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Eduardo Farias está com um pé na prefeitura e outro na Aleac

Tem políticos que se destacam pelo carisma, capacidade de ação, mobilização e promoção. Outros, no estilo mais “mineiro”, preferem atuar de maneira comedida diante dos holofotes. Mas também acabam conseguindo resultados satisfatórios. O médico Eduardo Farias (PCdoB), vice- prefeito da Capital e deputado estadual eleito, é assim. Pensa antes de falar e pondera meditativo sobre os assuntos. Quando precisa ser veemente prefere dizer: “olha não quero ser arrogante, mas tenho que falar a verdade”.
Eduardo-Farias
Apaixonado pela política, Farias é um militante raro que terá a chance de atuar de maneira mais independente como parlamentar nos próximos quatro anos. Mas antes cumpre a sua última missão na atual gestão municipal substituindo o prefeito Raimundo Angelim (PT) que apesar da epidemia de dengue e da reforma administrativa em curso na prefeitura está de férias. “Vou ficar uns 20 dias. A minha renúncia será um ato político que deverá ocorrer no dia 31 de janeiro”, garantiu.

Comunista, humanista declarado e devoto de Nossa Senhora da Aparecida, Eduardo Farias, demonstra ter compromisso com as missões políticas que tem recebido durante a sua trajetória. “Vou manter a prefeitura no ritmo. Tivemos um início de ano com um Governo que entra com muito protagonismo. A prefeitura precisa também estar à altura disso. É claro que depois de seis anos nós temos um planejamento que cobre os próximos dois. Mas tentaremos acelerar e não perder o ritmo do prefeito Angelim”, explicou.

Quanto à possibilidade de ser convocado para outra missão administrativa no Estado ou na prefeitura, Farias, descarta. “Vou assumir a cadeira na Aleac, para ser coerente. A minha candidatura foi muito bem pensada. Conversei com o meu partido, o Angelim, as maiores lideranças da Frente Popular e com os 14 partidos que foram base de sustentação da reeleição minha e do prefeito em 2008. A decisão foi muito madura e todos concordaram que posso cumprir um papel muito importante para essa nova fase de um governo da FPA. Para desfazer teria que percorrer o mesmo caminho e posso contribuir no parlamento a partir da minha experiência”, revelou.

Como controlar a epidemia de Dengue
Ex-secretário municipal de saúde, entre 2005 e 2008, Eduardo Farias, analisa as causas que desencadearam mais uma epidemia de dengue na Capital. “Posso, sem querer ser arrogante, dizer que vivi isso de muito perto quando fui secretário de Saúde. Quando nós assumimos, em 2005, tivemos uma epidemia de dengue muito forte. Talvez a maior. Até abril de 2005 já estávamos com ela em queda e entramos o verão sob controle.

Até o dia que larguei a Secretaria de Saúde para a candidatura de reeleição era uma doença sob controle. Penso que o que pode ter ocorrido é que a gente não teve o cuidado para que ela ganhasse território. É como o jogo do dominó em que uma pedra vai derrubando a outra. Teria que isolar as pedras. Se deixar colar terá uma reação em cadeia. Provavelmente pode ter ocorrido isso. O segredo do combate a dengue está em  isolá-la em áreas territoriais”, avaliou.

O médico opina sobre a maneira de controlar a epidemia. “Em algum momento deixaram colar a placa. As ações que estão fazendo de retirar todo o lixo é funcional, mas é preciso seguir o rastro da dengue a partir da sua epidemiologia, verificando de onde estão vindo o maior número de casos e o maior índice de infestação predial para se fazer o bloqueio por regional. Isolando se desloca as placas e se vai tirando as pedras do meio porque se cair alguma coisa não irá contaminar todo o território”, aconselhou. 

Avaliação da atual gestão municipal
Indagado sobre parte da população rio-branquense que considera a primeira gestão de Angelim melhor que a segunda, o prefeito em exercício afirmou não concordar. “Tivemos um comparativo do nosso governo com uma outra gestão. E nós sucedemos uma gestão desastrosa em que tinha lixo em frente a prefeitura, a Praça da Revolução era uma loucura sem a menor urbanidade. A cidade estava esburacada, havia descrédito junto aos fornecedores e o serviço público não funcionava. Nós colocamos a prefeitura para funcionar. Obviamente quando existe um caos e se estabelece a ordem o salto de qualidade é muito grande”, explicou.

