A comitiva acreana que participou da Conferência Internacional sobre Florestas e Mudança Climática realizou uma série de visitas de campo no estado de Sabah, na Malásia. O grupo conheceu, entre os dias 10 e 12 de novembro, áreas de manejo florestal madeireiro de baixo impacto, uma indústria de móveis certificada pelo FSC (Conselho de Manejo Florestal), plantios de palma (ou dendê), uma unidade produtora do óleo de dendê, plantações de seringueiras e uma fábrica de borracha.
Segundo o secretário estadual de floresta, Carlos Ovídio (Resende), as visitas representaram uma importante troca de experiências com o setor florestal da Malásia. “O Acre e o estado de Sabah, têm realidades semelhantes. Podemos fazer uma cooperação técnica na área do manejo florestal, aproveitando nossas tecnologias, e podemos aprender com eles na parte da produção de borracha de florestas plantadas e na cadeia do óleo de palma”, resumiu Resende.
O secretário lembrou que a Malásia tem feito um importante esforço no sentido de adequar seus processos produtivos a parâmetros ambientais, com significativos investimentos na melhoria dos processos. “Por isso estamos propondo a realização de parcerias também no nível comercial, para que possamos, no futuro, pensar em vender nossos produtos no enorme mercado asiático, abrindo possibilidades para que eles nos ajudem também a abastecer o mercado brasileiro”, salientou Resende.
A comitiva acreana visitou uma área florestal pública explorada por meio do sistema de concessão, onde se pratica o manejo madeireiro de baixo impacto. De acordo com o técnico do Departamento de Florestas de Sabah, Khenneth Garon, a atividade madeireira é um fator fundamental para o crescimento do estado, que ainda conta com indicadores sociais críticos. “O manejo sustentável é a única alternativa de desenvolvimento para Sabah sem que fauna, flora e solo sejam afetados”, sentenciou.
O grupo conheceu uma plantação de seringueira (Hevea Brasiliensis), árvore identificada como um dos símbolos do Acre. Apenas no estado de Sabah existem 64 mil hectares do cultivo, beneficiando 18 mil famílias com exportação para 30 países, incluindo o Brasil. O governo estadual mantém um fundo de incentivo à cadeia da borracha, além de deter unidades de processamento, uma das quais foi visitada pela delegação do Acre.
Foram feitas também visitas a uma plantação de palma (Elaeis guineensis), além de uma unidade que produz o óleo de dendê. O secretário estadual de Floresta defendeu a possibilidade de se estabelecer, dentro de rigorosos critérios socioambientais, projetos voltados para o plantio de seringueiras e palma no Acre.
“Temos no Estado 400 mil hectares degradados que poderiam abrigar essas culturas, sem avançarmos um centímetro sobre nossas florestas. Não teríamos o mesmo problema da Malásia, onde a palma e a seringa foram responsáveis pela conversão de áreas florestais, o que ainda acontece em pequena escala”, resume Resende.
A última das visitas técnicas, realizada sexta, 12 de novembro, aconteceu na fábrica de móveis Inspiration, no distrito industrial de Kota Kinabalu, capital do estado de Sabah. A indústria tem o selo FSC, que atesta conformidade com critérios ambientais. Resende reforçou a necessidade de atrair indús-trias para o Acre, uma vez que a saída viária para o Ocea-no Pacífico viabiliza as importações e exportações para o mercado da Ásia.
“Há tanta demanda para produtos com a certificação FSC que países como a Malásia não podem ser vistos como concorrentes do Acre. É preciso pensar na perspectiva de intercâmbios, conforme sugeriu o embaixador brasileiro na Malásia, Sérgio Arruda”, concluiu o secretário de floresta do Acre.
As visitas de campo foram viabilizadas pelo WWF-Malásia, com apoio do Governo do Estado de Sabah. A delegação acreana na Malásia é composta, além do secretário, pelo engenheiro florestal João Paulo Mastrangelo, da Secretaria Estadual de Floresta, e pelo líder do escritório do WWF-Brasil no Acre, Alberto Tavares (Dande). (Bruno Taitson (WWF-Brasil), de Kota Kinabalu, Malásia)