Ícone do site Jornal A Gazeta do Acre

Se as ‘gordinhas’ não podem ser professoras então…

Tiago1201É certo que isso aconteceu num lugar distante daqui, São Paulo – praticamente outra galáxia – mas não dá para deixar uma questão desta de lado. “Professoras são reprovadas em CONCURSO PÚBLICO (deixemos estes caracteres ‘aleatoriamente’ em destaque) porque são obesas”. Simplesmente assim! Na falta de palavras mais profundas, o que raios é isso? Quer dizer que até professores precisam ser praticamente atletas olímpicos só para poderem dar aula? É isso mesmo que eu entendi?

Eufemismos à parte, fatos como estes são mesmo é ‘deploráveis’. No fundo, só servem para reacender na cabeça das pessoas preconceitos e afixar estereótipos na sociedade. Parece até a volta daqueles anos amargos cujos costumes sociais ditavam o que um indivíduo podia ou não fazer? Tente imaginar o constrangimento destas professoras agora! 

Tá certo que há uma justificativa bem bunitinha que o governador do Estado deu para o fato. De que o tal concurso exigia ‘aptidões físicas’, que não foi por motivo de ‘estética’ e que o edital preconizava as aprovações nestes requisitos. Blá blá blá e assim por diante …

Sejamos francos, quem é que cria um edital deste, estabelecendo como deve ser o porte físico de um professor? Se fosse ao menos de educação física seria até menos absurdo (e olhe lá), mas para disciplinas gerais. Quer dizer que as ‘gordinhas’, mesmo pagando seus impostos, não estão aptas a concorrer cargo público? Então, seriam eles criados só para gente em forma?

Bom, já que é assim, vamos acabar de cravar logo esta faca na igualdade democrática de direitos e oportunidades! De agora em diante, todos os soldados brancos deviam ser demitidos do Exército (já que os negros se camuflam melhor na mata); vamos proibir todos que usam óculos e os idosos de tirar carteira de motorista; vamos parar de oferecer vagas aos portadores de necessidades especiais em escolas; vamos impedir os baixinhos de jogar basquete e castrar os infectados por Aids. Já que obesas não podem ser professoras então deviam abranger a restrição de vez.

Em determinados empregos, até dá para aceitar este tipo de limitação. Há funções X naturalmente impossíveis de serem exercidas por pessoas Y. Mas, neste caso de SP (ainda mais partindo de concurso público), já é forçação de barra. Condições físicas, sociais e psicológicas não devem ser convertidas em danos, e sim em benefícios.

Em resumo, a sociedade precisa rever as regras exageradamente rígidas que muitas vezes impõe a seus cidadãos. E não só regras trabalhistas/legais, mas também as de costumes, raça, religião, comportamento, estética, entre outras. Nestas horas, a coisa mais correta a fazer, por mais banal que soe, é pensar no impacto que a restrição vai causar aos seus candidatos. Em outras palvras, tente não ser o próximo ‘concurso público’ discriminando as ‘cheinhas’ da vida! 

*Tiago Martinello é jornalista.
sdmartinello@hotmail.com

Sair da versão mobile