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Em janeiro, DDT fez mais uma vítima (Xapuri)

O inseticida DDT (Dcloro-Difenil-Tricloroetano) usado para dedetização das residências  no Acre, desde 1963 para o combate a malária e outras doenças transmitidas por mosquitos e que pelo seu grau de intoxicação de efeito residual a longo prazo, fez mais uma vítima no Acre, desta vez no vizinho município de Xapuri.  O funcionário da Funasa, Francisco da  Costa Sousa, conhecido pelo apelídio de CUIÚ, veio a óbito no dia 22 de janeiro do corrente ano, aos 50 anos de idade e ainda se encontrava trabalhando. 

O exame de sangue Toxicológico por Cromatografia para Pesquisa de Pesticidas, que fizera junto aos demais colegas no Instituto Evandro Chagas, de Belém-PA, teve seu resultado positivo, isso no ano passado e a partir daí, reclamando constantemente dos sintomas que sentia, tais como coceiras, irritação, dores no estomago, tremor no corpo e a falta de assistência por parte dos responsáveis, no caso o Governo Federal, situação essa confirmada pela viúva e pelos colegas de trabalho, fez com que aumentasse o consumo de bebida alcoólica, dizendo sempre que era para amenizar as dores que sentia em seu corpo.  Assim, o DDT, faz mais uma vítima no Acre, que segundo números não confirmados chega aos 117 óbitos. 

 O número correto pode ser pesquisado na Funasa, isso dos servidores que pertencem ao quadro funcional.  Contudo, se desconhece o total de óbitos, considerando-se que muitos demissionários que trabalharam com o pesticida devem ter morrido por causa do DDT e deixaram de fazer parte das estatísticas.  A recém pesquisa Vítimas do DDT – um caso de saúde pública realizada e concluída no final do ano passado trabalhou com um total de 71 mortes, número fornecido pela Funasa, mas, mesmo durante o trabalho, outros funcionários da ativa e aposentados vieram a óbitos.  A pesquisa em questão vai ser encaminhada para o governo do Estado e para  órgãos federais e Congresso Nacional, de forma a fortalecer o movimento da Comissão Luta Pela Vida, que há muito tempo vem  buscando apoio e assistência para os ex e atuais funcionários que manipularam o tal inseticida e que hoje se encontram enfrentado sérios problemas de saúde.

O funcionário Francisco da Costa Sousa (Cuiú), segundo o médico que assinou o atestado de óbito, teve  sua morte causada por falência múltipla dos órgãos e hepatite crônica.  Infelizmente, nenhum médico, até hoje teve a sensatez de verificar os exames que os falecidos fizeram antes de morrer.  Melhor ainda, nunca procuraram  conhecer as doenças  causadas pelo DDT. Nada melhor do que determinar “falência múltipla dos órgãos”.  O DDT é tão danoso para o ser humano, animais e para a natureza que já foi suspenso em todo o mundo.  Tem prova melhor que esta? Que o produto é danoso e causa severas doenças para o ser humano, esta é a mais verdadeira afirmação.   Só para lembrar alguns sintomas observados em um intoxicado pelo DDT: abalo do sistema nervoso central, com alterações de comportamento, distúrbios sensoriais, do equilíbrio, da atividade da musculatura involuntária e depressão dos centros vitais, particularmente da respiração. 

Apresenta cloracnes na pele, dor de cabeça, tonturas, convulsões, insuficiência respiratória, tosse, rouquidão, edema pulmonar, irritação laringotraqueal, rinórreia, bradipnéia, hipertensão e broncopneumonia (esta última uma complicação freqüente).  Some-se aos sintomas neurológicos de hiperexcitabilidade, parestesia na língua, lá-bios e membros inferiores, desconforto, desorientação, fotofobia, cefaléias persistentes, fraqueza, vertigem, alterações do equilíbrio, tremores, ataxia, convulsões tônico clônicas, depressão central severa, coma e morte. Enquanto o Governo Federal e estadual pouco tem feito para dar assistência aos ex e atuais servidores que trabalharam com o DDT, já está tramitando a nível judicial, várias ações buscando indenizações.

 A nível  político, existe um Projeto de Lei tramitando no Congresso Nacional com vistas a indenizar as famílias dos falecidos e aos ex e atuais servidores que comprovarem o grau de intoxicação pelo inseticida. Imagina-se que com o corte de verbas do orçamento público da União pela presidenta Dilma Russeff, pouco pode-se esperar por assistência aos doentes e muito menos por indenizações.  Tal situação vai permitir e ainda vai se comprovar a morte de muitos servidores intoxicados pelo DDT.  Mas, segundo a Comissão Luta pela Vida, este ano será um período de muitos movimentos em defesa da vida dos intoxicados, já que pouco caso tem sido feito pelos direitos humanos daqueles que trabalharam no combate a malária no Brasil e em especial, aqui no Acre. 

* Emir Mendonça, aposentado, articulista. (vítima do DDT)

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