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Tião Viana: “Acre foi injusto com o presidente Lula”

Aparentando muita serenidade, o governador eleito Tião Viana (PT) conversou ontem com A GAZETA. Ele analisou os resultados eleitorais do segundo turno presidencial no Brasil e no Acre. Na entrevista, que aconteceu antes de uma reunião com representantes de todos partidos que compõem a Frente Popular, Tião também falou da transição governamental. Garantiu que todas as agremiações aliadas serão contempladas na sua gestão através de aspectos políticos e técnicos e que anunciará o seu secretariado de governo no dia 18 de dezembro.

Leitura das urnas  
O governador eleito preferiu comentar primeiro o significado da vitória de Dilma Rousseff (PT) no plano nacional. “O momento é de alegria com a vitória da Dilma porque o povo brasileiro soube reconhecer o grande personagem que o Brasil teve, que foi o presidente Lula. O homem que devolveu a esperança para a população e trouxe a autoconfiança em relação ao seu próprio futuro. Mostrou ser possível construir uma grande nação que possa refletir fantásticos indicadores para o mundo inteiro associados aos melhores valores da vida de uma nação. Respeito ao meio-ambiente, distribuição de renda, justiça social, liberdade política e democrática e um projeto de desenvolvimento à altura do século XXI”, comemorou.

Mas Tião Viana não escondeu a sua frustração com a vitória de Serra (PSDB), com 69% dos votos válidos, no Estado.  “No caso do Acre tivemos uma votação contrária ao projeto nacional do presidente Lula e da Dilma, que nós da FPA fazemos parte. O resultado de uma eleição tem que ser analisado com muita humildade por quem é democrata. É preciso acatar a decisão do eleitor. Mas, no meu conceito, houve uma grande injustiça ao Lula, à sua história e ao projeto nacional que ele construiu com a gente no Acre. Ele foi destacadamente o presidente que mais ajudou o Acre, mas não foi reconhecido na hora do voto por isso”, analisou.

O governador eleito demonstrou não entender as razões da vitória do tucano. “O Serra sempre foi indiferente aos interesses do Acre e teve a votação que teve.

Agora, ao democrata compete à tranqüilidade de saber que as urnas expressam algumas mensagens, mesmo que uma delas seja de injustiça. Mas outras merecem reflexão porque temos um projeto instalado e algumas reorientações devem ser feitas com serenidade e muita maturidade política para que, na próxima eleição presidencial, a gente venha a ter a reconquista do eleitorado para o nosso projeto”, argumentou.

Ao invés de se lamentar, Tião Viana prefere ressaltar a vitória regional. “No plano estadual nós fomos vitoriosos. Elegemos o governador, um senador, cinco deputados federais e 16 estaduais e ganhamos em 12 dos 22 municípios acreanos. Isso é um alento para nós. Mas desta eleição ficou um sinal de alerta como se no semáforo o amarelo estivesse aceso para que reavaliemos a relação entre cidadãos e agentes públicos para que a gente possa acertar. É um aviso natural da vida política. O PT já viveu isso, e o próprio presidente Lula também”, avaliou.

Contradições em outros estados
No entanto, Tião Viana, observou discrepâncias nos resultados eleitorais de outros estados brasileiros. “Essa eleição foi muito atípica. No Rio Grande do Sul o Tarso Genro (PT) ganhou o governo no primeiro turno e o Serra foi o mais votado. Em Minas Gerais a Dilma ganhou na terra em que o Aécio Neves (PSDB) foi o campeão de votos. No Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Rondônia também aconteceram comportamentos eleitorais inexplicáveis. Por isso, é preciso observar o comportamento do eleitorado no plano nacional e ter tranqüilidade para interpretar e, ao mesmo tempo, buscar os novos pontos de encontro à reflexão que redundem na confiança do eleitor no projeto que se defende”, argumentou.

Indagado sobre Feijó, o único município acreano onde Dilma foi vitoriosa, que é governado pelo PSDB, Tião ponderou: “não faço política procurando culpados por ser uma maneira menos inteligente. É fato que a crise econômica de 2008 e 2009 trouxe um grave sacrifício para a política de obras e para a gestão em todas as prefeituras brasileiras que se refletiu, inclusive, no Acre. Algumas prefeituras ficaram acomodadas e fechadas em si mesmo. Nesse caso, também é preciso fazer reflexões para uma reorientação muito importante nessa hora da política. Foram dadas respostas para a intolerância intensa dos desvios de conduta e a incoerência”, explicou.

