Considerado um dos principais estrategistas políticos dos governos da Frente Popular, muitos apostavam que o assessor especial, Francisco Nepomuceno, o Carioca, não voltaria ao poder. Afinal, o desgaste da função exercida durante 12 anos acaba gerando muitos desafetos em todas as áreas da sociedade. Mas Carioca está de volta. Ele demorou 3 meses para resolver conceder uma entrevista exclusiva À GAZETA. Agora, soltou o verbo e falou espontaneamente sobre todos os assuntos polêmicos que per-meiam o governo e a política. Apesar da responsabilidade da sua função, ele não fez nenhuma restrição sobre os temas a serem tratado e respondeu com veemência todas as perguntas.
O eterno Carioca
Muita gente torcia para que o assessor especial fosse afastado do atual Governo. Mas o negociador está mais forte do que nunca. “Enquanto eu continuar a agregar valor do ponto de vista moral e intelectual ao projeto que está em curso serei sempre lembrado. A minha presença no Governo é para dar um aporte ao Tião Viana (PT) que conhece tudo de Senado depois de 12 anos e, agora, no Estado é importante estar cercado de pessoas que possam emprestar aquilo que aprenderam ao longo desse tempo nos nossos governos. Na campanha o Tião conversou muito comigo e me falou que gostaria que eu participasse do seu governo”, explicou.
Indagado se a espinhosa missão de negociar com sindicatos de servidores e partidos políticos teriam gerado alguns desafetos, Carioca corrige: “eu diria que tenho milhares de inimigos e desafetos. Uma das funções de quem negocia é dizer muito não. Utilizo a verdade como forma de conduta e defendo o que acredito de maneira muito intensa. Agora, o que forma esse exército de pes-soas que tem algum tipo de animosidade comigo são versões que passam a meu respeito. Os que sentam comigo e me conhecem de me olhar no olho para conversar sabem que alguém honesto e sincero não pode ser adversário. Mas quem está lá fora acaba ouvindo as versões deturpadas e forma uma imagem falseada a meu respeito”, garantiu.
Novas negociações à vista
Calejado pelos anos de atividade nos bastidores do poder, Carioca, se prepara para novas rodadas de negociações com as diferentes categorias de servidores públicos. “Existem os ossos do ofício, o ônus e o bônus de ser governo. A melhor forma de negociar é utilizar a verdade. Tenho visto várias pessoas semearem ilusões para os servidores. Recentemente fizemos uma reunião com os policiais militares e vi o deputado Major Rocha (PSDB), que foi alçado pela imprensa como líder da oposição, vendendo a ilusão de que é possível haver algum tipo de ganho nas nego-ciações independente do orçamento. Acho que esse tipo de comportamento rebaixa o diálogo possível que se pode realizar numa condição em que o orçamento está precário por conta da crise de 2008. A gente tem que estabelecer uma relação com os servidores públicos a mais aberta e transparente possível. Essa é a situação que coloca o governador Tião Viana numa posição extremamente vantajosa porque tem diálogo com a representação das categorias”, afiançou.
O que esperar das negociações
Carioca explica como foram às negociações iniciais com os militares acreanos. “Já esclarecemos que temos o limite da Lei de Responsabilidade Fiscal. O governador tem uma sensibilidade enorme para fazer com que os servidores públicos tenham ganhos. Mas tudo isso tem como pressuposto a questão de poder. Ele tem o desejo de ajudar, mas no atual momento acho improvável a perspectiva de ter qualquer tipo de aumento. Nós recebemos o governo com uma folha de pagamento de R$ 17 milhões, após oito anos o ex-governador Jorge Viana (PT) entregou para o Binho Marques (PT) em R$ 66 milhões por mês e o Tião Viana recebeu uma folha de R$ 110 milhões. Quando a gente pôde nós demos aumentos consideráveis. Dessa vez, infelizmente, a nossa dificuldade é grande”, garantiu.
Questionado se a evolução dos valores pagos ao funcionalismo significa um inchaço da máquina pública, Carioca discorda. “Quando recebemos o governo em 99 tínhamos 33 mil servidores e hoje temos 37 mil. O que aconteceu não foi crescimento em quantidade de servidores, mas aumento da massa salarial. Hoje me orgulho em ver servidores com carro, aumentando a casa e tendo uma qualidade de vida muito melhor. Essa foi uma escolha que fizemos e pactuamos com os sindicatos. O Acre é um Estado pobre. Nós somos o segundo pior PIB do Brasil. Só ganhamos de Roraima. Algumas escolhas que a gente fez foi para agregar valor à qualidade de vida das pessoas. Mas nós ainda somos dependentes dos repasses constitucionais do Governo Federal”, salientou.
