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Diáspora haitiana sensibiliza parlamentares e Governo do Acre

O pedreiro Renaud Pierre, 35 anos, estava caminhando em Porto Príncipe na tarde de 12 de janeiro de 2010 quando a capital haitiana desabou sob o terremoto de 7.0 graus na escala Richter. Domingo passado, 6, pouco mais de um ano depois da tragédia, Pierre atravessou pela turma que formava um círculo no ginásio de esportes de Brasiléia e pediu a palavra para argumentar em fluente espanhol com os deputados Moisés Diniz, líder do Governo na Aleac e Manoel Moraes, eleito por aquela região, e com o secretário estadual de Justiça e Direitos Humanos, Henrique Corinto que visitavam o acampamento.

“Primeiro eu queria agradecer a ajuda e cumprimentá-los pela iniciativa, pois estamos aqui há mais de quinze dias e nunca fomos procurados pelas autoridades”, disse Pierre. Em seguida relatou uma série de problemas que seus 180 compatriotas estão enfrentando enquanto esperam um visto da Polícia Federal para tomarem um rumo no Brasil com status de “refúgio humanitário”.

Ainda no domingo os parlamentares, sindicalistas, representantes do Governo do Estado, o prefeito da vizinha Epitaciolândia, José Ronaldo, e vereadores das duas cidades formaram uma comissão para verificar qual a verdadeira extensão do fluxo migratório de refugiados haitianos a Brasiléia e avaliar suas possíveis conseqüências. “Nós precisamos nos antecipar para depois não correr atrás do prejuízo. Não podemos permitir que a presença destas pessoas em Brasiléia se torne razão para alarmismos. Vamos juntar todas as informações aqui e levá-las para o Ministério das Relações Exteriores”, informou Moisés Diniz.

Na quarta-feira uma comissão segue a Brasília para reunir-se com o ministro Antônio Patriota. Segundo Moisés, uma das reivindicações será que o Exército dê abrigo para os refugiados. “Eles não podem ficar no Ginásio, pois ali falta privacidade e segurança. Além do mais, até agora o Governo Federal não está participando da recepção deixando os trabalhos sob responsabilidade das prefeituras e do Estado”, argumenta Moisés.

O deputado calcula que os principais problemas serão solucionados em duas semanas. Até lá os refugiados vão precisar de colchões, roupas e até água. Para atenuar as dificuldades, o presidente da CTB (Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), José Chaves, está reorganizando o Comitê de Solidariedade fundado pelas centrais sindicais acreanas há mais de 20 anos para apoiar, primeiro o povo palestino, depois os cubanos e agora os haitianos. Em Rio Branco, segundo Chaves, já há vários haitianos abrigados na Casa do Trabalhador, sendo que dois deles estão trabalhando em uma empresa de construção.

“Os acreanos têm uma dívida de solidariedade com outros povos desde a grande cheia do Rio Acre, de 1987, quando recebemos doações até de bribotes da Holanda e da Dinamarca”, lembra Abra-him Farhat, o Lhé, assessor do gabinete do senador Aníbal Diniz e um dos fundadores do comitê. Na próxima quinta-feira, 10, uma reunião no auditório da Aleac vai definir uma estratégia para a arrecadação. 

A possibilidade de que os imigrantes possam trazer para o Brasil a epidemia de cólera registrada no Haiti está descartada, pois há um rígido controle sanitário e epidemiológico na fronteira. De acordo com Corinto, um posto da Secretaria de Saúde foi transformado em referência para a realização de exames de cólera e de doenças sexualmente transmissíveis. “Só depois que o imigrante apresenta um cadastro da Secretaria Estadual de Saúde comprovando a realização dos exames ele pode obter o visto da Polícia Federal”, explica. (Agência Aleac)

 

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