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Tião Viana garante que já tem escolhido 90% do seu secretariado

A exatos 30 dias de assumir o Governo do Acre, Tião Viana (PT) visitou ontem A GAZETA. Conversou com os jornalistas Silvio Martinello e Nelson Liano Jr. sobre os planos futuros para a sua gestão do Estado. Garantiu que fará uma reforma administrativa tanto em relação a uma profunda mudança dos nomes dos secretários quanto às atribuições das secretarias.
Entrevista-tiao
Ressaltou uma série de projetos entrelaçados e integrados para aumentar a produtividade agrícola, industrial e comercial do Acre. Em relação aos aspectos políticos garantiu que vai aproveitar os quadros técnicos qualificados dos partidos que compõem a Frente Popular. “Mas não vou fazer o loteamento de espaços dentro do governo”, disse ele. Também se mostrou consciente do processo de escolha das próximas mesas diretoras municipais e da própria Aleac. “A nossa Assembléia envolve a questão da governabilidade”, argumentou.

O processo de transição governamental
Tião Viana faz um resumo do processo de transição em andamento. “Temos em torno de 100 pessoas trabalhando em grupos nos grandes eixos temáticos do governo. Estamos na fase de transferência de informação do governo Binho (PT) para cada um dos nossos grupos. Nós estamos na reta final e só falta a área de saúde. Hoje será feita a transferência de informações para traçarmos as diretrizes administrativas. Decidi que vamos trabalhar em circuitos de 120 dias, com metas, prazos e resultados. Para analisarmos as etapas que serão cumpridas na educação, na saúde, na segurança, na cultura, no esporte, no lazer sempre observando o que é essencial em cada área. Assim o governo será avaliado três vezes ao ano”, relatou.

O governador eleito demonstra que será exigente com as equipes que integrarão o seu governo. “Elas têm que assumir as responsabilidades do tamanho das suas pernas. Só devem prometer aquilo que poderão executar porque haverá uma forte cobrança. As coisas terão que ser feitas num tempo curto. Vamos implantar um novo modelo de urgência para resolver a epidemia de dengue que é uma situação muito delicada, o programa de preparar um processo de retenção de água para os tanques de piscicultura que serão instalados. Porque vamos avançar de três a cinco mil tanques de piscicultura no ano que vem. As indústrias que têm que se instalar paralelamente para armazenamento e beneficiamento do pescado e não permitir que uma grande produção crie uma crise de preço. Tudo isso terá que ser observado”, preveniu.

Reforma administrativa
Indagado se pretende realizar uma reforma administrativa Tião Viana confirma as suas intenções de mudanças. “Será necessário, mas estou tendo o cuidado de fazer com muito zelo. O governo do Jorge Viana (PT) estabeleceu uma estrutura de gestão e o Binho (PT) aperfeiçoou com o apoio da Fundação Getúlio Vargas e terei que ter muito cuidado para fazer o ajuste. Quando falo que estaremos implantando a Secretaria de Pequenos Negócios é um ajuste que se faz necessário. Vamos ver o que podemos reduzir para ser ocupado por essa nova Secretaria que será fomentadora da microeconomia nos moldes que será feito a nível ministerial pela Dilma Rousseff (PT)”, explicou.

 O governador eleito vai falando de mais mudanças estruturais que ocorrerão no seu governo. “Quando falo da Secretaria de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, que vai instalar, deixará de ser uma secretaria mais formal ligada a Funtac. Agora, vai trabalhar de fato com a Zona de Processamento e Exportação (ZPE), no setor de desenvolvimento comercial do Estado, nas áreas industriais que não são as ZPEs. Porque as ZPEs já começam a funcionar em dezembro com os R$ 377 milhões de investimento que chegarão. Precisarei de uma secretaria que estará abrigando esse fluxo de recurso e dinamizando a economia do Estado. A Secretaria de Governo deixará de existir e passa as atribuições à Secretaria de Floresta. A Secretaria de Articulação Institucional passa a ter o papel permanente de monitorar os resultados da gestão como se fosse o grande observatório do governo”, argumentou.

