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Natal Xavier afirma que deixará a presidência do Rio Branco FC

Restando pouco mais de um ano de seu mandado à frente da presidência do Rio Branco FC, clube de maior torcida no Estado, o empresário acreano do setor de segurança, Natalino Xa-vier da Silveira, 56, se sente injustiçado por parte da torcida e afirma que deixará o cargo assim que sanar as dívidas contraídas na disputa da série C, algo estimado em R$ 164 mil.
Natal-xavier
Casado com Ana Maria e pai de três filhos – Raul Marcel (engenheiro Civil), Renato Marcel (bacharel em Direito), Nauana (fonoaudióloga) – e avô da pequena Geovane, Natal Xavier se diz injustiçado por alguns torcedores e afirma que sacrificou muito pelo sucesso do Rio Branco. “É bom que lembrem que o presidente não recebe nada”, desabafou.
O certo é que na Copa do Brasil, Natal ainda deve estar no cargo, onde espera sanar a dívida junto ao banco, onde o clube pegou empréstimo para honrar jogadores e comissão técnica. Com patrimônio que lhe rende em torno de R$ 34 mil mensais, porém só com encargos, salários e manutenção, afirma restar apenas entre R$ 10 mil a R$ 14 mil. “É preciso sacrificar a Copa do Brasil e o Estadual para, depois, o Rio Branco não ser sacrificado”, disse.

Confira a entrevista com o presidente do representante acreano na série C do Campeonato Brasileiro

A Gazeta – Afirmaram que vai abandonar o Rio Branco FC. Até onde é verdade?
Natal Xavier
– Existe verdade. Em plena competição da série C, quando o Rio Branco reagiu, na segunda fase, mesmo assim estava com o intuito de deixar a presidência. Mas, infelizmente, não estou conseguindo. No caso de renúncia, não posso deixar dívida para o Rio Branco. Não tenho esse direito. Então vou ficar amarrado no Rio Branco até quando puder quitar as dívidas para sair.

A Gazeta – Quando foi que decidiu de vez que iria deixar a presidência? Qual o principal motivo para decidir sair?
Natal Xavier
– Tem muitos fatores. É uma somatória de fatores. O desgaste à minha insistência de levar o Rio Branco para a série B, já há quatro anos estou na série C e não consigo. É desgastante… O próprio comprometimento das pessoas dizendo que vai ajudar e acabam não ajudando. E o pior é que sai uma conotação para a imprensa afirmando que o Rio Branco está sendo muito ajudado e na verdade não está. O pior é que no caso de fracasso sobra para o presidente do Rio Branco, enquanto o sucesso sobra para os outros… Isso aí é que me desgasta muito. Tem outros fatores. A minha vontade era deixar o Rio Branco o mais breve possível para, na Copa do Brasil, tivesse outro presidente. O tempo está muito curto e é claro que não vou conseguir.

Até hoje ainda não consegui sentar de vez com o Governo. Houve um planejamento feito dentro da Secretaria de Esportes e ele furou. Por isso acho justo que o secretário de Esportes (Cassiano Marques) ajude o Rio Branco. O clube não pode arcar com esse ônus que, queira ou não queira, para o Rio Branco FC, um time que paga suas contas, hoje para honrar as dívidas vou ter que sacrificar o Estrelão no futuro.

Tenho minha consciência limpa que quando pagar as contas contraídas no clube, deixo a presidência do Rio Branco, mas só saio quando tiver tudo quitado. Com todas as certidões na mão. Aí, sim, será hora de sair.

A Gazeta – Fechando a série C, qual a dívida herdada na competição?
Natal Xavier
– O planejamento para arrecadação do Rio Branco foi em torno de R$ 970 mil, mas arrecadamos apenas R$ 570 mil. Você lembra que em plena competição, agi com mão de ferro, tanto na parte técnica, como econômica, tive que cortar no Rio Branco FC. Naquela época já previa que terminaríamos a competição com déficit. Ainda bem que tive a felicidade de trocar a comissão técnica por uma mais barata, inclusive deu mais sucesso, e consegui reduzir a folha de pagamento do clube.
Acabou a competição todos os jogadores foram pagos. Rescindidos os contratos de todos, foram embora. Não se tem notícia que o Rio Branco deve ninguém. Mas o Rio Branco deve o banco, pois diferente de outros clubes, ele tem crédito. É muito fácil chegar nos bancos e pegar dinheiro para pagar os jogadores, pois é melhor dever o banco que dever jogadores, pais de família.

