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Clima de cordialidade entre candidatos à presidência da Aleac aponta para consenso

Tudo não passou de uma coincidência. Ontem, os deputados Hélder Paiva, Moisés Diniz (PCdoB) e Ney Amorim (PT) conversavam numa sala reservada na Aleac. O repórter de A GAZETA entrou inadvertidamente no local acompanhado do deputado Luiz Tchê (PDT) para uma entrevista. Para que não ficasse um clima de articulações secretas de bastidores os quatro parlamentares ligados diretamente à eleição da mesa diretora da Casa resolveram conceder uma entrevista conjunta para mostrar que a disputa será a mais cordial possível.
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Lances de uma disputa diplomática
Num determinado momento da conversa o deputado Tchê reivindicava maiores poderes aos parlamentos estaduais. Foi a ‘deixa’ perfeita para Moisés Diniz encaixar que se o pedetista não for presidente da Aleac, ele será um grande defensor para que Tchê assuma a presidência da Unale (União Nacional dos Legisladores e Legislativos Estaduais). Tudo num tom de brincadeira. Depois complementou: “se ocorrer uma disputa será feita com muito respeito. Qualquer um de nós que tentar deixar o outro para trás acabará vencendo, mas não ganha. Só vence com todo mundo junto”, avisou Diniz.

Tchê reafirmou que ainda está na disputa da presidência. “Já conversei com o governador eleito e argumentei que pretendo conti-nuar concorrendo à presidência. Ouvi dele que não tem preferência por nenhum nome e que todos têm condições de assumir a responsabilidade. O Tião Viana (PT) também me falou que o fato de vir do parlamento é a garantia de que o nosso poder precisa ser independente. Ele prefere que a gente chegue a consenso”, revelou.  

Questionado sobre as críticas que recebeu pela condução da CPI da Pedofilia que poderiam prejudicá-los, Tchê, se esquivou. “A Aleac teve um ganho com a CPI. Pecamos em algumas coisas devido à inexperiência. Mas a gente aprendeu muito. Não resolvemos tudo, mas houve muita repressão para esse tipo de abuso sexual. Além da parte pedagógica, conseguimos um núcleo na delegacia e uma vara especializada. Existem críticas e nós como políticos temos que aceitar porque ao final acabamos crescendo. E no ano que vem vamos fazer uma comissão permanente”, disse. Moisés acrescentou: “a CPI que o Tchê presidiu criou muitas divergências, mas reduziu drasticamente os casos de pedofilia no Acre”.

Mediação do PT
O debate para se chegar a um consenso em relação ao nome do novo presidente da Aleac passará, necessariamente, por uma mediação do PT. Ney Amorim, líder do partido e, provável secretário da mesa, analisou os lances da sucessão na Casa. “A discussão tem que ser feita de maneira madura. O PT será parte fundamental nesse processo. Nós temos a maior bancada da Casa. Inclusive, nesse sentido, o Acre é uma exceção, porque é a maior bancada que escolhe o presidente. Mas aqui, nós do PT, fizemos uma outra opção para compor com outros companheiros da FPA. Tem muita água para rolar e os partidos devem mostrar a sua maturidade”, explicitou.

O atual líder do governo, Moisés Diniz, também aponta para a necessidade do consenso. “Nós vamos conduzir esse processo da forma mais democrática possível respeitando cada voto. Aquele que vai chegar com 1600 votos, como é o caso do deputado eleito Lira Moraes (PRP), terá o mesmo tratamento que o Ney Amorim que teve mais de cinco mil votos. Aqui na Casa entrou virá deputado e é tratado com o mesmo respeito e consideração independente de votação, partido ou tempo de mandato. Nesse momento se alguém se movimentar todo mundo vai saber. Não vou me movimentar de nenhuma forma para escantear oTchê ou o Hélder. Essa é minha forma de fazer política. Vou trabalhar duramente para um consenso na escolha do presidente da Aleac”, garantiu. 