Também os entraves burocráticos que acabam por atrapalhar a produção deverão ser removidos, segundo Tião Viana. “Estive reunido com 60 manejadores de madeira, extrativistas que fazem o manejo comunitário. Nós estabelecemos que temos um sério problema que são as amarras burocráticas que entravam o manejo comunitário. Estamos falando do envolvimento de três mil famílias com renda que poderá superar os R$ 11 mil por ano. Vamos pedir que a Secretaria de Articulação monitore o problema para não deixar isso acontecer. Se não tivermos o licenciamento até o dia 15 de março perdemos o ano e os manejadores comunitários são os grandes ecologistas do nosso meio ambiente atualmente. Se nós conseguirmos garantir a renda de 11 mil por ano para três mil famílias estamos falando de um grande avanço apenas em um item de produtividade. Isso significa uma completa estabilidade no uso sustentável da floresta”, avaliou.

A nova gestão busca a criação de uma economia forte com instrumentos que facilitem a agilidade das ações em todos os setores. “Estou criando o Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas do Acre para que os secretários e as equipes não fiquem presas a analisar dados, mas que o Instituto assuma esse papel e jogue o dado trabalhado para que nós possamos intervir diante da situação. É a mesma função que o IPEA tem no Governo Federal. O governo precisa de uma revisão, mas com muito cuidado na sua estrutura de gestão”, concluiu.

A abrangência política do novo governo
Questionado como fará a distribuição de cargos e atribuições entre os 15 partidos que compõe a FPA, Tião Viana, utiliza a sua verve política e diplomática para responder: “o governo Binho foi primoroso no campo da gestão e de resultados. Na área de obras fez em torno 450, o equivalente a uma obra a cada três dias. Mas há um passivo na relação do governo com a sociedade no campo político. Porque cada secretário assumiu a certeza de estar fazendo o melhor para o Acre. ‘Estamos fazendo um grande trabalho de gestão e a população vai entender’. Mas isso, às vezes, não acontece. A população não percebe o que está sendo feito porque aquilo não está num processo de informação como gostaríamos que estivesse. Isso é da natureza de qualquer governo. Muitas vezes não se transforma 10% do seu trabalho em informação. Acho que há necessidade de uma revisão da feição política do governo. Claro que aproveitando toda a riqueza da qualidade acumulada na atual gestão do governo”, analisou.

O novo governador deixa claro que percorrerá o caminho administrativo com a política à frente. “Se tiver que definir o governo que vou iniciar no dia 1º de janeiro será um governo político. O recurso técnico é um instrumento de trabalho que tenho a obrigação de usar, mas vai estar completamente veiculado a responsabilidade política. Claro que falando de política não como uma diretriz menor, mas como uma atividade capaz de motivar serviços e equipes para que cheguem próximas as comunidades. No meio de uma obra é preciso que a comunidade venha a se sentir dona dessa obra. Essa é responsabilidade política que tenho que ter que está muito longe de significar fatiamento de espaços de poder ou fazer a territorialidade para cada partido. Isso já não faz mais parte da cultura política acreana. Cada partido tem o direito e o dever de participar com as suas influências ideológicas e os seus interesses em relação às políticas públicas. Inclusive, havendo nomes qualificados nos partidos para que possam fazer parte das equipes vou valorizar. Assim fez o Binho e também o Jorge. O Jorge com um pouco mais de atenção no campo político, o Binho com mais conquistas no campo da gestão. Agora, é a hora de um governo político com a responsabilidade técnica como um instrumento de trabalho. Mas com um movimento político permanente e intenso por parte do governo. Sem achar que temos uma oposição que nos ameace. Se tivermos que escolhermos adversários para daqui a quatro anos os que estão aí estão ótimos. O Binho me deu um grande conselho quando disse acreditar que vou aumentar o ambiente de conversas para não ser tão absorvido pelo trabalho como acaba acontecendo com alguns gestores”, ressaltou.

Um Acre mais produtivo
Quando o assunto envereda para a economia e a produtividade do Estado, Tião Via-na se entusiasma e fala de diversos projetos interligados. “Nós vamos transferir uma unidade de lacticínio para o Juruá. Vamos levar uma quantidade forte de gado leiteiro para a região. Lá as pessoas consomem só o leite em pó. Vou incentivar a produção para a merenda escolar e depois mudar o hábito das pessoas. Liberei com ministro da Integração Nacional R$ 1 milhão 250 mil para a plantação de cocos em Mâncio Lima que terá uma indústria. O Acre precisa entrar nisso e Mâncio Lima é uma área arenosa que produz coco de alta qualidade. Vamos buscar em Souza, na Paraíba, as mudas que produzem o melhor coco do Brasil. Serão 40 famílias envolvidas no projeto que terão renda acima de R$ 30 mil anuais”, disse ele .

