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Daqui a 200 anos

zuenir-ventura-divÉ inevitável, a época é de balanços. E desta vez, além do balanço do ano e da década, há o da Era Lula, que também está no fim – e os três se confundem, pois abrangem quase o mesmo período. Para início de conversa, considero que o ano, a década e os oito anos de Lula foram mais de progresso do que de retrocesso. Apesar dos pesares, o país melhorou, embora devesse ter melhorado mais. Como sou otimista e não gosto de saudosismo, acho sempre que o presente é melhor do que o passado e pior do que o futuro.

 Sei que estou fora de moda. Depois de abandonar os velhos ismos – fascismo, comunismo – tende-se agora, em tempos pós-modernos, a contemplar os novos ismos: pessimismo, ceticismo, niilismo. O “in” é dizer que está tudo ruim, que nada presta e que o mundo vai acabar, se é que já não acabou. O pessimista, como se sabe, termina torcendo para ter razão. 

Quanto às avaliações de Lula, elas são tão polêmicas quanto polêmico foi o seu governo. Para uns, o saldo foi positivo, com ênfase no que houve de melhor – crescimento econômico, inclusão social, ascensão das classes C e D – minimizando o que houve de pior: corrupção, escândalos, nepotismo. Pa-ra outros, esses aspectos negativos bastam para anular os avanços e conquistas. Não faltam números e argumentos para sustentar uma ou outra posição. Reclama-se do que ele deixou de fazer em educação, saúde e saneamento ou destaca-se o que fez em cada uma dessas áreas, ainda que de maneira insuficiente. Como em todas as análises próximas aos acontecimentos, fatores emocionais e ideológicos dificultam a isenção. 

Quando pediram ao líder chinês Den Xiaoping, criador do socialismo de mercado, sua opinião sobre a Revolução Francesa, ele respondeu que era muito cedo: “Afinal, são apenas 200 anos”. Mas para nós, jornalistas, que não podemos esperar e temos que fazer tudo no calor da hora, as conclusões são provisórias e dependem da confirmação do tempo. No caso, porém, uma coisa pode-se adiantar.

Com 83% de aprovação, Lula é certamente o presidente mais querido que o Brasil republicano já teve. Dificilmente se fará uma lista dos mais populares sem incluí-lo, ao lado de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. Com uma diferença: Vargas foi ditador e JK, apesar de cancelar a censura prévia, proibiu o acesso de Carlos Lacerda ao rádio. Já Lula pode ter tido vontade, mas não sucumbiu à tentação do arrocho. Falou mal da imprensa, brigou com jornalistas, mas não censurou. Se sua popularidade se deve ao simples carisma ou ao real desempenho, é outra polêmica sem fim.

Estou curioso para saber como a História o tratará, o que os historiadores vão dizer dele daqui a 200 anos. Não vejo chegar a hora. 

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