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Por que fazer chorar o rio que gera vidas?

CLAUDEMIR-MESQUITA---FO Rio Acre é um curso d’água que baliza o espaço geográfico do Brasil, no Estado do Acre, com a república da Bolívia e do Peru. Esta impar particularidade confere-lhe o contemporâneo conceito de rio transfronteiriço ou trinacional.

Localizado ao Leste do Estado, o Rio Acre é, sem dúvida, o sistema ambiental mais sensível da natureza. Portanto, ele deveria ser o único ambiente digno de toda a oportunidade e nunca envenenado ou ameaçado, inclusive de extinção, notadamente por pura inópia de atitudes ou de incertezas, embutidas nos discursos cantados e decantados, somente em teses. Apenas ao rio é permitido gerar, conceber e desenvolver as mais variadas formas de bioexistência no planeta. Por se instituir em espaço aberto, a humanidade deveria acolhê-lo como um fino cristal.

O rio é a única sinfonia fecunda de manifestações culturais, inspiradas em vivos atributos aquáticos, sedimentados no tempo e no espaço. Seus afluentes, como uma magia, ainda colorem a terra, floreiam os bosques e realçam a beleza da brisa da madrugada, aquecendo a fria água, da fonte viva, como se estivessem a curar  feridas abertas, na áurea dos igarapés, que ainda esperam pela entrega solidária da semente multiplicadora do ciclo das águas.

O robusto cenário de incerteza, produzido pela ganância humana, não pode ser visto como mera imagem, nem como tese de discussão acadêmica. Pior ainda, nem como hipótese subjetiva de intenções, teorias  e narrativas, que quase sempre convergem para o pêndulo do esquecimento. Será que esqueceram que ele só será belo se for regado como a mãe natureza nos ensina? E que é somente por meio dele que a humanidade terá abundância de água pura, flores, perfumes, sombras e frutos.

O encanto da vida é caminhar em busca de sonhos que adicionem à procura de um mundo mais limpo, mais humano e justo para todos. Nessa imaginária, sonhada e meiga peça, espera-se que o Rio Acre continue o elo acreano que nunca deverá se romper, permitindo que o encontro das águas, dos diferentes rios, se transforme num sempre novo rio de vidas.

Oh! Pai, pela proa da fé, nutre o Rio Acre com a semente da vida, que também é nossa vida, e conduza a todos ao teu reino encantado.

* Claudemir Mesquita é professor especialista em planejamento e  uso de bacias hidrográficas.

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