Dilma e a garantia de recursos para o Acre
O questionamento que ficou para parte da população se refere a uma possível retaliação da nova presidente aos estados onde perdeu a eleição. Tião Viana respondeu de maneira objetiva: “não houve, na minha opinião, justiça do voto em relação ao que o Lula fez pelo Acre. Temos um Estado completamente dependente do financiamento público federal, embora tenha avançado demais nos governos da FPA. Temos as gestões do Jorge Viana (PT) e do Binho Marques (PT) como grandes governos na prestação de serviço à sociedade e às mudanças dos indicadores do Acre. Mas temos, ainda, enormes desafios pela frente como a BR-364, a industrialização e o financiamento de políticas de produção à altura da necessidade da população. Além dos desafios estratégicos, como o acesso aos mercados consumidores asiáticos, integração regional e outras políticas de ciência e tecnologia associadas”, relatou.

O governador eleito admite que o resultado possa trazer problemas. “Evidentemente que vamos ter algumas dificuldades a mais do que se o Acre tivesse dado um belo exemplo de votação e reconhecimento ao significado histórico do Lula para nós e nas ajudas tão substanciais que nos deu. Vão olhar e dizer: ‘puxa a gente luta tanto pelo Acre e não há um voto de reconhecimento’. Agora, isso faz parte da natureza de uma eleição em qualquer lugar do mundo. Nós construímos uma relação que é maior do que eleitoral com o projeto nacional do PT. A Dilma tem muito respeito pela história política que nós desenvolvemos, tanto nos governos, como no Senado. Esse é um caminho de uma relação onde a gente possa explicar e refletir friamente sem emoção sobre as razões que levaram a esse resultado eleitoral desfavorável e ao mesmo tempo à superação dos obstáculos de interpretação”, ponderou.

Para Tião Viana, os obstáculos serão superados com o tempo. “Como seguramente o senador Aécio Neves vai refletir como é que não conseguiu dar uma votação pró-Serra em Minas. Vai ficar alguma dificuldade na relação, mas isso é superado pela maturidade política. Não quer dizer em nada que o cenário eleitoral daqui a dois anos seja o mesmo. É apenas um sinal que nesse momento nós temos que rever alguns itens da nossa relação com a população. Só não podemos transferir a culpa ao eleitor que simboliza uma parte do momento histórico que tem que ser tratado com muita tranqüilidade”, ratificou.

Transição e secretariado
Já com a transição governamental em cursos, Tião Via-na, explicou o processo. “Nós temos três momentos. O primeiro é a equipe de transição, o outro a equipe que vai finalizar o trabalho do plano de governo e a formação do secretariado. Isso envolve as cinco áreas estratégicas do governo,  saúde, segurança pública, infra-estrutura e desenvolvimento sustentável, gestão pública e desenvolvimento so-cial. As equipes que estou escolhendo têm um perfil técnico e político e vão recolher informações do atual governo. Terão também o dever de suscitar novos desafios das políticas públicas que o Acre vai desenvolver. Elas irão se encontrar para transformarem as propostas nas diretrizes do governo. Além disso, no dia 18 de dezembro vou apresentar à sociedade do Acre a nova equipe de secretários”, afirmou.

Distribuição técnica e política
Como um parlamentar experiente, Tião Viana, está construindo um governo que possa fortalecer a unidade da FPA. “Todos os partidos que nos elegeram vão indicar membros para a equipe. Cada um vai indicar três e vou fazer a escolha de um. Muitos dos técnicos que serão chamados por mim virão com vínculos partidários ou não. Isso significa que nessa representação partidária estarão vários dos secretários que vão compor o novo governo contemplando sempre o aspecto técnico e político. É uma marca que trago do parlamento para o fortalecimento da relação partidária sem abrir mão dos aspectos técnicos”, ressaltou.

Antes de encerrar a entrevista, Tião Viana, fez questão de ressaltar alguns aspectos. “O saldo do momento histórico do Estado é muito bom. Temos que buscar o voto cada vez mais associado ao que há de melhor. A estabilidade que tivemos com o presidente Lula teremos também com a Dilma. O desafio com o Pré-Sal que será um movimento econômico e estratégico mais audacioso do mundo que vai redundar em riquezas aos estados. A Dilma conhece a fundo essa questão e poderá nos ajudar além daquilo que se está imaginando. Por isso, é importante veicular ao eleitor à informação e a reflexão partidária. Inclusive, aproveito para cumprimentar o editorial de A GAZETA de três semanas atrás que reconheceu a importância do voto de apoio ao projeto político nacional que hoje olha tão bem para o Acre”, finalizou. 

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