Farias garante que o segundo mandato está no ritmo previsto. “O Angelim tem sido forte em relação à grande estrutura da cidade. Temos uma rodoviária sendo feita, uma Ceasa que foi inaugurada, a estruturação da unidade de tratamento de resíduos sólidos que dá uma solução para o lixo nas próximas décadas. Não teve pirotecnia. Na segunda gestão fomos comparados com nós mesmos e isso gerou uma sensação que estamos mais lentos”, justificou.

A sucessão de Angelim
A derrota eleitoral para o governo da FPA, na Capital, em 2010, trouxe à tona muitos questionamentos. O futuro deputado analisou os fatores. “Acho que o resultado das eleições não pode ser creditado a um único fator. Poderia elencar vários que fariam o conjunto do resultado. Não se pode colocar apenas a prefeitura como sendo um dos culpados do resultado e muito menos o governo do Binho. Acho que foi questão de postura, aproximação da população, de diálogo e de ter o dedo no pulso da sociedade para ver o que ela está dizendo”, argumentou.

Para encontrar um candidato da FPA, Farias, acha que é preciso ter alguns cuidados. “Nós vamos ter que retomar algumas coisas e ouvir as aspirações da sociedade. O nosso candidato não pode ser imposto. A militância precisa se sentir dona da campanha. O candidato tem que vir do dialogo com a militância, que tenha capacidade de permear as forças da FPA e já tenha sido testado nas urnas. Para não entrar na seara de outros partidos acho que temos na deputada federal Perpétua Almeida (PCdoB/ AC) o perfil para ser uma ótima candidata. Mas é uma opinião muito pessoal minha”, garantiu.

Reforma administrativa
Questionado se as mudanças de secretários na prefeitura refletem uma necessidade de mudanças da gestão, Eduardo Farias, ponderou: “acho a reforma administrativa necessária porque se chega num determinado momento que é necessário estimular novamente a equipe de governo. O olhar de quem chega dá uma nova dinâmica. O Angelim não vai mudar o seu projeto, mas nomes novos qualificam a administração. Por exemplo, a Cláudia Cunha da secretária de obras, o Jackson Marinheiro, na Emurb. Pessoas capacitadas que poderão dar uma alavancada que vamos precisar para a reta final da gestão dos 2 últimos anos”, refletiu.

Presidência da Aleac
Prestes a assumir seu mandato na Aleac, Eduardo Farias, acredita que o deputado Élson Santiago (PP) será o novo presidente da Casa. “Numa eleição interna a melhor solução é a unidade e o nome do Santiago tem a característica de ser unificador. Inclusive, entre os membros da oposição. Ele reúne as qualidades de ser da base governista e leal ao projeto da FPA. Acho que o Élson tem todas as condições de ser o presidente da Aleac e, portanto, ter os votos dos comunistas. Mas obviamente que isso ainda não está fechado”, revelou.

O futuro parlamentar só faz restrição em relação ao equilíbrio de forças políticas da FPA já que o PP poderá ficar com presidência da Aleac, além do comando da Câmara Municipal, a vice-prefeitura da Capital e a vice-governadoria do Estado. “A gente tem que analisar como um todo porque nós somos um partido e temos ambição de poder. A distribuição de forças políticas dentro da FPA tem que ser equânimes. Não pode haver pólos de poder que sejam destoantes do geral. O PT é o partido de destaque, legitimo e de direito. Mas tem que haver cuidado para não haver desequilíbrio de forças. Não é saudável para a FPA concentrar muita força num único partido”, ponderou.

Farias continua o seu racio-cínio. “O PT sempre teve a maioria na Aleac e nunca elegeu um presidente. A lógica no parlamento é que o partido com a maior bancada eleja o presidente. Aqui, por uma maturidade do PT, não acontece assim. Mas não podemos deixar concentrar o poder em outro partido. Nós do PCdoB sempre tivemos muito cuidado. Individualmente e como parlamentar o Santiago reúne todas as condições para fazer uma boa presidência e nós vamos apoiá-lo, mas alertando para essa concentração demasiada num único partido”, finalizou.

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