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Precisa-se

DSC03620Desde o início da semana procuro uma empregada doméstica. Quando resolvi colocar no papel alguns critérios para a contratação, me dei conta de que ela nunca vai aparecer nem com a possibilidade de receber o maior salário do mundo, o que não é realmente o caso. Não sou tão exigente assim, a não ser com as minhas crias. Tenho algumas teorias. Primeira: empregadas domésticas são hoje profissionais em extinção. E isto reflete aspectos positivos do ponto de vista social e econômico.

Cada vez mais mulheres, por conseguirem acessar uma variedade de programas de escolarização e formação profissional, alcançam novos ideais de trabalho e emprego. As ex-empregadas domésticas, ou as que futuramente seriam, seguem seus caminhos como manicures, vendedoras autônomas, cozinheiras, produtoras de mudas e flores, trabalhadoras da construção civil, secretárias. Uma parte das que continuam e que estão de fora desta inclusão recente, desenvolvem seus trabalhos sem nenhuma formação agindo como se executassem apenas uma atividade temporária da qual gostaria de se livrar na primeira oportunidade.

A segunda teoria com embasamento apenas vivencial é que as diaristas estão surgindo. Essas sim foram espertas, acreditaram em si mesmas e seguem como empreendedoras individuais lavando, passando, limpando, cozinhando, cuidando de crianças, mas não tudo ao mesmo tempo. Conversando com amigas com ou sem filhos que precisam desses serviços, concluí que é praticamente impossível encontrar uma que realize todos esses serviços numa só casa. Trabalhando em dias alternados com diferentes patrões, elas ganham mais, têm mais tempo para suas vidas pes-soais, trabalham quando querem e da forma que querem. É mais um profissional conquistando espaço no mercado e estabelecendo seu preço, seu valor. Nada mais justo. Todos merecem e devem buscar meios para aumentar a renda, melhorar de vida, equalizar a autoestima.

Mas e nós trabalhadoras cuja renda média não permite o pagamento de dois ou mais salários mínimos a uma empregada doméstica dentro dos novos critérios, dos novos padrões? Não só pelo serviço de casa, que de jornadas duplas de triplas muitas de nós entendemos, mas pelo cuidado com as crianças. É necessário ter olhos abertos e coração atento para não sucumbir e contratar a primeira que responde aos anúncios. Por este motivo, mulheres com filhos e que trabalham fora de casa vivem a aflição diária (e eterna) de perder a empregada. Medo de ter que recomeçar uma nova rotina com uma nova pessoa, com novos costumes e manias. O pior: acreditar que ela poderá também se adaptar aos nossos. Um dia desses me vi mimando tanto uma empregada doméstica que ela estava praticamente me dando ordens. Umas dizem que não lavam, outras que não ficam além do horário X, outras que não cuidam de crianças, outras que não cozinham. Quando fazem tudo isso tem o problema das faltas porque vida de empregada doméstica não é fácil e ainda tem os filhos delas que ficam com pessoas menos qualificadas ainda ou com parentes, vizinhos e o que é pior: com irmãos muitas vezes apenas um pouco mais velhos. Isso sem contar com a questão trabalhista. Contrata, assina carteira e dois, três meses depois lá estamos nós esticando a renda para pagar os direitos sem estourar mais uma vez o orçamento (o que sempre acontece).

Pensei em gravar um áudio e deixar rolando em casa para evitar a tarefa exaustiva de explicar tudo de novo, como eu gosto, como deve ser feito, as peculiaridades da rotina, as especialidades dos filhos – a parte mais complicada. Tenho alguns nomes em uma lista bem pequena que passaram na primeira e rápida entrevista depois de anúncio divulgado em um programa de rádio. Contratei uma, mas desconfio que terei que pagar a diária e dispensar. Agora não decido mais isso sozinha. Tenho olheiros e eles são exigentes. Ficam ansiosos, tensos, com tanta mudança. – Será que vai dar certo?, perguntam. – Não sei, me limito a dizer. Nunca dá para saber. Só sei que precisa-se. Urgente.

Golby Pullig é jornalista
Twitter: @golbypullig

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