Diferenças de concepções religiosas, ideologias, raças não devem impedir a fraterna convivência humana.
Cada um pode ter sua Fé, sua visão política, sua receita para os problemas sociais, sua maneira de decifrar os mistérios da vida, sem que essas divergências impeçam o diálogo e a busca de eventuais identidades.
No âmbito da Igreja Católica, tenho especial admiração pelo Papa João XXIII, justamente porque esse Papa sacudiu os alicerces de Roma, com sua generosa abertura às mais diversas correntes de pensamento, às mais diversas crenças e filosofias.
Acho que a Humanidade avança se, no campo da Fé, prevalece uma visão ecumênica e se, no campo da ação concreta, unem-se todos aqueles que desejam um mundo mais justo, mais igualitário, mais humano.
Daí que, no centenário de Chico Xavier, eu, um católico, celebrei a herança que ele nos deixou e juntei minha palavra às milhares ou milhões de palavras que foram expressadas naquele momento de saudade. Falei com muita tranquilidade, em celebrações ecumênicas e em celebrações espíritas, ao ensejo de tão expressivo centenário.
Vamos agora falar de Cuba. Reconheça-se a grandeza desse pais, pequeno no tamanho, porém imenso na dignidade. Respeitem-se as opções adotadas naquela ilha. Tenha nossa reprovação tudo que se fez no passado, ou que se faça hoje, para dificultar os caminhos da Revolução Cubana. Enquanto Fidel Castro ainda é vivo, proclame-se a injustiça das proscrições, a falsidade dos argumentos que pretenderam negar o óbvio, qual seja, por exemplo, o sucesso do regime cubano nas áreas da saúde e da educação. Que coisa linda este troféu que, com orgulho, Cuba exibe: “A cada ano, oitenta mil crianças morrem vítimas de doenças evitáveis. Nenhuma delas é cubana. Cada noite duzentos milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo. Nenhuma é cubana”.
Cuba mantém médicos e professores atuando em mais de cem países, incluído o Brasil. Promove, em toda a América Latina, a Operação Milagros, para curar gratuitamente enfermidades dos olhos, e a campanha de alfabetização Yo sí puedo (Sim, eu sou capaz), com resultados auspiciosos.
O bloqueio norte-americano sofrido por Cuba durante décadas é inaceitável. A base militar de Guantánamo não é apenas uma agressão à soberania cubana. É um acinte ao mundo.
Reflitamos agora sobre árabes e judeus. Descendentes de árabes e descendentes de judeus no Brasil travam a pugna do bem. Desdobram-se na prestação de serviços à comunidade para demonstrar, cada um do seu lado, a capacidade que têm de construir obras beneméritas. Nesse esforço extraordinário demonstram também a gratidão que alimentam, no fundo da alma, pela acolhida que eles, seus pais e seus avós tiveram no Brasil.
Em São Paulo, essa sadia rivalidade efetiva-se através da edificação de duas instituições primorosas: o Hospital Sírio-Libanês e o Hospital Albert Einstein.
Quisera que, em plano mundial, árabes e judeus travassem uma competição para o bem, em vez de ficar jogando bombas uns nos outros.
Tenho simpatia pelo Estado de Israel e tenho simpatia pelo Estado da Palestina.
Não consigo compreender porque não possam conviver, lado a lado, o Estado judeu e o Estado palestino.
Da mesma forma que os judeus têm direito a um território, o mesmo direito assiste a palestinos e a todas as nações. Nenhum povo da Terra pode ser privado de chão.
Não é de forma alguma impossível que se efetive esse direito. Através dos canais diplomáticos, através da ONU, através da ação dos que lutam pela Justiça e pela Paz, judeus e palestinos podem conviver, no respeito recíproco, trocando o fuzil pelo abraço, trocando a exclusão pela partilha, trocando a incompreensão pela tolerância.
É nesse sentido que deve atuar a diplomacia brasileira.
Se dependesse da colônia árabe brasileira e da colônia judaica brasileira não haveria guerra no Oriente Médio.
*João Baptista Herkenhoff é professor pesquisador da Faculdade Estácio de Sá de Vila Velha (ES) e palestrante Brasil afora. Autor do livro Filosofia do Direito (Editora GZ, Rio, 2010).
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