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O problema dos finais de ano é o esquecimento

Não há época melhor do que o final de ano. Há de se convir, leitor, nada se compara ao Natal e a Virada do Ano! Reunir a família, enfeitar a casa, trocar presentes, soltar fogos e fazer ceias fartas. E como se nada mais importasse. E, para muitos, nada mais importa mesmo. E justo daí que surge o único problema destas datas: se esquecer que o mundo volta a girar após as festividades. Na verdade, ele nem sequer chega a parar.

O fim de ano é sinônimo de confraternização, mas muitos ainda confundem as coisas e deixam o seu ritmo funcional ir para o espaço. Tudo acaba nos famosos: ‘vou trabalhar só para bater o ponto e ir embora’, ou ‘vou enforcar com o feriadão’ ou o mais clássico ‘deixa aí que em janeiro eu resolvo isso’, No fim, as soluções de coisas importantes são adiadas e problemas tornam-se maiores, como uma bola de neve ladeira abaixo.

Duvida? Então responda rápido: será que os índios acreanos doentes da Casai que lutam pelo direito de ter um sistema de saúde melhor terão uma boa ceia de Ano Novo? E que tal os mais de 1.100 rio-branquenses com dengue por semana que lotam hospitais porque os seus vizinhos não conseguem tomar cuidados simples como fechar suas caixas d’ água? Ou, ainda, os acreanos que votaram, mas só terão o seu horário de volta em fevereiro?

Quer mais: e os manifestantes que fecharam a AC-40 ontem com medo de ficarem isolados?  E as famílias de todas estas vítimas de acidentes, assaltos e agressões só neste feriadão – ou carnificina – de Natal?  

Pois é, não é para todo mundo que o Natal e Ano Novo são tão sinônimos assim de ‘boas festas’! E o pior é que esse marasmo todo de esquecimento ainda engloba a carência de uma parcela necessitada da sociedade (que, muitas vez, fica ainda mais invisível diante da alegria do Natal) e dos fatos que se sucederam no ano. Não importa se são bons ou ruins, no fim de ano ninguém dá a mínima para tudo o que aconteceu em 2010, salvo os que assistem retrospectivos na TV (e se esquecem do que viram no dia seguinte).

São poucos os que sabem tirar lições das dificuldades sociais que o Acre enfrenta. De fato, é por isso que tantos deles voltam a se repetir com uma freqüência cada vez maior (nem precisa ficar citando exemplos, você já sabe! Afinal, é só contar os surtos de dengue, os protestos de índios por ‘abandono’, os finais de semana catastróficos do trânsito, etc).

Portanto, nunca deixe de aproveitar o Natal e Ano Novo. Contudo, também não esqueça que, enquanto cidadão integrado a uma sociedade (especialmente uma como a acreana), você tem o dever de cumprir o seu papel social e cobrar para que os seus próximos não se esqueçam de fazer o deles. Esquecer o que é importante só prolonga o drama de muitos!

* Tiago Martinello é jornalista.

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