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“As prefeituras do Acre desviam recursos do MS”, denuncia líder indígena

O presidente da Federação dos Povos Huni Kui do Acre (Fephac), Ninawá Huni Kui, denuncia que todas as 22 prefeituras do Estado estariam desviando recursos do Ministério da Saúde (MS). A Controladoria Geral da União (CGU) e o Tribunal de Contas da União (TCU) vão realizar auditorias. Os índios prometem fazer uma mobilização para levar as denúncias até Brasília/DF.
Lider-indigena
“Desvio de recursos, de finalidade, nepotismo, descaso, corrupção e ingerências. Nem a Capital escapa”, desabafa o líder indígena. O dinheiro ‘desviado’ e ‘mal aplicado’, segundo ele, é do Sistema de Atendimento à Saúde Indígena (Sasi), repassado diretamente do Ministério da Saúde às prefeituras. “Por se tratar de recursos da União, vamos acionar também a Polícia Federal”, acrescenta Ninawá.

Os prefeitos, de acordo com ele, realizam as atividades de atenção contratando prestadores de serviços, ou seja, ‘amigos e parentes’. Também aplicam o dinheiro dos índios nas políticas de fomento aos agricultores e ribeirinhos. “Até garis eles pagam com os recursos do Sasi”, complementa.

Os principais ‘dilapidadores’ dos recursos agora, segundo o índio Roque Yawanawá, são os chefes dos distritos sanitários nos municípios. “Por estarem em regiões isoladas, estes gestores acham que podem fazer o que quiserem com o dinheiro da União. Eu tenho a impressão de que muita gente vai para a cadeia”, alerta Roque. Além da Fephac, o movimento é encabeçado pela Organização das Mulheres Indígenas do Acre, Sul do Amazonas e Noroeste de Rondônia, Organização dos Povos Jaminawás e Organização dos Povos Apurinãs e Jamamadi de Boca do Acre. 

A reportagem de A GAZETA fez contato com a equipe do secretário de Saúde da Prefeitura de Rio Branco. A assessora, Selma Neves, disse que não conhece a situação. Informou, ainda, que o atual secretário, Osvaldo Leal, não manteve contato com o setor responsável pela aplicação dos recursos.

 Duas índias morrem em menos 1 semana
As índias Maria Paula Machineri e Maria Tereza Camilo Huni Kui morreram em menos de 1 semana. A primeira, moradora no Rio Iaco, Aldeia Santa Rosa, município de Assis Brasil, teve a causa da morte desconhecida. Revoltados, ín-dios de várias etnias ameaçam tomar medidas drásticas. “Será que vai ser preciso a gente matar e pendurar a cabeça de alguém aqui”, disse, chorando, com um atestado de óbito nas mãos, um dos 7 filhos da índia Manchineri.  

Acampados há 80 dias em frente ao prédio da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), os povos indígenas da região atribuem as mortes ao ‘descaso’ e ao ‘caos’ nas políticas de atenção indígena no Acre.

Questionado sobre a demora no atendimento de suas reivindicações, um índio Shanenawá, que pediu para não ser identificado, disse que o Governo do Estado dividiu o movimento oferecendo vantagens individuais e mentindo na mídia. “Esse governador, além de manipulador, sequer recebe a gente, denuncia”.

As passagens no Acre do ministro da Justiça e do secretário nacional de saúde indígena, segundo eles, não representou nenhuma novidade no tocante aos avanços de suas reivindicações.

Para suspender o movimento, índios exigem o atendimento de todos doentes instalados na Casa do Índio, que troquem os gestores dos pólos básicos nos municí-pios, cumpram os acordos judiciais e reformem ou construam uma nova casa de passagem para eles.

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