Precisamos de um ajuste nas contabilidades do Rio Branco para poder sanar as dívidas.

A Gazeta – Por três vezes o Rio Branco FC bateu na trave para subir para a série B. O que faltou?
Natal Xavier
– O que faltou não sei. Teve um ano que a gente montou um time faltando 15 dias para o início da série e batemos na trave. Planejamento, mais que este ano não teve. Começamos o planejamento ainda no ano passado, junto com a comissão técnica. Trouxemos jogadores que extrapolaram o teto salarial do Rio Branco, fizemos mil planejamentos e acabou dando tudo errado. Foi o pior ano, pelo menos na primeira fase, porque na segunda, quando demiti jogadores e a comissão técnica, fomos a segunda melhor equipe de toda a série C.

Então não sei o que faltou. É futebol. O jogador no dia tem que estar inspirado e as vezes acontece. Teve o lance do pênalti do Testinha, no outro ano teve a bola pegando efeito, do Juliano (César) e a bola não querer entrar. Não sei o que faltou, são coisas do futebol. E é por isso que ele é apaixonante, porque ele não tem justificativa. Futebol não é um esporte lógico. Por isso não sei o que faltou.

A Gazeta – Teve técnicos que saíram do clube alegando intromissão da diretoria no trabalho. É verdade?
Natal Xavier
– É uma das coisas que me desgasta e me dói as vezes. Se tivesse interferido, talvez ao longo destas campanhas do Rio Branco, mesmo em escalações, tivéssemos ido para a série B. Não interferi e deixei que o treinador fizesse o que bem quisesse. Este ano fui mais enfático. Acho que este ano, com o treinador Tarcísio (Pugliesi), tinha um esquema com uma linha de quatro, como ele dizia, aí bati de frente. Porque o antecessor a ele, Tiago (Nunes) tentou implantar no Rio Branco, durante o Estadual Acreano e não deu certo. Fui muito incisivo com ele que não funcionava aqui e por insistência ou por sorte teve que mudar, devido a expulsão do Ananias. Na série C, depois da nossa derrota para o Paysandu (PA), com a linha de quatro, disse para o treinador que aquilo não daria certo para o Rio Branco FC. E ele falou em convicções.

Mas nunca… nunca.. nunca interferi na escalação, mas em esquema cheguei a tentar até proibir a linha de quatro. Não é cultura do futebol brasileiro, muito menos do acreano. No Estadual Acreano foi mudado, mas na série C o Tarcísio não mudaria. Como perdemos uma por goleada e empatou outra em casa, resolvi demiti-lo. Não sei se ele tivesse continuado se o Rio Branco iria para a série B. Acredito que fui muito feliz e, inclusive você que fez um artigo se acertei ou não, tenho convicção que acertei.

O Rio Branco foi o segundo melhor da segunda fase com o Everton Goia-no e com o preparador que trouxe e os jogadores que ficaram. Com o Everton nunca discuti esquema de jogo porque ele conhece bem o Rio Branco e é bem simplista: “fora jogo com três zagueiros, em casa com três atacantes”. Não tinha porque estar interferindo em esquema de Everton, agora com Tarcísio e Tiago nós discutimos por causa da linha de quatro e não foi só uma vez. Se alguém alega que interfiro foi por causa disso, mas pelo bem do Rio Branco o Campeonato Acreano foi ganho porque ele teve que mudar a linha de quatro, devido a expulsão do Ananias, retornando o Ley para a posição dele. Não sei se teria como implantar a linha de quatro em toda a competição, mas não acredito que daria certo. Não sei se os jogadores não assimilaram ou o que foi, pois o jogo contra o Paysandu foi ridículo.

A Gazeta – Se sente injustiçado por parte da torcida do Rio Branco?
Natal Xavier
– A torcida do Rio Branco é muito atípica. Durante o Campeonato Acreano todo mundo torce contra o Rio Branco, porque o seu torcedor não vai ao estádio. Não tenho dúvida em afirmar que temos a maior torcida do Acre. Pelo sucesso ao longo dos anos, mas esse torcedor não vai ao estádio para o Campeonato. Agora na série C o torcedor acreano passa a torcer pelo Rio Branco. Claro que tenho mágoa de alguns torcedores… grupinhos, porque quando agi, no incidente no jogo do São Raimundo (PA), ali o Rio Branco empatou com treinador novo, mas aquele foi o único empate em casa, depois só venceu.