Transição governamental e a relação com a Aleac
O parlamentar mais velho na disputa, Hélder Paiva, tem freqüentado as reuniões da equipe de transição governamental. Ele prefere falar sobre o que está observando. “O governador eleito é um político muito experiente e tem uma visão política muito ampla. Até onde tenho acompanhado ele tem procurado ouvir todos os setores da sociedade, a bancada de sustentação na Aleac e os partidos. Estou convencido que o Tião Viana está no caminho certo e nós teremos um governo bem mais voltado para atender a nossa população”, relatou.

Indagado como prevê a relação entre o Executivo e o Legislativo, Paiva, salientou: “precisa continuar a independência do Legislativo porque fortalece o regime democrático e será bom para o Estado e para o governo. A oposição, assim como a situação, tem que ter plena liberdade de colocar o que pensa e procurar sempre buscar o melhor à nossa população. Estou convencido de que será um mandato bom e todos nós deputados poderemos continuar a dar a nossa contribuição para o Acre que vive um processo de transformação”, argumentou.

Moisés Diniz, também prevê uma postura positiva do novo governo. “Acho que o Tião Viana está mexendo em algo primordial que é o procedimento. Porque só trocar os nomes não resolve o problema. O jogo não está nas pessoas, mas nos procedimentos políticos. Vejo que o Tião Viana quer mudar os procedimentos estando mais perto dos partidos, ouvindo os parlamentares, aproximando-se da sociedade e fazendo avaliações periódicas. Com isso vai conseguir insuflar os demais atores políticos a ter um procedimento similar. Eu mesmo me incentivei a fazer uma reunião sobre a avaliação do meu mandato. A gente costuma colocar a culpa sempre em alguém. Não é isso, a culpa é de todos nós”, destacou.

Relação com a oposição
Hélder defendeu uma continuidade do processo instalado por Edvaldo Magalhães em que az oposição teve a garantia de todo o espaço democrático à sua atuação. “O Edvaldo Magalhães sempre pautou um bom relacionamento com a oposição e nós notamos que isso evoluiu em todos os aspectos. Todos os parlamentares acabaram apoiando a gestão do Edvaldo. Entendo que esse perfil deverá continuar na próxima legislatura. A Casa ganha como um todo”, ressaltou. 

Ney Amorim seguiu a mesma linha de raciocínio. “Acredito que temos que tratar todos os parlamentares de maneira exemplar e com respeito. Cada um vai defender aquilo que acredita. Nós da base do governo que transformou o Acre vamos debater de maneira tranqüila com a oposição”, afirmou.

Questionado sobre as suas futuras posições em relação ao governo, Tchê, evoca o seu partido como principal orientador da sua postura. “As decisões políticas são do PDT que faz parte da base de sustentação do governo. Estamos buscando espaço porque o partido é grande nacionalmente e pequeno no Acre. Estou colocando o meu nome à disputa da presidência da Aleac  porque achamos que esses oito anos nos credencia a disputar a vaga”, garantiu.

Mais poder para o parlamento estadual
Tchê também falou na expectativa da chegada dos novos parlamentares eleitos em 2010. Relacionou a nova legislatura à necessidade de haver mais poder de ação aos legisladores nos estados. “A questão dos novos é simples: eles chegam com grande expectativa. Depois começa a vir à decepção porque o nosso poder de legislar ainda é muito pequeno. Quando se entra num processo sem conhecer o jogo se corre o risco de perder. Temos que buscar o poder de legislar. A Unale tem batalhado por isso e precisamos nos unir com os deputados federais e senadores para termos de volta o poder de legislarmos. Por exemplo, não podemos discutir a emancipação de Campinas com os senadores do Rio Grande do Sul. O assunto é referente ao Acre”, protestou.

Mais uma vez Moisés concordou com o colega do PDT. “É como se o debate sobre o fuso horário do Acre fosse decidido por um deputado da Paraíba. O poder das assembléias legislativas precisa ser reforçado através de um grande debate nacio-nal. A Câmara Federal e o Senado usurparam o nosso poder. É um debate que tem muita força”, finalizou.

 

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