998 marcou o favoritismo petista, com os partidos de direita divididos e sem uma liderança, e a ascensão de Jorge Viana.

Apontado como o governo da reconstrução, Viana representou outro momento histórico do Acre: ele foi o primeiro governador reeleito. “Jorge Viana é o único governador a ficar oito anos à frente do Estado”, ressalta o historiador.

Jorge Viana reconstruiu o Acre, o recuperou tanto no campo político como econômico, e não teve dificuldades em eleger seu sucessor, o vice Binho Marques. Fiel militante do PT, Binho passou os dois mandatos de Viana como secretário de Educação e, para a grande maioria dos eleitores, era um desconhecido.

Mas esse fator não influenciou, e Binho substitui Jorge Viana sem dificuldades ainda no primeiro turno. Binho foi escolhido pelo PT para disputar por falta de opções dentro do partido. Como é irmão de Jorge Viana, o senador Tião Viana não podia sucedê-lo. A alternativa era Marina Silva, mas por questões de saúde ela não concorreu.

Sobrou Binho Marques, que manteve a mesma austeridade de seu antecessor. Desde que assumiu o governo, em 2007, Binho deixou claro que não disputaria a reeleição, deixando o caminho aberto ao agora candidato Tião Viana. O posicionamento de Binho deixou evidente que sua eleição foi só um tampão para 2010.

Esse ano o PT chega mais uma vez como favorito e com chances reais de conseguir o quarto mandato com uma vitória folgada. A eleição desse ano tem um marco diferente das outras: Tião Viana já é uma liderança consolidada, e o PT mantém sua hegemonia sem riscos, deixando a oposição em segundo plano. Mudanças à vista? Só o tempo responderá.  

 

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