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A mulher que não ficou com o cigarro

Tiago1201Não havia nada de útil ou prosaico para fazer naquela linda manhã de domingo. Ficar em casa? Sem chance. A melhor opção, sem dúvida, era ir a um lugar aberto para não ter o que fazer por lá mesmo. Do nada, me veio à mente passar um tempo na bela Gameleira de Rio Branco. Era cedo e esta parecia uma boa escolha. Do banco onde estava algumas raras pessoas passavam conversando. O tempo mais agradável impossível. Tudo até perfeito demais… Até que meu olhar alcançou Você.

Não sei se já estava aí quando cheguei. Não! Definitivamente, não havia como não reparar em Você: uma mulher vistosa, aparentando uns 25 anos, com pinta de quem acabou de sair de uma inesquecível ‘balada’, no banco do motorista de um Golf preto parado na calçada. Mas não foi nada disso que me atraiu. Foi o cigarro em sua mão direita. A maneira como o segurava. Parecia até uma daquelas divas holly-woodianas do cinema preto e branco. Logo percebi que apesar de nova, Você já devia fumar há anos.

Fiquei imaginando o que dizem sobre as Femme Fatales e seus cigarros, mas meus pensamentos não duraram. Você jogou a bituca do cigarro na rua e arrancou com o carro. Surgiu então a decepção, pois percebi que Você não era tudo aquilo que eu havia imaginado. Não por Sua saída, mas pelo ato antes dela. Por quê tinha que jogar a bituca na rua que levaram meses para se construírem? Seria algo sexy para Você?

Para mim, veio à mente as milhões de pessoas que devem fazer o mesmo. Era só uma, que se multiplicassem por 332 mil na cidade, com mais 730 mil do Estado e mais 190 milhões do país só chegaria e um resultado: catástrofe ambiental. Será que passou pela Sua cabeça aonde iria parar aquela ‘pequena’ bituca? Se o Seu carro tinha cinzeiro, por quê não o usou? Que tipo de outros comportamentos degradantes Você não faz?

Sério. As bitucas podem parecer só filtros de algodão biodegradáveis, mas são feitas de materiais plásticos que levam anos para decomposição. Sem contar as substâncias que elas retém (por incrível que pareça, elas sempre encontram o seu caminho para os rios, cursos d’água, igarapés, lençóis freáticos ou outros reservatórios que abrigam milhares de animais inocentes e que não mereciam ser vítimas de um simples ato irracional).

Não sei exatamente o que leva alguém tão jovem a fumar em pleno domingo de manhã na Gameleira. Talvez decepção amorosa, briga familiar ou apenas a falta do que fazer, como eu. Tudo o que  realmente tenho a dizer pra Você é: “muito obrigado por deixar a sua contribuição para um mundo pior. Meus filhos a xingarão muito no futuro”!

* Tiago Martinello é jornalista.
sdmartinello@hotmail.com

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