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Élson Santiago: “falo pouco, mas faço muito”

Depois de entrevistar o deputado estadual Élson Santiago (PP) por mais de uma hora, ficou difícil entender porque ele nunca fez nenhum pronunciamento na tribuna da Aleac. Afinal, foram 24 anos de atuação parlamentar sem nenhum discurso. Na realidade, Santiago gosta de falar e muito, além de demonstrar um profundo conhecimento da política acreana. Inclusive, já colocou seu nome à disposição para a presidência da Casa. “Mas me conformo se ficar na segunda secretaria”, afirmou.
Santiago
Uma história ligada ao PT
Aos 58 anos de idade, Élson Santiago começou a sua carreira política como um dos fundadores do PT acreano. Na época trabalhava na Contag, ajudou a criar diversos sindicatos de trabalhadores rurais no Estado e foi candidato a deputado estadual em 82. O PT elegeu Ivan Melo, ficando o líder sindicalista Chico Mendes na primeira suplência e Élson Santiago na segunda. “Naquela eleição, o meu irmão, Ronnie Von Santiago, também foi candidato a estadual num campo ideológico absolutamente contrário ao meu”, lembra.

A primeira vitória aconteceu em 86. “Na época, o ex-deputado federal João Maia me convidou para entrar no PMDB. Como era discípulo dele o acompanhei e acabei sendo eleito”, conta. Na década de 90, todos os irmãos Santiago resolveram arriscar na disputa eleitoral. Carlinhos foi eleito vereador, Ronnie Von deputado federal e Élson continuou a sua jornada de reeleições para a Aleac. “Ficamos os três irmãos com mandato”, recorda.

O parlamentar lembra ainda do momento em que resolveu apoiar a Frente Popular. “Em 1994, mudei para o PPR, hoje PP. Em 2002, ingressei nas fileiras da FPA a convite do governador Jorge Viana (PT). Fui para o PMN, onde me reelegi e, no ano passado, retornei ao PP porque não quis acompanhar o deputado federal Sérgio Petecão (PMN/AC) à oposição. Eu estava ligado ao projeto da FPA e não iria trair as minhas convicções”, justificou.

Sétimo mandato
A pergunta obvia para Élson Santiago é como ele conseguiu um sétimo mandato sem nunca ter ocupado a tribuna da Aleac. “Sou aquele cara que fala pouco, mas age muito. Tenho um trabalho de base muito bom. Nas minhas reuniões, que faço durante a campanha, sempre volto agradecendo. Costumo passar os 4 anos fazendo visitas às famílias e, nesses 24 anos de mandato, deu para ajudar muita gente. Isso é que marca. Além da minha própria família me ajudar muito. O simples fato de se retornar à casa de alguém para agradecer e estabelecer o contato permanente marca muito. A pessoa acaba criando um vínculo com o mandato. Faço isso várias vezes durante os 4 anos”, revelou.

Transformações do Acre
Com a sua experiência que passa por várias fases políticas no Estado, Élson Santiago faz questão de ressaltar o trabalho da FPA. “Ajudei a criar o PT, mas lá na frente passei a ser contra o PT quando fui para o PPR. Quando ganhei a eleição de 2002 fui convidado pelo Jorge Viana. Resolvi aceitar porque o melhor partido para a gente é o Acre. Quando vi que eles estavam fazendo um trabalho muito bom e o Estado já tinha mudado resolvi ajudar o Jorge Viana. Foi um reconhecimento pelo trabalho que eles fizeram. A gente não pode pensar em partido, mas no Acre. Hoje defendo a FPA que transformou o Acre. Atualmente tenho prazer em dizer que sou acreano e de trazer os amigos de fora para mostrar a Capital que antes era uma vergonha. Antigamente quando eu saía de férias me dava uma tristeza imensa de voltar. Era um lugar feio e sem vida. O Acre mudou demais com o PT e acho que o nosso amigo Tião Viana (PT) está pegando o governo com uma responsabilidade muito grande. A oposição teve muitos votos”, elogiou.

Injustiça
Indagado sobre a avaliação do mais recente pleito eleitoral, o deputado coça a cabeça, pensa um pouco e responde: “hoje tenho vergonha do Lula porque ele não merecia perder aqui. Tem horas que fico me perguntando o que aconteceu. Não tem motivo nenhum para esse resultado. O Lula investiu muito aqui e o Acre é um outro lugar porque cresceu. A gente deve muito ao Lula e acho que foi até uma ingratidão. A Dilma (PT) era para ter ganho no Acre e pior ainda é ver a derrota vexatória da Marina Silva (PV) no Estado. Nem ganhou a Marina e nem a Dilma. Acabou ganhando o Serra, que não tem nenhuma identificação com a gente”, protestou.

