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Saúde política

Itaan-ArrudaNão. Ninguém questiona a mudança no tom político imprimido pelo governador Tião Viana desde o dia 4 de outubro de 2010. Desde lá, consolida a imagem de um líder implacável, incansável e quase onipresente. Democrata, ouve personagens estratégicas que calculam a sinceridade para definição real daquilo que já está, há muito, concebido. Não seria exagero afirmar também que paira nas cercanias da corte um certo temor silencioso, quie-to, que fala miúdo coisas que possam ser mal compreendidas. Esse receio em desagradar por parte dos comandados é importante para quem aparenta manter curtas as rédeas do jogo.

De uma coisa, ninguém duvide: na esfera política, a responsabilidade de Tião Viana é enorme pelos próximos anos. Sobretudo até 2012 nas eleições municipais e também em 2014 quando terá que cuidar da própria reeleição. O fato é que só a política conseguirá ser o instrumento pragmático para alcançar os resultados satisfatórios. A gestão pública eficiente é obviamente necessária, mas vem a reboque: no plano político, é a relação harmônica entre eficiência e eficácia que dará o tom da vitória do que restou da Frente Popular para as duas próximas eleições. E, nunca é demais lembrar: eleições municipais têm o dom de espatifar alianças, ao contrário dos pleitos estaduais. E isso é um peso a mais nos ombros do novo governante.

Mas, o governador Tião Viana é homem cuidadoso. Na temperatura política sempre febril do Juruá, acalentou uma semana de despachos oficiais a partir da região que, de forma inédita, conferiu vitória parcial à Frente Popular. Oficialmente, foi “um reconhecimento”. Politicamente, foi um mimo importante e talvez jamais esquecido para muitas lideranças regionais. Resta saber se essas lideranças são as mesmas que classificavam como “inesquecíveis” as andanças dos ex-governadores Nabor, Flaviano Melo e Romildo Magalhães também com suas versões de “governos itinerantes”. Na prática, a transferência do Gabinete de Governo por uma semana para o Vale do Juruá foi um gesto só capaz de ser concebido e valorizado na instância política e em nenhuma outra.

No plano nacional, o governador contará com muitos apoios. No Senado, instituição em que debutou na política, Tião Viana, além de ter cooperação de seus antigos pares, terá, sempre, a defesa garantida por dois nomes: Aníbal Diniz e Jorge Viana. Na gestão federal, o governo da presidente Dilma dará o apoio elementar, apertando os cintos com uma política econômica austera e, claro, sempre desconfiada com o resultado nada animador das urnas acreanas que lhe tatuou uma derrota ainda difícil de esquecer, em que pese o clamor dos líderes políticos acreanos por “desfazer os palanques” e esquecer o pesadelo das últimas eleições.

Ninguém do paço local admite publicamente (e seria suicídio fazê-lo), mas o fato é que, em Brasília, o Acre entra diminuído em 2011, tendo que reconstruir um capital político caro. E tome-lhe peso no fardo do governador! Com uma ressalva: nessa “reconstrução” política, toda atenção para Jorge Viana, um líder que terá papel estratégico não só para a gestão pública no Acre, mas também para a sanidade das articulações da presidente Dilma no Senado, como demonstram as últimas conversas com políticos peemedebistas. Nesse ponto, vale lembrar a frase do ex-presidente Lula quando calculou: “um senador vale mais do que três governadores”.

Para finalizar o diagnóstico, é sempre bom recordar uma parte do discurso de posse da presidente Dilma: “melhor o barulho de uma imprensa livre ao silêncio das ditaduras”. Já que a Frente Popular se acostumou a “trabalhar em afinidade com o Governo Federal”, as personagens políticas locais devem atentar para os itens “liberdade de imprensa e liberdade de expressão”, sugeridos na fala presidencial. A idéia de “bom Governo” e “governo justo” não pode prescindir de alguns princípios. A liberdade é um deles. De outra forma, tem-se um governo fraco. E fragilidade é uma doença que o governador Tião Viana deve apartar da agenda oficial. Para o bem de todos.

* Itaan Arruda Dias é jornalista.
(itaan.arruda@gmail.com)

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