Ainda não foi desta vez. A terceira colocada nas votações de primeiro turno para a Presidência da República, senadora Marina Silva (PV-AC), até compareceu à reunião de seu partido, mas não revelou quem apoiará no segundo turno, ou mesmo se apoiará alguém. Em entrevista coletiva concedida hoje (quarta, 13) em Brasília, Marina voltou a falar sobre o conjunto de propostas apresentadas aos presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), que disputam a preferência do PV e os votos recebidos pela ex-ministra do Meio Ambiente.
Segundo a senadora, a decisão do partido só será conhecida no próximo domingo (17), quando o partido realizará uma convenção extraordinária para definir o apoio. Marina destacou, no entanto, que a minoria que discordar da posição majoritária estará liberada para a escolha entre Dilma e Serra. “O partido assegura o direito da minoria de manifestar sua posição caso não seja unanimidade. […] Democraticamente, sabiamente, o partido já tem uma cláusula que assegura àqueles que não são maioria manifestarem sua posição.”
Acompanhada pelo presidente nacional do PV, José Luiz Penna, Marina defendeu que a definição do partido no segundo turno deve ser “programática, e não pragmática”. “Estamos utilizando os meios coerentes com os fins a que nos dispusemos, de que o Brasil possa amadurecer e avançar na política. Nós avançamos na área social, na área econômica, e vemos retrocessos na política”, declarou, negando que o PV, que sinalizava apoio a Serra em alguns diretórios regionais, rendeu-se à vontade e ao simbolismo político da ex-ministra.
“Naquela primeira coletiva [depois das votações de domingo], eu dizia que iríamos estabelecer um processo. A direção do partido já estava de pleno acordo com esse processo”, ponderou. “A partir daí nós só fizemos dar curso a um encaminhamento que já estava previamente acordado. Qualquer coisa que tenha sido dita em relação ao partido foram questões inteiramente tiradas do contexto, que já foram esclarecidas”, acrescentou a senadora, em referência às notícias de que o PV estava em franca “rebelião” contra Marina.
Marina respondeu com bom humor a um repórter que quis saber sobre as “consultas internas”, de caráter informal, realizadas pelos núcleos regionais do PV – pesquisas estas que, segundo o interlocutor, apontavam Serra como herdeiro majoritário dos votos da senadora. “Consultas informais estão em cada canto, em cada esquina, em cada rua. Eu mesma peguei um taxi hoje de manhã e o taxista não perdeu tempo: foi logo dando também a opinião dele”, disse, despistando sobre qual teria sido a opinião do motorista.
“A opinião do taxista foi mais no sentido de que ele acha que… é… Ele sinalizou muito mais pelo caminho da independência”, cravou a senadora acreana, provocando risos entre os profissionais de imprensa quando fez a pausa entre uma frase e outra. “A senhora gostou da opinião dele?”, quis saber outro repórter. “Eu estava de olho no taxímetro”, disparou Marina, arrancando ainda mais risadas.
Plataforma
Na autoridade de quem surpreendeu ao receber 19,6 milhões de votos em 3 de outubro, levando a disputa para o segundo turno, Marina fez questão de enfatizar a importância da “plataforma programática” apresentada, na última sexta-feira (8), a Dilma e Serra – intitulada Agenda para um Brasil Sustentável.
“Ambos os candidatos manifestaram o desejo de aprofundar tecnicamente a plataforma, com suas equipes e as nossas. A partir daí, teremos desdobramentos. O bom é que esse processo se inicia e, até o dia 17 [domingo], nós temos um canal de interlocução entre as equipes técnicas e políticas”, festejou Marina, ressaltando o caráter positivo do debate para o “momento democrático” vivido pelo país. “Os temas são abrangentes o suficiente para que os candidatos possam interagir.”
A senadora ressaltou o “nível de comprometimento” entre os grupos partidários, e sublinhou os compromissos “sempre programáticos” do PV, que devem nortear a tendência de apoio. Marina disse ainda que “todo e qualquer encaminhamento seria programático, e não como uma lógica de cargos, de amizade, ou do que quer que seja”. “Isso [fisiologismo] nós rechaçamos completamente, e acho que isso está mais do que claro: qualquer movimentação do partido é por identificação programática, seja para apoio ou para composição de governo”, destacou. (Congresso em foco)