Outras áreas produtivas serão incentivadas, promete Tião. “Os curtumes, está na hora de pensarmos numa indústria popular de calçados já vendo os mercados consumidores do Peru e da Bolívia. A fábrica de preservativos poderá ampliar para produzir luvas e outros insumos médicos. Na Álcool Verde vamos ampliar para o açúcar e os destilados. O setor produtivo do Estado reivindica um fundo rotativo para que eles possam estar se capitalizando na hora de investimentos de curto prazo e, desde 94, que defendo essa idéia. Os extrativistas também poderão ter uma antecipação de recursos da madeira manejada. O Banco Mundial pode ser uma forma de saída”, avaliou.

O aumento da produção agrícola está previsto no próximo governo. “O abatedouro de aves de Brasiléia está consumindo uma quantidade de milho e nós não estamos dando conta de atender a demanda. Então temos que investir para chegarmos a 20 mil toneladas de milho produzidas aqui. Não são desafios pequenos. Se chegarmos a ter 1000 casas de farinha poderemos ter uma receita de R$ 500 milhões por ano. Estaremos instalando uma indústria de suínos de alto padrão. Já vão colocar 500 matrizes e, isso vai envolver 130 produtores comunitários. Eles pretendem movimentar R$ 38 milhões só na suinocultura, em Brasiléia. O peixe se chegarmos a cinco mil tanques teremos que correr para assegurarmos as duas grandes indústrias. Tarauacá está com uma base pronta para instalar uma forte indústria madeireira e Cruzeiro do Sul terá outra grande com madeira manejada. Isso relacionado ao projeto de florestas plantadas. Se entramos com o dendê e o paricá para a produção de bio-diesel no Juruá criamos uma forte economia no Estado”, argumentou.

O governador eleito explica que só é possível sonhar com essa grande revolução produtiva durante a sua gestão porque os seus dois antecessores criaram uma base. “Estamos maduros porque a estrutura regulatória dos governos do Binho e do Jorge nos permitem. Temos credibilidade com o crédito nos organismos internacionais além do BNDES e da Caixa Econômica. O Binho deixará sete mil casa contratadas. Estou muito otimista dentro do entendimento que ainda somos muito dependentes do Governo Federal e que temos que transferir ao setor privado a força econômica pelo emprego e o salário para diminuir a dependência”, ressaltou.

Pavimentação das cidades acreanas
Tião Viana é prevenido durante a conversa de que será cobrado sobre a promessa de campanha de pavimentar todas as ruas do Acre com tijolos. Ele explicou com entusiasmo como pretende cumprir o prometido. “As cidades do Acre se lamentam pela falta de urbanização. Podemos dizer que com o esforço da FPA o prefeito Angelim (PT) conseguiu pavimentar 400 Km de ruas na Capital, mas temos ainda 1000 Km por fazer sem contar os desafios nos municípios do interior. O Angelim já conquistou uma parcela de recursos para avançar na pavimentação e o Governo do Estado já alcançou outro tanto. Nós vamos entrar com um projeto junto ao BNDES para a aquisição de suporte para avançarmos na pavimentação. É um programa que me encanta porque mudará a feição urbana do Acre. Se vincula a conceitos de saneamento ainda mais que o Governo Federal exige que antes da pavimentação haja tubulação de água e esgoto. Estou consciente desse desafio e confiante que vamos surpreender as pessoas com o alcance de resultados”, previu.

Nomes para o novo secretariado
Apesar do intenso trabalho da equipe durante o processo de transição, Tião Via-na não fala em nomes de secretários, mas deixa pistas. “Já posso dizer que tenho 90% da equipe escolhida. Tenho muitos nomes na transição que estão trazendo uma enorme contribuição no processo de gestão que estamos formando. Mas posso afirmar que haverá uma grande renovação porque a política pede essa renovação de representações políticas. A professora Maria Correia me disse que está completamente realizada por ter ajudado a construir um modelo de educação revolucionário, mas que é hora de renovação do setor que de fato acontecerá. Na área de Segurança, a secretária Márcia Regina tem a certeza que preparou o Estado para avanços reais à população e que cumpriu com a sua missão com muita grandeza. É um setor que está pronto do ponto de vista da estrutura técnica para deslanchar, mas que sofrerá renovação porque é uma área que estressa qualquer um e não é aconselhável que alguém passe muito tempo a frente de uma secretaria de segurança. Uma renovação vai haver”, revelou.

