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Cultura e consciência ecológica

O governo de Tião Viana deve inaugurar, muito em breve, um novo momento ambiental para o Acre. Quando vier a industrialização para o Estado, esta deverá ter como foco a baixa emissão de carbono garantindo uma economia sustentável com respeito ao meio em que vivemos.

Nos últimos doze anos foram dados os passos necessários para tanto. O Acre anterior à Frente Popular não ofereceria grandes resistências ao avanço da soja e ao desmatamento para abrigar mais e mais fazendas e o avanço da cultura do gado. De lá para cá, foi construída uma convivência pacífica entre quem produz no campo e os interesses de desenvolvimento sustentável com garantias de sobrevivência da fauna e da flora.

No Acre ainda há desmate e queimada, não há como negar isso, mas já surge uma nova cultura do reaproveitamento de pasto e da renovação de áreas degradadas. Se as políticas de preservação conti-nuarem avançando, desmate e queimada podem não ter mais vez no Acre de um futuro próximo.

O que se fala agora com o quarto governo seguido da Frente Popular, administrado por Tião Viana, é um desenvolvimento com base na baixa emissão de carbono ou mesmo carbono zero. Esses termos nos parecem novos, mas teremos que nos acostumar com eles em pouco tempo, pois tratam da emissão de gases poluentes, que fazem aumentar o efeito estufa e aceleram a degradação ambiental. As empresas que se instalarem no Estado terão que observar esses preceitos.

Muito bem, será isso o suficiente para esse novo momento que falei acima? De jeito nenhum. O governo tem feito sua tarefa de casa, mas tem pulado alguns exercícios fundamentais para passar de ano com louvor. Um deles refere-se ao tratamento que dá aos mananciais de água. O Rio Acre vem sendo judiado de Assis Brasil a Rio Branco. Milhões de litros de água são retirados dele a cada segundo para saciar a sede e as demais necessidades das populações às suas margens. Retira-se a água e joga-se esgoto. Aos poucos o rio morre e não se vê uma política pública que lhe dê uma sobrevida. Pior acontece com o São Francisco e outros pequenos rios e igarapés. Morrem todos à mingua frente aos nossos olhos.

O governo peca, também, na educação ambiental. Rio Branco poderia ser a Capital verde do país, mas sua população não tem o menor interesse de contribuir para tal. Basta dar uma voltinha por aí para se perceber isso. Embora se tenha uma coleta regular de lixo, não é difícil se ver que as pes-soas não hesitam em jogar o que não lhes interessa mais na rua, nos córregos e nos esgotos. O que mais se vê é milhares de garrafas Pet, pneus, restos de móveis e eletrodomésticos. A grave epidemia de dengue que se vive hoje nada mais é do que um reflexo desse desleixo ambiental. Quando a estiagem chegar, o acreano deve dar uma importante colaboração para piorar a qualidade do ar que respiramos graças às queimadas urbanas.

 Isso é cultural, é típico de país de terceiro mundo? É sim! Cabe a todos nós mudarmos essa triste cultura, mas o governo tem sua parcela de responsabilidade na formação do cidadão consciente. Se nos últimos doze anos tivesse sido dado maior atenção para a educação ambiental, certamente já teríamos crianças com maior zelo para com o meio que vivemos. Ainda não é tarde para isso e é possível que no governo de Tião Viana se inaugure também o momento de ensinar a todos que cuidar da natureza não é tarefa apenas do poder público, mas um dever de todos.

Conheci nos últimos dias dois empreendimentos interessantes que demonstram preocupação ambiental e que, aos meus olhos, deveriam receber maior incentivo. O primeiro é a Incovass, uma indústria que se dedica à fabricação de vassouras ecológicas a partir de garrafas Pet. Há quatro anos que o proprietário, Francisco Nilo Matos Viana, se dedica a construir as máquinas e a criar todo um processo que garanta o correto reaproveitamento dessas garrafas que hoje se constituem um dos mais sérios problemas ambientais do planeta. Seu Nilo trabalha com pouco ou nenhum incentivo e sonha em ampliar o seu negócio para gerar emprego e renda numa cadeia produtiva que contribuirá para deixar a cidade mais limpa.

O outro empreendimento é uma pequena empresa que se instalou na Conquista, uma revenda de veículos, a VE Import. O interessante nessa empresa é que ela revende pequenas motos e outros veículos movidos a energia elétrica. O scooter mais vendido faz 50 quilômetros com uma carga que sai por um custo menor do que cinquenta centavos. Por serem elétricos, os veículos não poluem o ambiente, já que não produzem os temíveis gases que provocam o efeito estufa. O empresário Manoel Miranda, dono da VE Import, embora tenha um produto barato e ecologicamente correto, encontra dificuldades para se manter em um mercado altamente competitivo. Iniciativas como essas têm que ser incentivadas. Não só o cidadão comum, mas os empresários têm que ter a consciência que também têm responsabilidade sobre a qualidade de vida que temos.

Empresários, sociedade e governo, tendo este último como o grande fomentador de ações, podem produzir mais do que um novo momento para o Acre, ou seja, criar uma nova cultura onde as pessoas amam sua terra, preservam o meio ambiente e formam gerações de cidadãos conscientes.

Tião Vitor é jornalista.

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