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Show do Klemer completa um mês

Um adolescente de quase 50 anos. É assim que ele se sente mesmo depois de se passarem 33 anos desde o primeiro trabalho como jornalista na TV Acre, período em que foi aprendiz de Aloísio Maia, um dos mestres que encontrou no rádio acreano. Esta não foi a introdução do bate-papo com o colega, jornalista Antônio Klemer, que comemora um mês do exato momento em que conquistou a liberdade: o programa Show do Klemer veiculado na rádio comunitária Gameleira, com estúdio instalado nos fundos do Centro de Defesa dos Direitos Humanos (CDDHEP), no coração do bairro 6 de Agosto.
Show-klemer
Klemer não quer fazer um retrospecto de sua trajetória até aqui. Quer falar do presente e do prazer que sente fazendo o que mais gosta de fazer, do jeito que sabe. É como colocar em prática tudo o que aprendeu em todos esses anos, explica. Está feliz desde que voltou há dois anos para o Acre. Conseguiu tirar da bagagem, que guardou durante este período, o jornalista-humorista que se diz “em fase de sublimação” ao fazer o que quer, do jeito que quer, mesmo que esteja duro como um coco. “Dou valor à liberdade tanto quanto dou valor à saúde”, define. Para ele não existe veículo melhor ou pior e sim aquele com o qual o comunicador se identifica.

Esse ambiente acolhedor Klemer encontrou no rádio. É onde o humorista ri de suas piadas e de si mesmo e o jornalista pode ser útil à sua comunidade. Se diverte horrores (acredita que até mais que os ouvintes) deixando claro que está no lugar certo na hora em que considera a melhor do dia: o meio-dia. De 10 horas da manhã a uma hora da tarde, de segunda a sexta-feira pela FM 104,9 conversa, conta piadas suas e de colegas, faz orações, desenrola sessão besteirol, debate notícias relevantes do dia na cidade e no mundo, propõe, polemiza tudo com a leveza de uma brincadeira.

No programa da última sexta-feira (4) disse ao senador Sérgio Petecão, convidado do programa, que se este pegasse dengue estaria perdido. “Com uma cabeça desse tamanho a dor seria insuportável”, previu. Sem sentir o menor traço de preconceito na pia-da, Petecão se divertiu na mesma proporção. E com essa fórmula criada meio ao acaso, pela intuição, o membro da pastoral de uma igreja evangélica se encontra com os mais diferentes tipos humanos que invadem as ondas do rádio atendendo a seu convite.

Convidados e ouvintes, por telefone e internet via email, twitter e em breve pelo site da Contilnet, respondem a perguntas absurdas, pedem músicas que nunca são atendidas, recebem orações, fazem reclamações sobre infra-estrutura nos bairros, falta de água ou luz, ou simplesmente elogiam o programa. “Foi uma surpresa pra mim essa resposta tão rápida”, diz aproveitando para agradecer a receptividade que encontrou no jornal A GAZETA onde está abrigada a coluna semanal da “calunista soçiau” Kairilliany Silvia, outra fonte de prazer e um dos personagens responsáveis por dar vazão ao humorista e que recebe apoio generoso e criativo do ilustrador Dim. “Devo muito À GAZETA. É minha escola, é minha casa. Foi aqui que fui recebido de braços abertos”.

Patrocínio e parcerias – Encontrar no Acre bons patrocinadores não é fácil, mas Klemer conseguiu já neste início parceiros como o Center Out-door, Só Kamizetas e Hotel Maju e outros vêm surgindo devagar ajudando a manter o programa. Ainda não há renda fixa, ainda não pode dizer que há lucro a não ser as boas risadas que dá e que recebe nas três horas em que está no ar. Uma vitória para quem emite de uma rádio com alcance de apenas 12 Km na cidade de Rio Branco.

Dois filhos do jornalista fazem parte da equipe de produção. Mariana Klemer na direção e Luiz Gonzaga (o Luar) na co-produção dão sossego ao pai, já que os têm sob as vistas, e orgulho, pelo talento e pelo trabalho que ajudam a construir. A jovem produtora, estudante de jornalista, Laura Souza e o operador de rádio, Lobão, completam o grupo que se vira dentro do pequeno estúdio de no máximo 9 metros quadrados. Decidido a se manter ali e estar mais perto dos interesses da comunidade, quer levar informação, um pouco de alegria, a palavra de Deus, “sem ferir ninguém”.

Do presente e do futuro: desfocando o olhar da guerra cotidiana
Ao meio-dia em ponto o comunicador chama a atenção dos ouvintes com uma pergunta: “Onde você está indo com tanta pressa?”. É o momento em que o homem de Deus tem a oportunidade de falar de sua fé, comum a outras milhares de pessoas. Avalia que é desta forma que deve levar sua missão, sem a formalidade da dobradinha terno/gravata. “Assim, desse meu jeito levo a palavra de Deus a pessoas parecidas comigo. Tento levar um pouco de paz. Nem todo mundo quer a notícia do meio-dia. Minha intenção é desfocar um pouco o olhar da guerra cotidiana”.

Nessa tentativa de desfocar o olhar das pressões diárias a quem são submetidas as pessoas no seu dia-a-dia, ele vai oferecendo aos ouvintes quadros como Você pede e a gente não toca – no qual a música pedida nunca é atendida; o Quis Maluco, em que perguntas absurdas são feitas sem a menor intenção de se obter respostas coerentes, entre outras brincadeiras com os ouvintes e convidados do programa que podem ser outros jornalistas, advogados, médicos, delegados, parlamentares ou o pipoqueiro do bairro 6 de Agosto. O importante é ouvir opiniões diferentes e propor um novo hábito de debater os assuntos, explica Klemer.

Com a pressa do adolescente e a cautela do homem de quase 50, Klemer quer levar “o humor do Acre, do resto do Brasil e do mundo no rádio” para muito mais gente. Os planos são melhorar o programa e ir com ele para as ruas. “Pegar um carro, pegar um conjunto e sair por aí, ao vivo, parando nos bairros, conversando com a população, levando alegria”, sonha. Outro projeto prevê a reunião de uma tropa de humor para transmitir os jogos do campeonato acreano de futebol do jeito mais avacalhado possível, uma turma formada por anti-comentaristas.

Há outras metas e idéias que ainda estão sendo traçadas e amadurecidas, mas sobre isso prefere não falar nada. Ainda. Só revela que nunca fez nada que o deixasse tão feliz. E como diria sua cria, o parlamentar Afonázio Duacre, que participa do programa do humorista Tom Cavalcanti: “If’s nice let’s mommy!” ou em bom português, “Já que tá gostoso deixa, mamãe!”.

SERVIÇO

No Twitter: @showdoklemer
No rádio: De segunda a sexta-feira, de 10h00 às 13h00, pela 104,9 – Gameleira FM

 

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