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Primeiro satélite brasileiro fez 18 anos

*Mario Eugenio Saturno

 No Brasil, comemoramos pouco as conquistas que fazemos na área científica e tecnológica. Talvez porque nosso país, embora tenha um grande potencial, realiza pouco pelo pouco investimento que faz. Embora isso seja verdade, não quer dizer que não tenhamos grandes feitos pelos nossos cientistas e tecnologistas. E um feito foi comemorado no INPE no último 9 de fevereiro, o Primeiro Satélite de Coleta de Dados, SCD-1, completou 18 anos em órbita. E o mais impressionante, ainda funciona!

 Para que o leitor tenha uma ideia, nesse dia, ele completou 94.994 voltas ao redor da Terra. Esse primeiro satélite brasileiro foi desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), com o objetivo principal de retransmitir informações para a previsão do tempo e monitoramento das bacias hidrográficas, entre outras aplicações. Certamente, foi um grande ganho tecnológico, pois provou a capacidade do Instituto na aventura espacial, além de também capacitar algumas empresas nessa área tão estratégica para qualquer país continental como o Brasil.

 O SCD-1 é um satélite pequeno, mede 1,45 m de altura por 1 m de diâmetro, pesa 115 kg e é estabilizado por rotação, como um pião que fica em pé enquanto gira (no lançamento era de 120 rpm). Foi construído para funcionar por seis meses, previa-se até um ano, e o excelente estado dos seus sistemas atesta a qualidade na sua construção.

 O Programa Espacial Brasileiro sempre foi muito conturbado. Desde que foi aprovado pelo Governo Federal, em 1979, o desenvolvimento do satélite passou por diversos problemas: inexperiência das equipes, perda de pessoal em razão dos baixos salários e falta de perspectivas profissionais, falta de verbas e indefinições da instituição. Apesar disso, o satélite foi concluído em 1989, graças ao esforço e, por que não dizer, competência dos que permaneceram. Estima-se que foi um investimento de 150 milhões de dólares e treze anos de trabalho duro. Não custa lembrar que a conquista do espaço de qualquer país é recheada de muitos fracassos, com grandes perdas de recursos e vidas humanas. E o Brasil não está imune disso.

 Originalmente, foi planejado para ser lançado por um foguete brasileiro que não ficou pronto a tempo. Então foi contratada empresa norte-americana Orbital Sciences Corporation (OSC), em 20/08/92, para o lançamento. O foguete, o Pegasus, era um foguete carregado na asa de um avião B-52 (ou qualquer outro grande jato) e era disparado de uma altura de 13 km.

 Assim, houve a necessidade de transportar o satélite até os Estados Unidos, resolvido pela Aeronáutica, e de ser desenvolvido um equipamento de testes portátil para acompanhar o satélite durante a campanha de lançamento. Tive a honra de participar da equipe que projetou e construiu rapidamente esse equipamento e depois fui o primeiro a controlar o satélite em órbita usando o mesmo equipamento em Alcântara.

*Mario Eugenio Saturno é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), professor do Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva e congregado mariano. (mariosaturno@uol.com.br)

 

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