Existe um senso comum da cultura popular chamado Lei de Murphy, muito bem caracterizada pelo adágio “nada é tão ruim que não possa piorar”. A lei origina-se de Edward Murphy, engenheiro e capitão da Força Aérea norte-americana, que, após fracassar num experimento aeroespacial, disse algo como: “Se alguma coisa tem a mais remota chance de dar errado, certamente dará”.
A Lei de Murphy não constata nem explica nada. É somente uma referência jocosa que se faz quando alguma coisa não ocorre como o esperado. É uma forma de jogar com as probabilidades. E sempre ocorre a pior delas. Listam-se várias situações cotidianas de aplicabilidade dessa lei pessimista, todas voltadas para o lado do humor. Por exemplo, quando a fatia de pão cai com a parte da manteiga virada para baixo, isso é atribuído à Lei de Murphy. Tal é o seu fatalismo, que nem adiantaria amarrar o pão no lombo de um gato, colocá-lo de patas para cima e soltá-lo para cair em pé. O lado da manteiga é que vai bater no chão.
Sei que muita gente é vítima da dita lei, no dia a dia. Vou relatar algumas situações vividas por mim. São, certamente, situações rotineiras que já aconteceram com outras pessoas. Vejamos:
Diante de duas filas no supermercado, com apenas um objeto para pagar, escolho a menor e que está andando mais rápido. A opção parece boa, mas, quando está quase chegando a minha vez, há um problema técnico no caixa. Espero, vendo a fila ao lado progredir. Se a tivesse escolhido, já teria sido atendido. Impaciente com a demora, mudo para a outra fila. Em poucos instantes será a minha vez. Na hora que coloco o produto no balcão, acaba o papel do comprovante de compras. Então, a fila da qual saí começa a funcionar. É a Lei de Murphy.
Algo parecido acontece no engarrafamento de trânsito. Se há duas faixas que levam ao mesmo lugar, acho uma brecha e passo para a que segue mais depressa. É justamente aí que ela começa a estancar, enquanto a outra avança. Também no trânsito, se pego um atalho, demoro mais do que se tivesse ido pelo caminho mais longo. E no auge da hora do rush, espero, demoradamente, para entrar na via principal, porque não para de passar carro. Quando para e haveria uma chance de seguir, vem passando uma bicicleta. Depois, volta o fluxo contínuo de carros. Maldita Lei de Murphy!
Já na fila do caixa eletrônico, é curioso como não tenho sorte. Entro na mais curta e, mesmo assim, o último da fila mais longa chega primeiro. É que, sempre na minha frente, tem uma pessoa que retira da bolsa um monte de contas para pagar. Ou é aquele cara que retira o extrato para contemplá-lo ali, parado, em frente ao terminal desocupado. Ou, pior, é aquele que tira do bolso cartões de outras pessoas. Aí vai fazer as operações: ver o saldo de cada um, sacar, fazer transferência… Então, na minha vez, penso: agora só falta ficar fora de sistema. E fica! Como se chama isso? Lei de Murphy!
Além dessas situações comuns, há outras mais específicas. Como o dia em que o meu computador pifou. Levei-o, então, ao conserto. Inexplicavelmente, na frente do técnico, a máquina funcionava perfeitamente. Já em casa, voltava o defeito. Ou como o dia em que, na loja de confecções, não encontrava uma calça jeans que me servisse (se não cabia, ficava folgada). Finalmente, uma serviu, sim, mas era horrorosa. Ou, ainda, quando tinha uma goteira que insistia em pingar no armário de madeira da cozinha. Eu sempre afastava o móvel e evitava os pingos. Porém, quando dava as costas, a goteira mudava também, para cima do armário.
Tentei buscar explicações científicas para esses e outros eventos. Sem sucesso. Não há o que explicar. Agora me limito apenas a citar: é a Lei de Murphy. E nem adianta tentar evitá-la, fugindo para outro lugar ou ficando isolado e escondido em casa. Não há como lutar contra o acaso e o destino. Por isso, o que há de ser, será. Mas estou em guarda, e passado na casca do alho.
*MÁRCIO CHOCOROSQUI