Naquela época apenas um torcedor foi incisivo em me criticar e não gostei. Acredito que hoje ele tem vergonha. Porque se for realmente torcedor do Rio Branco ele hoje tem vergonha, porque acertei na minha decisão. Veja bem, não é a torcida, apenas um torcedor. Eu salvei o Rio Branco de ir para a série D… Na verdade ir para série nenhuma, cair da série C. Naquele dia, no empate, ele achou que eu era o culpado, mas na realidade acertei em ter mudado a comissão técnica e ter dispensado os jogadores. Claro que não falo do Valdir Papel. Ele não foi embora por defi-ciência técnica, foi embora porque o salário dele era acima dos demais e o Rio Branco não teria condições de honrar o pagamento. Achei por bem conversar com o Valdir.

É bom que a torcida saiba que o Valdir chegou a comentar comigo que nem com o mesmo salário – quando propus a redução de salário – ficaria, porque sentiu, naquele jogo do Arena da Floresta, que mesmo que fizesse mil gols num jogo e no outro não fizesse nenhum, ele seria vaiado. Estou falando em primeira mão: “O Valdir sentiu o drama e ele mesmo estava querendo ir embora”. Ele fez um acordo muito bom para o Rio Branco e tinha convicção que sairia vaiado do Arena, se não fizesse gol.

Fico chateado e um dos motivos de minha saída é que tenho certeza que não sou maluco de querer o mal para o Rio Branco. Quero apenas o bem do clube. Tudo o que faço é para o bem do Rio Branco e não aceito que torcedores, talvez até entrem no Arena de graça, vá me xingar. É bom saber que o presidente do Rio Branco não tem salário. Me dediquei esse tempo para o Rio Branco, de corpo e alma, sacrifiquei muita coisa e não é justo que o torcedor vá ao Arena da Floresta para querer me xingar. Isso não admito. Se pelo menos o Rio Branco pagasse o presidente do Rio Branco até achasse justo, mas como trabalho de forma abnegada, tentando sempre acertar… Peguei o Rio Branco, levei para a série C… É bom lembrar que hoje o Rio Branco tem um calendário, da série C do Futebol Brasileiro. Quando entrei não era da série C.

Acho que já fiz muito pelo Rio Branco, sim. Em cinco anos de gestão são cinco anos de série C. A minha revolta são certas críticas que tenho convicção que não errei. Quando trouxe o treinador, que ele não conseguiu levar o Rio Branco para a série B, mas a culpa não foi só minha. Ninguém nunca ouviu falar que o Rio Branco atrasou pagamento de jogador. Nunca. Do nosso grupo, o único clube que não atrasou pagamento foi o Rio Branco FC. Se não alcancei o mérito de levar para a série B a culpa não é minha. Fiz de tudo e não consegui, então paciência.

A Gazeta – Vai indicar o próximo presidente para pleito?
Natal Xavier
– O meu desejo, se pudesse sair amanhã, já sairia. Mas não posso. Não existe indicação. Numa renúncia o Conselho Deliberativo assume e até 45 dias tem que provocar eleição. Não vou indicar ninguém.

Veja bem, não tenho como sair do Rio Branco hoje. Se não tiver ajuda por parte da Secretaria de Esportes para honrar com os compromissos que foram da série C, feitas em cima de orçamento, de uma expectativa de receita e que não aconteceu.

Só para se ter uma idéia, foram realizados dois amistosos, pela Secretaria de Esportes, uma equipe do Peru e outra da Bolívia. Não foi eu que viajei para organizar, foi o representante da Setul. O Rio Branco teve que pagar só para o Bolivar, de cachê, US$ 20 mil. Valor muito alto para nós e daqueles dois amistosos o Rio Branco contraiu empréstimo de R$ 60 mil para cobrir as despesas. De prejuízo foram R$ 49 mil.

