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Seremos os próximos?

ThiagoSe você acha difícil se solidarizar com as vítimas das enchentes nas cidades serranas do Rio de Janeiro, então não perca tempo tentando. Chorar pela desgraça de desconhecidos não é seu forte. A dor de 760 mortos e mais de 16 mil pessoas que perderam tudo o que levaram a vida inteira pra conquistar simplesmente não te abalam. Portanto, não mascare sua natureza. Só guarde os seus sentimentos e espere!

No ritmo degradante em que a sociedade brasileira (em especial, a acreana) caminha, é apenas questão de tempo até que surja a próxima catástrofe natural. E fenômenos não sentem remorso, não cronometram datas e não se incomodam nada em quantas vítimas deixam no chão. Mas o pior é que eles sempre são imprevisíveis. Podem acontecer em qualquer lugar. Inclusive aqui mesmo, no Acre. Isso mesmo, com seus vizinhos, amigos, conhecidos, colegas de trabalho, pessoas do seu dia-a-dia, enfim, com a sua FAMÍLIA.

É difícil chorar pelas perdas de desconhecidos, mas quando se trata das nossas calamidades as coisas são diferentes. Será a SUA dor sendo ignorada por muitos outros.

E para quem duvida, é fácil provar que as ‘fúrias da natureza’ (mesmo que em menores proporções, e sob as suas mais diferentes formas) já chegaram até nós. Já se perguntou o porquê enfrentamos crises de dengue cada vez maiores? Por que hospitais se enchem de pacientes respiratórios no verão? Por que centenas de casas são tomadas pela subida do Rio Acre? Por que instabilidades no solo põem em risco casas, mercados, estradas e até uma pista aeroportuária de milhões? Por que somos alvos tão fáceis de catástrofes?

Agora, acima de tudo, quem você acha que causou, causa e continua a causar todos estes problemas naturais citadas? Dica: não foram ‘os outros’, não foram ‘as coincidências’ e tampouco foram ‘os governos’ que você elegeu.

Os desabrigados do Rio hoje são ‘vítimas’, mas antes eles já estiveram na condição de ‘agressores’ – tanto ativos, quanto passivos. Logo, se hoje todo o resto do país (inclusive  os acreanos) estão no papel de agressores é fácil presumir qual será a sua condição no amanhã. Enquanto uma lição simples de convivência harmônica não puder ser tirada de tragédias assim, é porque todas estas 760 vidas terão realmente se perdido à toa. 

Então, tenha paciência e siga a sua vida até a hora de assistir a compaixão que você não teve pelos outros se transformar na mesma dor da perda de um pai, uma mãe, um irmão ou um filho. Se é preciso que mais gente sofra para abrir seus olhos, amém. Mas quando você for o próximo (e isso ainda deve acontecer), não se esqueça de perguntar: quantos mais precisam morrer até que as pessoas aprendam a respeitar o meio em que vive?

*Tiago Martinello é jornalista.
sdmartinello@hotmail.com

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