Tião Viana vai definindo as áreas que passarão por transformações. “A agricultura e apoio à produção familiar também passarão por renovação. Está saindo o Nilton Cosson porque é preciso uma nova dinâmica de trabalho. Se olharmos uma outra área que vai mudar fortemente é a de Desenvolvimento, Indústria e Comércio. A Secretaria pode afirmar uma nova imagem do Acre industrial que também assumi durante a minha campanha. Estará vinculada a ZPE. Por exemplo, já vou a São Paulo com empresários acreanos visitar Diadema que tem 400 mil habitantes e tem 1800 indústrias e só de cosméticos são 19. A cada nove lojas nos Estados Unidos uma é de cosméticos. O deputado federal Luis Felipe (PT-SP), que foi prefeito três vezes, me convidou para levar os empresários acreanos para futuras parcerias”, relatou.

Eleição da mesa diretora da Aleac
Uma das próximas missões de Tião Viana como governador será ajudar a definir o próximo presidente da Aleac. “É da minha natureza procurar o diálogo. Como governador serei completamente cioso da separação dos poderes dentro do princípio da harmonia e da independência. Na Aleac estou muito animado porque observo um movimento sereno e maduro para a construção de um entendimento de quem vai gerir a Casa. É claro que na Aleac a relação é fundamental para a governabilidade e vou precisar dialogar politicamente com mais freqüência. Mas estou muito otimista e seguro que o resultado do processo eleitoral autônomo dos deputados para escolher o seu presidente será positivo”, destacou.

Tião demonstra estar informado dos acontecimentos e movimentos que acontecem em relação à eleição da mesa diretora da Aleac. “Acho que são três grandes nomes do deputado Hélder Paiva (PR), do Moisés Diniz (PCdoB) e do Luiz Tchê (PDT). Além do nome experiente do Élson Santiago (PP) servindo como uma base de diálogos entre eles juntamente com o PT. Tenho certeza que sairá um consenso da Casa para eu aprovar. Não vou impor nomes porque não é da minha natureza. Daremos tranqüilidade para chegarem à unidade de um nome que vai ter o meu respeito e valorização. Vim do parlamento depois de 12 anos de intenso aprendizado como líder do presidente Lula na transição, líder do PT, duas vezes vice-presidente do Senado, assumi a presidência interinamente. Era o elo entre as articulações do Palácio do Planalto e os setores ministeriais com o Senado. Então o que mais aprendi é dialogar e a fazer entendimentos políticos. É uma habilidade que será um facilitador. Se a oposição fincar trincheiras e se rebelar sei que isso faz parte do processo democrático”, afirmou.

Surpreendentemente Tião Viana demonstrou estar acompanhando também o jogo eleitoral das mesas diretoras das Câmaras Municipais acreanas. “Vamos ter uma disputa nas Câmaras Municipais e também estou observando o movimento com interesse e respeito. Na medida do possível dando uma opinião ou outra, mas sempre com muito cuidado sem criar desconforto”, revelou.

Dinamização das prefeituras ligadas à FPA
Ainda como resquício do resultado eleitoral Tião Viana é questionado sobre os trabalhos das prefeituras ligadas a FPA. “O grande recado se resume numa palavra: conversa. Os prefeitos têm que sair das suas posições, entrar nas ruas, conversar com as pessoas, fazer pequenas reuniões e refletir sobre a vida da comunidade. As melhores respostas estão nas comunidades. Muitas vezes o tecnicismo afogou os gestores porque juram que estão fazendo o melhor, mas não combinaram com a população que precisa viver e ser co-autora do que está sendo feito. Esse é um desafio de superação da FPA hoje. Pode ser um grande gestor, mas o modo de aproximação do movimento popular ter deixado a desejar. Tem que servir a todos. Todas as prefeituras têm que ser políticas em primeiro lugar e técnicas em segundo”, finalizou.  

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