A Gazeta – Como vê a situação do Rio Branco?
Natal Xavier
– Tenho que ver minha situação aqui no Rio Branco. Como vou sair daqui. Hoje estamos na série C, respeitado no Norte do Brasil. Se ele não for para a série B hoje, a série C, para o Rio Branco está bom. O investimento feito para o Arena da Floresta… o Rio Branco dá razões para a existência dela. O medo é o Rio Branco cair para série nenhuma e o Arena ficar um elefante branco.

Tenho certeza absoluta que o Rio Branco foi um instrumento muito forte para o Arena da Floresta. Me lembro na inauguração do Arena, Rio Branco e Seleção Brasileira Sub-20, e naquele dia disse que tínhamos sido grande, mas do tamanho do José de Melo, e em alguns momentos o Arena chegou a ser pequeno para o Rio Branco FC.
Hoje não podemos nem pensar em cair da série C para não tornar o Arena um elefante branco. Como vejo o perigo do Arena do Juruá. Com a decadência do Náuas (EC), acho que ele não vem para o Estadual, que acaba. Também foi feito um planejamento errado para eles também, na Setul. Se Cruzeiro do Sul tiver equipe no Estadual, devido a situação deles, dificilmente serão campeões ou vice. Vai demorar muitos anos.

Gazeta – Qual o melhor e pior momento na gestão do Rio Branco?
Natal Xavier
– O melhor momento foi na inauguração do Arena da Floresta. Quando vi o Rio Branco bater de frente com a Seleção Brasileira Sub-20 e vencer. Ali foi o melhor momento quando vi o potencial do clube. Lembro que houve um coro de torcedores dizendo que o Arena era do Rio Branco e realmente é nosso. Se fomos derrotados no Arena foi duas ou três vezes desde sua inauguração, em 2006.

O pior momento foi esse ano. Começou na goleada para o Paysandu. Naquele momento senti que o Rio Branco cairia. Naquele instante não acreditei na nossa permanência. Fui iluminado, pois ainda deu tempo. Não sei se demorei. Talvez se tivesse mudado após a goleada a situação fosse diferente. Me arrependo de não agir com mais rapidez, mas tenho certeza que aquele foi o pior momento.

A Gazeta – Como avalia a parceria Rio Branco e Governo do Estado?
Natal Xavier
– Tenho convicção que desde que o Jorge Viana assumiu o Governo tem ajudado todos os clubes do Futebol Acreano do Estado. Existe uma ciumeira dos clubes com o Rio Branco, que o Governo nos ajuda mais. Mas é o Rio Branco que representa quase todos os anos o Acre em competições nacionais.

Recordo de reuniões na própria Federação, quando chegam a falar que o Governo só ajuda o Rio Branco. Não é verdade. Todos os anos, sem essa parceria do Governo com o Rio Branco, não teríamos chegado aonde chegamos. A iniciativa privada, aos poucos, estamos conquistando este espaço. Este ano, na série C, de patrocinadores, conseguimos R$ 242 mil, do privado. O Governo foi R$ 320 mil, então não temos dúvida que o Governo é o maior parceiro. O patrocínio deste ano foi bem menor que no ano passado, quando foi de R$ 700 mil. Teve que dividir com o Náuas, mas temos que falar que foi um patrocínio.

Se formos avaliar sobre o orçamento dos nossos adversários é até uma bravura se manter na série C com esse orçamento. Em relação a Paysandu, Fortaleza, tem orçamentos quatro a cinco vezes maior e o Rio Branco encara de igual para igual.

A Gazeta – Qual o melhor e pior momento na gestão do Rio Branco?
Natal Xavier
– O melhor momento foi na inauguração do Arena da Floresta. Quando vi o Rio Branco bater de frente com a Seleção Brasileira Sub-20 e vencer. Ali foi o melhor momento quando vi o potencial do clube. Lembro que houve um coro de torcedores dizendo que o Arena era do Rio Branco e realmente é nosso. Se fomos derrotados no Arena foi duas ou três vezes desde sua inauguração, em 2006.

O pior momento foi esse ano. Começou na goleada para o Paysandu. Naquele momento senti que o Rio Branco cairia. Naquele instante não acreditei na nossa permanência. Fui iluminado, pois ainda deu tempo. Não sei se demorei. Talvez se tivesse mudado após a goleada a situação fosse diferente. Me arrependo de não agir com mais rapidez, mas dou certeza que aquele foi o pior momento.

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