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O menino que criava mosquitos

ThiagoSe você é daqueles leitores que não gostam de estórias trágicas, é melhor parar por aqui e nem começar a leitura desta. As linhas a seguir narram um conto tão grave que nem ao menos merece ser iniciado com ‘Era uma vez’. A saga de um local tão inapropriado em se tratando de higiene pública, à espera apenas de uma calamidade para tentar fazer uma proeza impossível: mudar anos de hábitos e costumes sujos e tentar, literalmente, ‘se limpar’.

Sem mais delongas, tudo começou  num hórrido ‘chavascal’,  de um bairro acabado, de uma cidade que não convém ser nomeada, num tempo também sem grande importância. Numa simples casa cercada de uma vizinhança suja, havia um pequeno garoto chamado ‘Chiquinho’. Quer dizer, Chiquinho não que pode dar processo.  Hã… havia um garoto chamado ‘Branquinho’. Sim, era esse o nome! Branquinho era um menininho pobre (para num citar nome pior), mal educado e que recebia pouca ou nenhuma atenção dos pais.

Num belo dia, ele ouviu no reality show do seu apresentador favorito, o Edvaldo Souza, que a sua cidade estava começando a ter os 1º casos de uma coisa assustadoramente inti-tulada como ‘dengue’. Branquinho, como todo o resto dos seus conhecidos, não deu a mínima para o tal ‘Aedes sei lá das quantas’ e seguiu com sua suja vida, cujos termos ‘saneamento básico’, ‘quintal limpo’  e ‘asseio’ significavam mesmo era piadas.

Só que numa calma manhã de dezembro, a trajetória de Branquinho e toda a sua família, amigos e chegados estava prestes a mudar. Do nada, o garoto achou um mosquito miúdo e preto, com manchas brancas e asas curtas. Ele ficou fascinado com o inseto e passou a criá-lo, no fundo do seu quintal. O mosquito achou na casa um lugar perfeito para viver. Logo, outros começaram a chegar e o menino passou a coletar e criar todos os bichinhos. Antes do Natal, ele tinha uma verdadeira colônia cativa.

Num belo dia de janeiro, a bola do vizinho acertou a cúpula em que Branquinho criava os mosquitos e todos se libertaram. Foi o início de uma epidemia. Como já era esperado, as dezenas de vetores em pouco tempo viraram centenas e logo milhares. E foi assim que o amor por um  insetinho se transformou numa catástrofe pública. Mas pior é quem pensa que a culpa é do inocente garoto, e não de todos que jamais cuidaram da sua vizinhança.

Sem resistência, os mosquitos tomaram conta da área e logo passaram a ir aos próximos e aos próximos bairros, até afetar a cidade toda. O que aconteceu com Branquinho? No início, ele ficou extasiado com o poder de sua criação, mas depois ele adoeceu. O seu melhor amigo morreu de dengue hemorrágica e seus pais ficaram ‘nas últimas’. A partir daí, Branquinho passou a lutar contra a praga que criou. Hoje, digamos, ele ainda está perdendo a ‘guerra’, mas ainda espera pelo apoio de todos para tentar reverter a situação. 

*Tiago Martinello é jornalista.
sdmartinello@hotmail.com

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