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Reinauguração do Casarão afirma compromisso do Governo do Estado com a formação da identidade acreana

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A cultura era a essência na  casa onde morou o Coronel Fontenele de Castro, ex-governador do Acre, que  agora  revitalizada transformou no mais novo  espaço  cultural da cidade de Rio Branco. No princípio, o espaço se constituiria em território da esquerda, mas acabou virando um caldeirão de correntes e idéias convergentes e divergentes -e todos saboreavam a vida dançando, comendo, bebendo, debatendo e promovendo a tolerância.  Além de democrático, era, por essência, de vanguarda. O espaço serviu de local de trabalho para muita gente produzir literatura, poesia e peças de  teatro, tornando-se palco de inúmeras campanhas, exposições, propagandas diversas, reuniões de grupos de trabalho e muito mais.

O Casarão, como ficou conhecido, foi construído na década de 1930 por Abdon Massari  no Centro de Rio Branco. Apesar dos mais de  oitenta anos, o prédio de madeira  está  conservado  em sua parte central, mantendo características arquitetônicas sírias e libanesas, especialmente os lambrequins.

Como ponto de encontro, o Casarão recebeu pessoas de diferentes perfis -de intelectuais, boêmios, estudantes universitários a militantes partidários. A expressão ‘território livre’ apareceu na década de 1980, quando o local era restaurante.  Por causa da grande diversidade de freqüentadores,  a imprensa da época começou a chamar  o espaço de Território Livre, onde se estabeleceram, segundo os pioneiros freqüentadores, pensamentos hoje frequentes no universo acreano.

O restaurante O Casarão recebeu esse nome da família que o alugou de Darci Fontenele, herdeiro do coronel, e foi o primeiro a servir comida regional e alimento natural no Acre. O espaço possui características arquitetônicas ecléticas, que mesclam diversos elementos de diferentes épocas, representando um estilo regional com influência Européia. Agora, após um longo período de abandono, ele foi amplamente reformado pelo Governo do Estado do Acre, mantendo a maior parte de suas características arquitetônicas.  Além disso, a parte superior do Casarão ganhou três novas salas, uma em homenagem ao jornalista cultural Chico Pop, outra de memória do próprio espaço, além de multimeios e a terceira especialmente para apreciação de artesanato.

“Foi um trabalho intenso, que partiu de uma demanda da sociedade. O Governo recebeu um abaixo-assinado com centenas de assinaturas pedindo a revitalização do Casarão”, disse Suely Melo, coordenadora do patrimônio histórico do Acre. Há muita memória sobre o espaço. O  músico Heloy de Castro fez ali o lançamento do primeiro  CD, em evento que reuniu inclusive o roqueiro Lobão. Para Heloy, trata-se do resgate de um marco social, político e cultural do Acre.  O escritor Silvio Margarido também participou da efervescência da época. “Que possa ser um espaço onde algo da nossa memória seja resgatado”, observou Silvio. De seu lado, o jornalista e escritor Naylor George, o caldeirão intelectual e social vinha desde os primórdios do Casarão, quando ainda habitado pelos Fontenele. “Desde aquela época era ponto de encontro. As pessoas vinham para cá bater papo, comer tapioca, falar da vida alheia”, relata Naylor. “Por aqui passaram pessoas de grande importância da música, cultura, boemia”, completou.
Temporariamente, uma empresa irá manter o café bar de O Casarão. Na festa de inauguração, um revival dos bons tempos com Heloy de Castro, Mapinguari Blues, Banda Capú e outros.

Sociedade demandou tombamento     
A casa de Fontenele abrigou a primeira piscina construída no Acre, onde se realizaram campeonatos de natação. A piscina foi aterrada décadas depois para dar lugar ao atual estacionamento. O prédio foi tombado pelo Conselho Estadual de Patrimônio Histórico e Cultural no dia 13 de agosto de 2009, por iniciativa da sociedade civil, sendo homologado no dia 30 de abril de 2010 pelo governador Binho Marques, através do decreto nº 5.235. Agora, está sendo devolvido à sociedade plenamente revitalizado pelo Governo do Acre e ficará sob proteção e vigilância do Poder Público Estadual, por intermédio do Departamento de Patrimônio Histórico e Cultural da Fundação de Cultura e Comunicação Elias Mansour.

Os encontros no Casarão não eram para falar só de política como também para saborear pratos tipicamente acreanos ou dançar ao som de música ao vivo, o que acabou se constituindo em uma inovação nos restaurantes locais.

Quem foi o primeiro ocupante do Casarão
Manoel Fontenele de Castro, primeiro morador do Casarão, comandou a Guarda Territorial e governou o Estado. Era um homem que sobretudo amava o Acre, de coração generoso, que abriu a única  piscina da região  para uso quase público. Fontenele de Castro nasceu em 8 de junho de 1898, em Viçosa, no Ceará, sendo o terceiro homem de uma família de onze filhos do casal José Castro e Maria Fontenele de Castro.  Saiu do Ceará fugindo da seca e embarcou no navio a lenha que o levou no rio Envira, em Feijó, para ser seringueiro, aos vinte anos, em 1918. Em Rio Branco ingressou na Polícia Militar do Território Federal do Acre. Graduou-se a postos maiores na graduação da milícia territorial, até comandá-la. Sua atuação na área civil estendeu-se aos cargos de delegado de Obras, delegado de Polícia, chefe de Polícia, secretário-geral do Governo, prefeito de Rio Branco. Governou o Território Federal do Acre interinamente por cinco vezes até ser nomeado governador titular pelo presidente Juscelino Kubitschek. Como governador, Fontenele de Castro ergueu prédios, abriu estradas, construiu pistas de pouso e fez portos, entre outras que o consolidaram como chefe político atuante de tal forma que, no Território e no Estado por cuja autonomia lutou ferrenhamente, deixou sua marca na história desta terra que adotou como sua. De sua casa fez sua história no Acre, articulou-se na política e decidiu, por muito tempo, os destinos da gente deste lugar. (Agência Acre)

 

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