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Prisões e revolta marcam despejo de ‘invasão’ no Ilson Ribeiro II

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Policiais militares garantiram o cumprimento da ordem judicial com retirada das famílias

Por volta das 6h da manhã de ontem, cerca de 350 policiais cumpriram um mandado de reintegração de posse no Conjunto Ilson Ribeiro II, na região do bairro Calafate. Depois de romper barricadas, policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) abriram caminho utilizando escudos, cassetetes e balas de borrachas. Resultado: três prisões, agressões e muita revolta.

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Entre os presos está o desempregado e deficiente físico, José Sabino dos Santos Machado, que estava à frente da resistência. Antes de ocupar uma das 295 casas, ele morava com a mulher e quatro filhos no sítio de sua sogra, na Estrada Transacreana. No dia anterior, ele teria sido agredido por um coronel da PM que ele diz se chamar ‘Vitor’.     
Com cápsulas nas mãos e escoriações pelo corpo, Valdernilson Pontes Sampaio afirmou que os policiais teriam batido em mulheres grávidas, idosos e atingiram uma criança de 5 anos com balas de borracha. “Aqui não tem bandido. Somos trabalhadores e pais de família”, protestou. Grávida, Cleciane Gonçalves afirmou que foi derrubada e chutada no rosto, chegando, inclusive, a desmaiar. Chorando, ela procurava pelo marido que havia sido preso.

Para dar suporte à ação, o governo estadual mobilizou caminhões do Deracre, barracas e servidores das secretarias Estadual de Habitação, Ação Social e Direitos Humanos. Impedidos de entrar, alguns sem-teto viam seus pertences sendo amontoados à beira da estrada. Outros protestavam contra os policiais e alguns faziam cadastros cujos objetivos eram desconhecidos.

Subcomandante diz que PM foi recebida com ‘paus e pedras’

O subcomandante da PM e coordenador da operação, Paulo Cézar Rocha dos Santos, afirmou que os policiais foram agredidos com paus e pedras. Definindo a operação como ‘normal’, ele negou ter havido espancamentos ou ‘qualquer outra violação aos direitos humanos’. Quanto às escoriações causadas por cassetetes e balas de borracha, ele alegou serem o resultado da tentativa de obstrução para o cumprimento da ação judicial. “Tivemos que fazer uma ‘formação’ para ter acesso às casas. A polícia está aqui para manter a ordem e o cumprimento da lei”, declarou o policial.

Imprensa não pôde registrar despejo

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À exceção da imprensa oficial, jornalistas não puderam registrar o momento da ação da polícia. Segundo informações de jornalistas, a secretária de Comunicação do Estado, Mariama Morena,  justificou  (por twitter) a atitude com as seguintes palavras: “é para segurança deles [jornalistas] e dos moradores”. Para chegar ao local, os repórteres ‘invadiram’ uma área particular e romperam um charco no meio de uma pequena floresta. Na tentativa de furar o cerco, um repórter fotográfico foi detido e ‘convidado’ a se retirar. O presidente do Sindicato dos Jornalistas do Acre (Sinjac), Marcos Vicentti, repudiou o impedimento. “Temos o direito de exercer a nossa profissão, além do já consagrado direito constitucional de ir e vir”.

Vereadores suspendem sessão e se solidarizam com os ocupantes

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Avisados de que estaria ocorrendo conflitos, os ve-readores de Rio Branco suspenderam a sessão ontem e foram se solidarizar aos sem-teto. Raimundo Vaz (PRP), que mora na região, assegurou que o movimento era ordeiro e justo. “Eles têm todo o direito de reivindicar. A Câmara está aqui para averiguar essa situação, que não é boa para eles e nem para o poder público”, discursou Vaz.

O presidente da Casa, Juracy Nogueira (PR), também apoiou os moradores e pediu para o governo estadual encontrar uma solução. Ele propôs que a distribuição de casas seja criteriosa, a fim de se evitar “aproveitadores”. Nogueira ainda complementou: “A Câmara representa a população, sendo sensível a toda reivindicação justa e pacífica”.   
Os vereadores Alysson Bestene (PP), Manoel Cabide (PSC), Luiz Anute (PPS), Marcelo Jucá (PSB) e professor Roger (PSB) também estiveram na região de conflito. Constataram que faltam infra-estrutura, fiação elétrica e reforma em algumas residências.

Casas populares ‘são’ das famílias do Bolsa Moradia

O secretário de Estado de Desenvolvimento para Segurança Social, Antônio Torres, disse que as casas em questão ‘pertenceriam’ às pessoas que moram em mora-dias alugadas pelo poder público. “Elas são destinadas às famílias que moram em área de risco ou que estão em situação de extrema pobreza”, explica Torres. Ele acrescentou ainda que os critérios de seleção “são sociais”.
O secretário informou também que a infra-estrutura da obra ainda não está concluída. “Essas unidades já estão destinadas às famílias cadastradas em programas de habitação. As casas, argumenta o secretário, “já têm donos”. São destinadas às pessoas que estão cadastradas no programa Bolsa Moradia Transitória. Trata-se do remanejamento de famílias que viviam em áreas de risco e que têm o aluguel de R$ 300 pagos pelo Governo do Estado.

O secretário, no entanto, não sabe explicar o porquê da paralisação das obras. Há quase dois anos sem conclusão, a empresa responsável teria suspendido as obras por falta de pagamentos. O local está infestado de mato e com a infra-estrutura incompleta. Abandonado, o conjunto tem sido refúgio de usuários de drogas.

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