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Moradores denunciam descaso no bairro Baixada da Habitasa

O bairro Baixada da Habitasa, que fica a um quilômetro do Centro de Rio Branco, é o retrato real da falta de zelo pelo dinheiro público e falta de respeito com os moradores. As obras de esgotamento sanitário começaram em 2009 e não foram concluídas. No local, não existe nenhuma movimentação de obras e os moradores estão sem saber para quem reclamar.
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Existem problemas de drenagem em todo o bairro.
 Na esquina da Rua Venezuela com a Rua Bogotá uma placa num canteiro de obras desmobilizado, por si só, comprova o descaso. O ponto maior de alagamento está localizado na Rua Bogotá, que faz parte do objeto do contrato número 227.675-59/2007 da Caixa Econômica Federal para execução do esgotamento sanitário.

O diretor-presidente do Deas – Departamento Estadual de Água e Saneamento, Gildo César, disse que está tomando conhecimento do caso agora e vai chamar a empresa responsável para conversar.

O esgoto à céu aberto nas ruas Bogotá e México é a prova concreta de que a obra foi iniciada mas está muito longe de ser concluída. Com recursos federais, a obra custa R$ 3.719.256,30. Informações como o nome da empresa responsável foi apagado o que impossibilitou à reportagem um contato com os responsáveis pela execução da obra.

De acordo com a placa, a obra de esgotamento sanitário começou em 24 de agosto de 2009 e o prazo de execução termina no próximo dia 24 de fevereiro de 2011, 18 meses depois.

Próximo da placa, com os dados sobre a obra, encontramos um depósito de canos que seria utilizado para o encanamento do esgoto. O vigia, que não quis se identificar, nos contou que a empresa que começou os serviços, quebrou, faliu e a parte da canalização dos esgotos só poderá ser feita quando outra empresa terminar a colocação das manilhas que receberão os dejetos.

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A moradora e comerciante Irenice Queiroz, 42 anos, nos disse que mora na Rua México há 12 anos e que a situação só piora com o passar dos anos. “Quando vieram colocar as manilhas no meio da rua pensamos que ia melhorar. Colocaram mas não tamparam direito as valas abertas e nunca mais voltaram para fazer a ligação das casas para a rede de esgoto”.

O morador José Ferreira dos Santos, 32 anos, acredita que as manilhas colocadas serão insuficientes para receber tantos esgotos. “Nem é preciso a gente ser engenheiro para saber. Colocaram umas manilhas de 150 milímetros. Umas coisinhas pequenas demais. Mesmo que canalizem os esgotos das casas para essa rede, em algum canto vai estourar. É muita merda (sic) para tubos tão pequenos”, criticou.

A dona-de-casa e moradora da Rua Bogotá, Maricélia Costa Ferreira, 35 anos, disse que seu marido resolveu, ele mesmo, canalizar o esgoto de sua casa para a rede e o resultado foi uma catástrofe. “Quando chove o esgoto volta todo pra dentro da minha casa. Isso aqui não corre para lugar nenhum, fica parado. Nosso bairro fede”, reclamou.

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Um mar de lama na Rua Bolívia
A Rua Bolívia, do Baixada da Habitasa, é outra rua acabada. A reportagem encontrou a equipe do Deracre tentando retirar os entulhos na campanha ‘Guerra Contra a Dengue’ e as máquinas e caminhões estavam tendo dificuldades para chegar por causa da falta de escoamento das águas. O lamaçal permanece mesmo em dias de sol.

O encarregado pelo operação do Deracre, Jaisson Alexandre, disse que para resolver o problema era preciso uma frente de trabalho envolvendo vários setores como o Saerb e a Secretaria de Obras. Ele ligou para um engenheiro várias vezes para que ele fosse ao local para tentar abrir uma vala pelo quintal de uma moradora, para dar vazão ao lamaçal, mas não obteve uma resposta sobre qual procedimento adotar.

Na Rua Bolívia a água está na frente e nos fundos das casas. Por causa de um enorme valão, que hoje serve de esgotamento sanitário para todos os moradores da rua, quando chove ele transborda e inunda os quintais. Além disso, existem os canos de água do Saerb que estouram com freqüência porque são colocados muito superficialmente na frente das casas e qualquer veículo mais pesado passa e os arrebentam causando o lamaçal e o desperdício de água.

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Mato impede a retirada de entulhos
A situação no Baixada da Habitasa é tão caótica que as máquinas do Deracre não conseguiram chegar na Travessa Bolívia, uma extensão da Rua Bolívia.
Na Rua Projetada 2 só dá para passar por meio de um caminho no meio do mato.

O morador Rosenilson Ferreira de Araújo, 25 anos, mora na rua há 9 anos, contou que para sair de casa ele utiliza o quintal de um vizinho.

“Aqui, nesse matagal, é uma rua. Foi feito o loteamento dos terrenos a gente fez as casas na esperança de que fizessem o calçamento das ruas e até hoje não recebemos esse benefício”, disse Rosenilson. “É muito chato usar o quintal do vizinho para sair ou entrar na própria casa. Às vezes ele fica de cara feia”.

No local, é possível ver o contraste social. No fim da rua cheia de mato vemos os fundos de um edifício de luxo, o West Amazon.

Dona Zenaide de Oliveira Souza, 40 anos, mora no final da Travessa Bolívia e disse que seu terreno alaga com freqüência, basta uma chuva mais forte. Outro problema é com relação às correspondências que nunca chega porque não existe um CEP para a rua. “Não regularizam a situação. Não dão um CEP pra gente. É como se nós não existíssemos e estamos aqui bem pertinho do Centro”, reclamou.

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Dengue, chavascal e desesperança
Pagando um aluguel de R$ 100,00 numa casa de madeira e sem trabalhar por vários dias, sofrendo com a dengue, a empregada doméstica Sueli Oliveira da Silva, 36 anos, mãe de seis filhos, vive com cinco deles numa casa de madeira em cima de um chavascal fétido e cheio de lixo na Travessa Bolívia. A caixa d’água no fundo do quintal tem a rede de proteção mas não é usada. Para usar uma privada no meio do mato e da lama é preciso colocar sacolas nos pés para passar pelos dejetos.

Os agentes de saúde conseguiram chegar na casa dela e entregar a rede de proteção para a caixa d’água, que fica no chão, mas não conseguiram retirar a quantidade de lixo que tem debaixo da casa. Para retirar tanto lixo de dentro de um terreno alagadiço é preciso botas de borracha cano longo e um equipamento para retirar a água imunda. A casa foi construída num local totalmente inapropriado para se viver um ser humano.

Dona Sueli é o retrato da desesperança e do conformismo.

Sueli é do município de Cruzeiro do Sul e veio com os filhos para Rio Branco em 2007 e conta que essa casa em que ela mora hoje, ainda é melhor do que a que morava na Rua Projetada 2 que fica por trás. “Aqui desse jeito tá é bom. Na rua de trás era pior. De lá eu só saía com sacolas nos pés todos os dias, com chuva ou com sol. Aqui pelo menos a parte da frente é mais seca e dá pra sair sem sujar os pés”, conforma-se.

 

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