A superintendência local do Instituto Nacional de Colonização Reforma Agrária (Incra) começou a contemplar com assentamentos no Estado as primeiras 58 famílias (ou 227 pessoas) de pequenos agricultores refugiados de áreas fronteiriças na Bolívia. Na manhã de ontem, foram assentadas 20 famílias. Durante hoje (10) e amanhã (11), as demais 38 serão beneficiadas. As famílias estão sendo alocadas no PA Triunfo, próximo a Senador Guiomard, numa área de quase 10 hectares, que comporta 98 lotes com cerca de 40 m2.
O assentamento representa um final feliz para a história sofrida deste grupo de acreanos refugiados. Tratam-se de pequenos produtores agrícolas que moravam há anos (alguns há décadas) nas ‘suas terrinhas’ no país vizinho, vivendo de subsistência. No entanto, na troca para o governo de Evo Morales, há 4 anos, iniciou-se na Bolívia uma nova reforma agrária. Logo, os estrangeiros passaram a sofrer pressões para deixar suas terras, às vezes até com ‘ataques xenofóbicos’ (plantações destruídas, ameaças, casas metralhadas, etc).
De acordo com João Thaumaturgo Neto, superintendente do Incra/AC, o plano de ações para amparar tais famílias já havia sido montado desde abril. Porém, houve atrasos para executá-lo devido a alguns percalços (relações internacionais, achar terras semelhantes as que eles tinham lá, negociação para trazê-los, etc). Segundo gestor, foram elaborados 3 planos de ações. O último só deu certo graças ao acordo lateral entre Brasil e Bolívia.
Superadas as dificuldades, o Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) fez cadastros, o Incra avaliou quais famílias se enquadravam no perfil para serem assentadas e a OIM (Organização Internacional para as Migrações) tratou de definir os meios de transporte. A partir de agora, nas ‘suas’ novas terras, Thaumaturgo conta que as famílias já poderão dar início às produções de galinha caipira, de hortas, de pomares, entre outros ramos de produtos.
“O Incra distribuirá 2 cestas básicas, entre outros benefícios, para ajudá-los a se instalar melhor. E, a partir de janeiro de 2011, será concluída toda rede de encanamento e de fios elétricos, para fornecer energia, água e esgoto de qualidade ao assentamento”, detalha.
O perfil das famílias assentadas
Como já mencionado, as famílias são compostas de pequenos agricultores, todas vindo por vontade própria para sair de uma situação conflitante grave que se instalou na Bolívia. Conforme a OIM, 39 destas famílias vieram de recontagens do Itamaraty e 19 foram registradas pelo Ibama, através do consulado brasileiro. Das 39 do Itamaraty, 17 constavam no cadastro OIM de 2009 e 22 são novas. Das 19 do Ibama/ consulado, 6 estavam no cadastro de 2009 e 13 surgiram como novidades.
Ao todo, as 58 famílias representam 227 pessoas. Destas, 23 são bebês de 1 a 3 anos; 52 são crianças de 4 a 13 anos; e 152 são jovens e adultos de 14 a 70 anos. Elas e seus bens estão sendo trazidos por caminhões, carros, barcos, carretas, entre outros. Todos foram devidamente organizados e cadastrados para não ter riscos de roubos e extravios. Entre algumas quantidades dos bens transportados, estão 178 sacos de roupas, 52 colchões, 60 mobí-lias, 22 fogões, 25 botijas de gás, 26 caixas de ferramentas, 7 eletrodomésticos, etc.