Élson garante que durante a sua campanha não teve nenhuma pista deste descontentamento popular manifesto nas urnas. “Para mim, tudo isso foi uma surpresa. Durante a campanha eu fazia uma média de 10 reuniões por dia e conversava com muita gente. Não sentia nada disso. Quando falava no nome do Tião todo mundo concordava e eu achava que ele teria mais de 60% dos votos. Pouco tempo depois, veio aquele resultado”, revelou.

A mística do silêncio
Questionado pelas reais razões de não querer expressar seus pontos de vistas publicamente na Aleac, Santiago, contemporizou. “Isso já virou uma tradição, uma mística de que o deputado Élson Santiago não fala. Foi passando, passando e fui deixando passar. Hoje se eu for para a tribuna para falar vai quebrar essa mística. Como já estou com 24 anos de mandato e vou passar mais quatro anos não posso nem pensar em quebrar esse tabu. Acho que tenho que ir até o final desse jeito. Devo parar nesse sétimo mandato, mas se usar a tribuna vai ser uma surpresa tão grande que prefiro deixar para lá”, contou.

Mas então como acontece a atuação do parlamentar? Élson se revela um articulador político de pé do ouvido. “O próprio Edvaldo Magalhães (PCdoB) sempre diz que o Santiago é aquele cara que sabe conversar com os deputados. Tudo aquilo que quero apresentar vou de um a um defendendo meus pontos de vista. Tenho um relacionamento muito bom com os 23 deputados que me respeitam muito e assim a gente resolve tudo sem maiores problemas”, garante.

Eleição da mesa diretora
Atualmente segundo secretário da Aleac, Élson Santiago, não esconde o seu desejo de permanecer ajudando na direção dos trabalhos da Casa. “Estava conversando ontem na sessão que tinha quatro candidatos à presidência: o Moisés Diniz (PCdoB), o Hélder Paiva (PR), o Luiz Tchê (PDT) e o quarto é o Santiago. Mas quem está brigando mesmo são os outros três. Hoje faço parte da mesa diretora, tenho ajudado muito o Edvaldo e sempre falo que estou aí. Não vou dizer que quero, mas se disserem que deve ser eu vou aceitar. Mas na realidade vou brigar ao mesmo tempo pelo cargo que já ocupo. Só serei presidente se for um consenso”, explicou.

Depois da resposta vem o questionamento. Como ser presidente de uma casa legislativa sem falar? A resposta de Élson Santiago é rápida: “mas eu falo mano véio! Tanto que estou falando com você. Essa história de falar é porque não gosto de ficar dando entrevistas e aparecendo em jornais e televisões. Mas se tiver que falar vou falar. Um cara que consegue chegar ao sétimo mandato sem falar é porque tem algum conhecimento. Todos ali tem o direito de querer ser o presidente. Todos foram fiéis a FPA. O Hélder já tem cinco mandato e sempre foi aquele cara pronto a ajudar, o Moisés foi um excelente líder do governo fazendo uma defesa qualificada. Mesmo o Tchê foi um deputado muito ativo na atual legislatura. Mas entre os três não vou dizer quem vou escolher porque os três merecem. Mas acho que isso a gente só resolve lá aos 44 minutos do segundo tempo no final de janeiro. Vamos sentar e chegaremos ao consenso”, argumentou.

Outra questão sobre a eleição na Aleac é relativa à participação do governador eleito no processo. “O Tião é peça fundamental nessa história. Mas creio que ele vai ouvir todo mundo e não vai dizer não para ninguém. Deve esperar a maneira como a gente vai se manifestar para chegar a uma conclusão. Ele vai decidir de acordo com a nossa articulação e não vai impor um candidato. Acho que o papel dele é garantir o consenso. O próprio Edvaldo deverá participar dessa articulação”, explicou.

Avaliação da atual legislatura
Como um dos principais aliados do atual presidente Edvaldo Magalhães, Santiago, acha que a atual legislatura foi a melhor das quais participou. “Houve um avanço muito grande a começar pela mesa diretora. Mas o Edvaldo foi muito feliz na maneira de conduzir a Aleac. O nosso poder legislativo tem outra cara inclusive no seu espaço físico. A nossa imagem de parlamentar mudou também junto à sociedade. Não tivemos nenhum tipo de escândalo nesses quatro anos. A oposição valorizou muito a nossa atuação. Pena que a gente perdeu o Luiz Calixto (PSL), o N. Lima (DEM), a Idalina Onofre (PPS) e o Donald Fernandes (PSDB). Numa Assembléia produtiva o papel da oposição é muito importante e coerente como é atualmente. Sempre digo que o parlamento do Acre perdeu muito com a saída desses opositores”, argumentou.

Indagado sobre como deveria ser a próxima legislatura, Santiago, responde: “é preciso dar prosseguimento ao trabalho que a gente vem fazendo. Toda a matéria que colocamos em votação procuramos chamar a oposição para dialogar. O nosso entendimento é muito bom e deve continuar. Estou com 24 anos de parlamento e tenho certeza que na atual legislatura mudamos muito para melhor”, finalizou.

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