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Política é como nuvens

A frase celebre do ex-governador mineiro, Magalhães Pinto: “a política é como nuvens que a gente olha está de um jeito e olha de novo já está de outro”, se aplica perfeitamente ao quadro político acreano pós-eleitoral. Antes de começar a campanha era unanime a tese de que Tião Viana (PT) daria um passeio tranqüilo pelas urnas. Um currículo político invejável. Reeleito ao Senado, em 2006, com mais de 80% dos votos, duas vezes vice-presidente, líder do PT, presidente interino numa das piores crises da história da Casa e candidato à presidência numa disputa acirrada com José Sarney (PMDB/AP) que mobilizou a mídia nacional. Parecia que a eleição de Tião Viana ao governo do Acre seria mais uma homologação.
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No entanto, as nuvens se moveram durante os três meses de campanha e a diferença da sua vitória contra o ex-prefeito de Acrelândia Tião Bocalom(PSDB) não ultrapassou 1%. Não há como comparar os currículos dos dois candidatos. Mas os eleitores resolveram demonstrar as suas insatisfações e a eleição quase foi para um surpreendente segundo turno ou uma vitória do tucano. Se algum analista político tivesse sugerido o quadro que realmente aconteceu teria sido chamado de louco. Mas as nuvens são implacáveis nos seus movimentos naturais. 

O fato é que os eleitores acreanos estão ficando cada vez mais exigentes. Nem o mais radical oposi-cionista negaria a revolução que o ex-governador e senador eleito Jorge Viana (PT) fez no Estado durante os seus oito anos de mandato. Uma transformação profunda que afetou todas as áreas da vida social acreana. Aliás, acho que a principal delas foi devolver a auto-estima à população. Mas com isso veio a reboque uma conseqüência inesperada: o aumento das expectativas das pessoas. Todos descobriram que poderiam mais e queriam muito mais. A auto-estima elevada fulminou o comodismo e aumentou o grau de politização do povo no Estado mais ocidental do país.

Paralelo a esse fato, o governo bem-sucedido do presidente Lula (PT) também contribuiu para um aumento das expectativas sociais. Todo mundo se acostumou com o que é bom, mas também pôde ver que é possível avançar ainda mais. Nesse sentido, acho que personagens políticos como Jorge Viana e Lula prestaram serviços inestimáveis para a evolução social dos brasileiros. Quem ainda no calor da batalha eleitoral não quiser compreender esse fato verá o registro desses recentes acontecimentos como de fundamental importância para a história contemporânea brasileira no futuro.

Se o governador eleito Tião Viana quiser afastar as nuvens negras, na minha opinião, terá que empenhar para cumprir três promessas de campanha. Pavimentar todas as ruas das cidades acreanas, iniciar um processo concreto de industrialização do Estado com geração de empregos e resolver o problema da saúde pública. Sendo bem sucedido nessa empreitada se credencia para um novo governo em 2014.  

O papel da oposição
Por outro lado, quando se comentava nos quatro cantos do Acre sobre a fragilidade da oposição veio à surpresa. Sérgio Petecão (PMN), que já foi um dos principais quadros da Frente Popular, conseguiu se eleger senador com uma votação expressiva. Derrotou nas urnas Edvaldo Magalhães (PCdoB) que fez uma das melhores gestões da história da Assembléia Legislativa Acreana. O candidato a deputado federal, Márcio Bittar (PSDB), conseguiu ser o segundo mais votado em termos percentuais do país. O ex-governador, prefeito da Capital e senador, Flaviano Melo (PMDB) dobrou a sua votação à reeleição para a Câmara Federal. Assim conseguiram cacifar o desempenho oposicionista nas eleições 2010.

Com um senador, três deputados federais e várias prefeituras acreanas a oposição ganha novos contornos. Se souber trilhar também os caminhos da preparação técnica de gestão, que ainda lhe falta, poderá ter um desempenho importante nas próximas eleições municipais de 2012. A oposição conseguiu consolidar nomes importantes tanto para a disputa municipal quando a governamental de 2014.

A corrida à Prefeitura de Rio Branco
Como no Acre política é assunto popular, mal acabou a eleição e já se especula sobre quem será o novo prefeito da Capital. Na oposição dois nomes despontam com clareza: Márcio Bittar e Tião Bocalom. Mas acredito que poderão haver outros candidatos, inclusive, um do PMDB como desejam os seus militantes. Numa eleição em dois turnos não tem sentido polarizar logo no primeiro.

Na FPA aparece o nome do atual governador Binho Marques (PT) e da deputada federal Perpétua Almeida (PCdoB). Tem gente que diz que o Léo do PT teria chance de ser indicado. Mas não acredito até mesmo pela lição das urnas que ficou na eleição 2010. Quem poderia ser cogitado se conseguir um desempenho convincente na Aleac seria Eduardo Farias (PCdoB), vice do atual prefeito Raimundo Angelim (PT). Mas aposto as minhas fichas nos dois primeiros nomes citados.

Disputa no interior acreano
Claro que depois de Rio Branco a prefeitura mais disputada será a de Cruzeiro do Sul. Um sonho da FPA que nunca se concretizou. No entanto, foi à região do Juruá que de certa forma garantiu a eleição de Tião Viana. Um governo estadual bem sucedido nos próximos dois anos poderá fortalecer alguma liderança na cidade. Mas no momento me parece difícil conseguir bater o atual prefeito Wagner Sales (PMDB).

Mesmo que haja descontentamentos nas elites empresariais de Cruzeiro do Sul, vale lembrar, que Wagner Sales faz política 24 horas por dia. Qualquer candidato entrará na corrida com um atraso de pelo menos três anos. Além disso, com a aquisição de uma máquina de asfalto de uma emenda do deputado Flaviano Melo, o prefeito de Cruzeiro do Sul poderá intensificar ainda mais a sua pré-campanha pavimentando e abrindo ruas na cidade. A sua esposa, deputada estadual Antonia Sales (PMDB), é uma personagem constante na zona rural do município. Portanto, Wagner Sales é fortíssimo candidato à reeleição.

Por outro lado, os nomes que amigos de Cruzeiro do Sul me apresentaram da FPA como possíveis candidatos não me parecem ter cacife suficiente para reverter à tendência eleitoral do município. Enfermeiro Marcelo (PT), o ex-vereador Neto Gontran (PT) e o empresário Zinho (PP). Só o atual vice-governador, César Messias (PP), teria gás suficiente para enfrentar o atual prefeito nas urnas. Nesse caso, teríamos uma disputa verdadeiramente acirrada.

Movimento das nuvens
Mas a reflexão mais importante é que certamente o quadro de 2012 será muito diferente do atual. Não adianta ninguém se firmar na vitória do Serra (PSDB) no Acre e no bom desempenho geral da oposição. A próxima eleição será um reflexo daquilo que a presidente Dilma (PT), o governador Tião Viana (PT) e os parlamentares da FPA e da oposição apresentarem à população. Até lá as nuvens se moverão novamente criando novos personagens à política acreana. Portanto, chegou a hora dos nossos políticos arregaçarem as mangas e trabalharem porque as mensagens das urnas eleitorais são implacáveis com os sonolentos.  
      

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