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Os por quês do feioso Big Brother

Fui argüido a dar explicações mais convincentes dos por quês ter dito outro dia, que o Big Brother é feio. Uma vez que, para alguns apologistas da sacanagem e da pornografia, não basta dizer que o BBB é “promiscuo” “apelativo” “idiota” sem que se justifique tal ojeriza.

Então lá vai: O programa BBB denominado “Reality Show”, tenta pura e simplesmente desafiar abertamente, em nome de uma libertinagem generalizada, o que ainda resta da moralidade vigente. A baboseira não deve ser tomada como cultura de entretenimento sadio e, talvez a melhor definição para essa troça ou chacota aloucada já tenha sido dada em tempos idos por Theodor Adorno (1903-1969), “O fato de não serem mais que negócios, diz Adorno, bastam-lhes como ideologias”.

Como cultura de massa, o BBB, está inserido  entre outras preciosidades da TV brasileira, naquele contexto da bilontragem e da vulgaridade dos programas televisivos; retrata ainda: no dizer do professor Luiz Hermenegildo Fabiano (Bufonices Culturais e Degradação Ética) o exercício do “videobo-bismo” e do “videotismo”; a literatura da idolatria de anjos e cristais como resultado da valorização da consciência; a disseminação do grotesco e da deselegância do espírito, uma parafernália cultural degradada e interminável formando o bombardeio ideológico constante que não dá trégua à tarefa de esterilização perceptiva do indivíduo. Esse esteticismo medíocre se presta, no entanto, a sentantes oportunistas da ilusão, manipulando assim as necessidades simbólicas do indivíduo. A essência desse “projeto cultural” é mercadológica por excelência e regressivo por natureza.

O Big Brother Brasil representa, ao mesmo tempo, a corte dos bufões oportunistas, verdadeiros gigolôs emergentes do capital e seu séqüito de alegres imbecis, que invadem a mídia atual como ratos dos esgotos culturais mais abomináveis, à custa do esvaziamento da cons-ciência das massas engordam, a não caber, às suas contas bancárias. Abutres da ingenuidade alheia, da usurpação cultural dos milhares de desvalidos de consciência crítica, essa espécie de depredadores da ética e da cidadania, alicerces fundamentais de justiça social, não têm absolutamente nada a contribuir para uma cultura de entretenimento sadia. Fazem parte dos pesadelos e não dos sonhos libertários que deixam fortalecida a alma e rebeldes o gesto na direção das utopias.

Em outras palavras: O BBB é feio porque faz com percamos a aura cultural. Aquela brisa suave da cultura que canta e encanta. Estamos à mercê da cultura dos bufões e de suas bufonices. Perdida a aura, diz Marilena Chauí, a arte não se democratizou, massificou-se para consumo rápido no mercado da moda e nos meios de comunicação de massa, transformando-se em propaganda e publicidade. Sinal de status social, prestígio político e controle cultural. Sob os efeitos da massificação industrial e consumo cultural, diz ainda a eminente professora de filosofia, as artes correm o risco de perder três de suas principais características: a) de expressivas, tornarem-se reprodutivas e repetitivas; b) de trabalho da criação, tornarem-se eventos para consumo; c) de experimentação do novo, tornarem-se consagração do consagrado pela moda e pelo consumo.

A própria Marilena Chauí tem uma resposta satisfatória para estes pontos levantados: A indústria cultural vende cultura. O termo indústria cultural foi empregado pela primeira vez em 1947, quando da publicação da Dialética do Iluminismo, de Horkheimer e Adorno. Para vendê-la, deve seduzir e agradar o consumidor. Para seduzi-lo e agradá-lo, não pode fazê-lo pensar, fazê-lo ter informação novas que o perturbem, mas deve devolver-lhe, com nova aparência, o que ele já sabe, já viu, já fez. Hoje, a cultura é definida como lazer e entretenimento, diversão e distração, de modo que tudo o que nas obras de artes e pensamento significa trabalho da sensibilidade, da imaginação, da inteligência, da reflexão e da crítica não tem interesse, não vende.

Existe, também, o chamado realismo artístico que constitui, ao mesmo tempo, orientação e finalidade de parte da indústria cinematográfica nos países do primeiro mundo que aumenta a “podridão”, a imundície e a devassidão que estão envenenado as nossas crianças e jovens. Não é à toa que, em no-me  desse “realismo pós-moderno” a produção de novelas, no campo pornográfico, esta cada vez mais suja. Tudo isso, mais um grande volume de propostas indecorosas via internet, tornam a juventude – repito o que já disse em artigo anterior – uma presa fácil.

O BBB é, no mínimo, inadequado para crianças e adolescentes. Porquanto o que se vislumbra e  o que se pode esperar da atual e próxima geração, com todo esse despertar de induções pernóstica, sórdida e nociva, é o agravamento do problema social entre os jovens. O que é, sob todos os prismas, tremendamente lamentável!

* Francisco Assis dos Santos é professor e pesquisador  bibliográfico em Filosofia e Ciências da Religião.E-mail: assisprof@yahoo.com.br

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