Exatos oito dias após moradores do bairro Preventório terem encontrado o corpo de uma mulher jogado à margem do Rio Acre e amarrado a um saco de pedras, os delegados Ra-fael Costa Pimentel e Celina Ribeiro Coelho da Silva, ambos da Delegacia Especia-lizada de Atendimento à Mulher (Deam), elucidaram o crime chocante e que tinha tudo para entrar no rol dos insolúveis.
O corpo da vítima foi encontrado por pescadores no dia 4 deste mês, à margem do Rio Acre, na região do bairro Preventório. O cadáver da mulher tinha sinais de estrangulamento e um saco de pedras amarrado à cintura.
Sem registro de queixa-crime ou qualquer outro tipo de denúncia por parte dos familiares da vítima, os delegados Celina e Marcos iniciaram investigação infiltrando agentes na comunidade onde o corpo foi encontrado. Somente no dia 6 é que parentes identificaram o corpo como sendo da desempregada Dilma Silva Barbosa, 43 anos, moradora do bairro Preventório, que vivia mais nas ruas do Centro da cidade consumindo drogas.
Jovem de 19 anos também participou do crime
A polícia chegou ao principal suspeito da autoria do crime através do comentário da jovem Liliane Rodrigues Pedrosa, 19 anos, dependente química e moradora de rua. Ela teria contado para várias pessoas que sabia quem teria matado Dilma.
Ao ser levada à Delegacia da Mulher, a jovem surpreendeu os delegados ao afirmar que participou do crime ajudando José Castro a esconder o corpo da vítima na margem do rio e enchendo o saco de pedras.
“Eu fui à casa do Zé Filé fumar cocaína com ele e a Dilma. Quando cheguei, ele estava assustado, daí eu perguntei o que tinha acontecido. Ele disse que tinha feito uma besteira e que estava arrependido. Depois entrou para o quarto. Eu entrei e vi ele enrolando o corpo da Dilma”, detalhou ela.
“O Zé me mandou ficar calada e pagou R$ 50,00 e 3 pedras de crack para eu ajudá-lo a arrastar o corpo até a margem do rio. Depois ele me mandou sair e disse para eu andar na sombra, me ameaçando caso contasse para alguém”, completa.
Delegados: Liliane fala a verdade
Para os delegados, não resta nenhuma dúvida da participação de Liliane no crime de ocultação do cadáver de Dilma.
“Além da confissão da acusada, temos elementos técnicos que comprovam a participação dela na cena do crime, principalmente na ocultação do cadáver da vítima. Ela contou detalhes que somente quem esteve no local saberia como e qual percurso foi seguido da casa até a margem do rio”, disseram.
Acusado nega que Liliane tenha participado do crime
José Castro negou que tenha recebido ajuda de Liliane para levar o corpo da vítima até a margem do Rio Acre. Ele afirmou que matou a mulher sem ajuda de ninguém e que em nenhum momento havia outra pessoa no local do crime.
“Só tava eu e a Dilma. Enforquei ela até a morte. Fiquei até com a minha mão inchada de tanto fazer força apertando o pescoço dela. Conheço a Liliane porque ela é ‘noia-da’ e já usamos droga juntos antes, mas ela não estava lá no dia do crime, nem sabia de nada. Não sei por que ela fica dizendo que me ajudou. Ela não estava lá, ela não sabe de nada”, declarou o acusado.
Sexo, drogas, traição e ciúmes motivaram o crime
Os delegados identificaram e prenderam a dupla José dos Santos Castro, 45 anos, o ‘Zé Filé’, e Liliane Rodrigues Pedrosa, 19 anos, ambos usuários de entorpecentes e moradores do mesmo bairro em que o corpo da vítima foi encontrado.
De acordo com autoridades policiais, a motivação principal para o crime teria sido passional. E tanto os autores da barbárie, quanto a vítima eram usuá-rios de entorpecentes (crack e pasta-base de cocaína).
A polícia descobriu que a vítima e Zé Filé mantinham um relacionamento amoroso. Para ganhar dinheiro, o acusado vigiava carros no Centro da cidade, enquanto Dilma se prostituía na região do antigo Mercado dos Colonos.
Há cerca de 3 meses, José Castro e Dilma Barbosa passaram a viver juntos. Mesmo assim, Dilma ainda fazia programas sexuais com outros homens para garantir o dinheiro da compra dos entorpecentes.
Em depoimento à polícia, o acusado teria confessado o crime, alegando que estrangulou a mulher porque na tarde do dia 2 (Dia dos Finados), ele chegou em casa e não encontrou Dilma por lá.
Horas depois, a mulher chegou embriagada e drogada. Ele teria perguntado onde ela estava e a vítima teria afirmado que estava no barranco fazendo programa sexual com vários homens.
“Matei por ciúmes. Ela chegou em casa melada de esperma de outros homens. Fui chamar a sua atenção porque estava cansado de ser traído e ela passou a me chamar de corno. Fiquei revoltado por que eu comprava crack e pasta-base de cocaína para ela. Ela não precisava me trair, daí a enforquei até matá-la. Em seguida, levei o corpo para a beira do rio e passei a madrugada velando e pescando. No dia seguinte, voltei à noite e velei o corpo dela. Chorei, rezei e pesquei. Fiz isso até encontrarem o corpo”, declarou José.
Segundo o delegado Rafael Pimentel, o acusado teria afirmado que matou a mulher dentro de casa, depois arrastou o corpo até a margem do rio, retornou em casa, onde pegou um saco e o encheu de pedra, e deixou o corpo próximo da água. Toda noite, ele acendia uma vela e velava o corpo da mulher.
“Delegado, eu amava aquela mulher. Até a chamei para morar comigo por pena. Ela me contou que o irmão a tinha estuprado e tentado matá-la. Fiquei com pena e quis lhe dar uma vida melhor. Estou muito arrependido. Tentei ser feliz, mas também não suportei o ciúme de vê-la chegar em casa toda melada de esperma e ainda me chamar de corno”, declarou José Castro.