O caso da Fundhacre
Um dos cavalos de batalhas utilizado pela oposição tem sido o desvio de recursos da Fundhacre, na gestão passada. O assessor especial comenta: “Em qualquer governo a possibilidade de haver dolo é imensa. A diferença dos governos é como você age quando isso acontece. Tanto o governador Jorge Viana quanto o Binho e o mais recente Tião Viana têm o mesmo procedimento quando se trata desse tipo de situação. A pessoa que comete qualquer tipo de dolo tem que pagar”, avaliou.
Quanto às suspeições lançadas contra o seu companheiro do governo passado, Sérgio Roberto, ex-superintendente da Fundhacre, Carioca faz a defesa: “Sou suspeito para falar sobre o professor Sérgio Roberto porque é meu amigo pessoal e confio cegamente nele. Ele deu a sua qualidade moral e intelectual em prol do nosso projeto e acho que tudo que foi dito tem que ser verificado. Quem deve é que tem que pagar”, afirmou.
A disputa pela prefeitura da Capital
Indagado sobre os prognósticos de que a oposição é a favorita para ganhar as próximas eleições em Rio Branco, Carioca ironiza: “Fico muito feliz quando vejo a oposição munida de muita certeza. A oposição quando estava cheia de dúvidas acabou pegando as suas principais lideranças, Márcio Bittar (PSDB-AC) e Flaviano Melo (PMDB-AC), colocou para disputar cargos secundários e quase ganhou a eleição porque teve o benefício da surpresa. Agora, a gente já sabe que o adversário tem que ser marcado. É como futebol. Se alguém tem possibilidade de fazer gol no seu time tem que ser marcado. Dessa vez quem tem os candidatos carimbados são eles. Dois já estão se digladiando, o Márcio Bittar e o Tião Bocalom. Outro candidato já se anuncia desde agora para concorrer ao Governo, em 2014, o senador Sérgio Petecão (PMN-AC). Portanto, não existe surpresa”, argumentou.
O assessor fala das táticas que a FPA pretende utilizar para vencer a eleição de 2012. “Nesse cenário a FPA tem um ativo extraordinário. Temos que continuar a trabalhar de maneira que a população perceba que o nosso projeto é o melhor para o Estado. Estamos numa situação vantajosa e podemos realizar muito. Quem está no Governo pode comemorar os gols feitos e à oposição cabe colocar defeito nos gols dos outros”, destacou.
Quanto a futuros nomes da FPA à disputa, Carioca, acha que ainda é cedo para o debate. “É muito precoce a gente começar a fazer a discussão da sucessão do prefeito Angelim (PT). Nós que estamos no Governo Federal, no Estado e na prefeitura o momento é de muito trabalho. Temos que ter muitos resultados nas nossas administrações e a unidade interna. Pensar em nome vem depois. Se fizermos um processo inverso criaremos uma situação ambígua. Diria que o debate de nomes vai acontecer no segundo semestre em círculos pequenos para que os partidos possam se manifestar. Quem tem deputados federais de qualidade como a Perpétua Almeida (PCdoB-AC) e o Sibá Machado (PT-AC) e bons secretários do Estado e da prefeitura não têm com o que se preocupar. No passado tivemos a experiência com o Binho que era secretário e foi vice-governador e governador. Nós temos uma situação vantajosa pela nossa unidade e realizações coisas que a oposição no Acre não têm”, ironizou.
Adversário número um
Questionado sobre o senador Petecão que foi aliado da FPA, saiu para a oposição e, agora, está se mudando para um partido de apoio a presidente Dilma (PT), Carioca dispara: “O Petecão está entrando num redemoinho de contradições. Em algum momento a gente vai ter que arrancar esse véu e mostrar a realidade da essência do Petecão. Não há coerência nos seus procedimentos. O Petecão é um político da conveniência. Ele era da FPA quando foi do seu interesse. Saiu da FPA por conveniência. Agora é aliado da presidente Dilma e base do PT no plano nacional. E é contra o PT no Acre por interesse. Acho que num dado momento a população vai observar com quem estamos lidando”, criticou.
Futebol e política
Carioca já foi jogador do Rio Branco, Juventus e Atlético Acreano. Ele fala de como a sua carreira de esportista ajudou o seu destino de articulador político. “É mais difícil fazer política. O futebol é mais prazeroso porque é o trabalho e o lazer a um só tempo. Acho que jogar futebol pra mim foi algo muito importante. Quando olho para trás no retrovisor da minha vida chego à conclusão de quem pratica esporte aprende a competir. Essa competitividade foi fundamental na minha vida. Quando juntei o meu lado esportista ao acadêmico da universidade foi um somatório que deu sentido a minha vida. Me orgulho de ter jogado no Rio Branco, no Juventus e no Atlético e de continuar jogar a minha bola. Sou grato ao futebol pelos ensinamentos que recebi de maneira sutil e subliminar”, finalizou.