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Grupo de refugiados haitianos e bolivianos busca a regularização no Brasil pelo Acre

Saindo de calamidades políticas/sociais nas suas terras natais para buscar melhores oportunidades na vida, grupos de bolivianos e haitianos estão ingressando no Brasil usando o Acre como sua ‘porta de entrada’. O objetivo deles é regularizar a sua documentação para que arranjem empregos no país, juntem recursos e, posteriormente, possam se instalar nas demais nações latino e norte-americanas. Os municípios que recebem tais imigrantes são Brasiléia, Epitaciolândia e Capixaba (há outros na fronteira da Bolívia, ex: em Cobija).
Refugiados
Apesar do mesmo sonho, cada grupo tem o seu próprio drama para contar!

Dos haitianos, há cerca de 170 imigrantes que desde a metade de 2010 atravessam o Mar do Caribe e percorrem milhares de quilômetros, seja por navio, avião, carro, a pé e até por ‘coio-tes’ (meios de transporte ilegais). Eles passaram por vários países que os recusaram (Rep. Dominicana, Panamá, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia) para chegar até aqui. As razões da fuga foram o catastrófico terremoto que devastou a capital Porto Príncipe e a subseqüente cólera que vitimou milhares do povo haitiano.

E se engana quem pensa que só porque são naturais de uma das nações mais pobres do mundo há apenas haitianos de baixa escolaridade. De acordo com o pároco Rutemarque Crispim, da Paróquia Nossa Senhora das Dores (de Brasiléia), o grupo é composto por trabalhadores de diversos setores, desde agricultores e pedreiros até professores e advogados.

Eles conseguem se comunicar em mais de 2 idiomas: francês, inglês, espanhol e crioulo, que é a língua nativa. Entre eles, há apenas 1 família analfabeta. Inclusive, os grupos são formados por jovens de 20 a 35 anos, que só conseguiram fazer a viagem (que custa de U$ 900 a 1.300), por conta das economias que eles e seus parentes juntaram.

Quem também acha que eles não têm planos, mais uma vez os subestima. Conforme Rutemarque Crispim,o destino almejado pela grande maioria dos haitianos é a cidade de São Paulo. Para tanto, eles pretendem trabalhar pela região até conseguir juntar capital e partir para o sudeste. De lá, eles crêem que terão mais oportunidades de arrecadar ainda mais  fortunas para chegar aos demais países das Américas Latina, Central e do Norte (aliás, alguns sonham em conseguir o greencard para se estabelecer nos EUA, de vez).

Muitos deles não possuem documentação (RG, CPF, etc), o que, a rigor da Lei, os torna ilegais no Brasil. Ou seja, teriam de ser deportados a partir do instante em que pisassem aqui. Porém, diante da situação crítica em seu país e das boas relações humanitárias com o Haiti, a legislação será contornada. Segundo o secretário de Justiça e Direitos Humanos do Acre, Henrique Corinto, que esteve no local para verificar as condições de moradia dos imigrantes, o caso já foi notificado ao Ministério da Justiça e ao das Relações Exteriores.

Nos municípios onde estão, o esforço que está sendo feito é para tentar acomodá-los, com um mínimo de coisas para garantir sua estadia (colchões, lençóis, etc). Em Brasiléia, o pároco da cidade prega que eles estão num ginásio e em outros pontos (como pousadas). Em uma reunião realizada na tarde de ontem (17), ficou acertado que o governo e as prefeituras ofereceriam alimentos, abrigo e assistência médica até eles poderem se subsidiar.

“Fizemos uma reunião, na qual ficou estabelecido que será feito hoje um mutirão da saúde, a fim de realizar todos os exames e prestar assistência médica a eles. Amanhã (19), uma equipe da Sejusp deve vir para fazer um novo mutirão que lhes garanta dar entrada no CPF e passaporte. Assim, eles terão passe livre para atuar no Brasil”, afirma Rutemarque.

Com base em conversas com os imigrantes, o pároco também revelou que mais grupos de 20 a 30 haitianos devem continuar chegando ao Acre nos próximos meses, incluindo a vinda das primeiras crianças refugiadas. Eles devem totalizar mais de 500 haitianos. 

Mais de mil refugiados políticos
Já os grupos de vizinhos bolivianos vêm chegando há mais tempo, no geral, desde 2007. Ao todo, estima-se que os municí-pios acreanos de fronteira já tenham recebido mais de 1.000 mil ‘patrícios’. A maior parte deles são refugiados políticos que não se adaptaram tão bem às ‘revoluções’ que aconteceram na sua terra com a presidência de Evo Morales.

Quase todos eles já possuem a documentação brasileira. Parte deles até já está instalada em vários estados do Norte, Nordeste e Centro-oeste. Enquanto a outra parcela continua alojada no Acre e nas áreas fronteiriças com a Bolívia. Segundo Rutemarque Crispim, os maiores empecilhos para eles é a cobrança excessiva de documentação para trabalho e a falta de acessibilidade a serviços mais exigentes do SUS. “Ontem (17) mesmo, nós fizemos uma reunião para ver como estas questões podem ser resolvidas”, comenta.

Tais obstáculos atrapalham bastante a vida dos bolivianos, já que eles não podem retornar ao seu país (haja vista que são exilados. Inclusive, alguns são vítimas de perseguições políticas e vivem sob segredo de Estado no Brasil) para se tratar e nem conseguem assistência no Brasil. 

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