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Diretório Nacional do PMDB anuncia forte tendência de candidatura própria

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* A novidade foi apresentada na sexta-feira pelo deputado federal Flaviano Melo à executiva estadual

“Ao longo desses últimos anos eu tenho sido um leal adversário, um adversário transparente. Eu sou um duro, mas leal adversário do PT, do PCdoB… mas os golpes mais doídos que levei não foram patrocinados pelos meus adversá-rios. Foram patrocinados por pessoas que vivem dentro da oposição”.
(Márcio Bittar, deputado federal PSDB/AC)

“O que eu digo pra todo mundo: ‘vamos trabalhar… vamos trabalhar que é trabalhando que se ganha eleição. Não é conversando fiado e nem fazendo
prognóstico com tempo grande’”.
(Flaviano Melo, deputado federal PMDB/AC)

Em reunião realizada na última sexta-feira, o diretório estadual do PMDB ouviu do deputado federal e presidente do partido no Acre, Flaviano Melo, que há uma tendência ‘muito grande’ de votar pelo término das coligações proporcionais na Reforma Política. Na prática, a orientação é a seguinte: nas capitais, o PMDB quer lançar candidaturas próprias para prefeito e para vereador. “É uma tendência”, adverte o parlamentar.

E, claro, os defensores deste formato não escondem o desejo que o efeito cascata descambe também para os outros municípios. O partido quer repetir ano que vem a performance de 2010, quase esquecendo que as articulações para eleições municipais exigem esforços diferentes de uma eleição para o governo. No plano regional, a ‘tendência’ peemedebista complica o cenário nas ambições tucanas para chegar à Prefeitura de Rio Branco.

“Essa história de dizer que ‘A’ ou ‘B’ está forte… Eu acho que cada eleição tem uma história”. O raciocínio do presidente do PMDB acreano tem o endereço certo: o ninho tucano, lugar onde se ensaia uma polarização classificada pelo senador Sérgio Petecão durante esta semana como ‘desrespeitosa’ com Flaviano Melo e com o seu partido.
A falta de, digamos, ‘sintonia’ entre Flaviano Melo e Márcio Bittar é pública. Há duas ou três eleições para prefeito, Melo defendeu uma aliança com José Bestene e foi derrotado internamente pelo partido que entendeu ser Márcio Bittar a opção correta naquele momento.

Esse episódio, ao menos no plano da retórica, não é esquecido pelo deputado federal Márcio Bittar. “No dia seguinte à decisão do PMDB, Flaviano me ligou reforçando que, a partir daquele momento, estaria à minha disposição para aquilo que eu considerasse estratégico. Foi uma decisão democrática, com a cara do PMDB”, lembra Bittar.

O parlamentar tucano sabe da força de estar coligado ao PMDB. E sabe do peso de uma aliança com Flaviano Melo. Mas, embalado pelos mais de 52 mil votos que, inclusive, lhe surpreenderam, Bittar pode até querer dividir a foto, mas ocupando o lugar principal. É bem verdade que transparência e sinceridade não lhe faltaram durante todo o processo. Internamente no PSDB (e não seria exagero dizer que no PMDB também), todos sabiam da pretensão de Bittar em ser prefeito da Capital.

Mas, o resultado das urnas não embalou a vaidade de poucos. É difícil encontrar alguém na oposição que compreenda a concepção de que as eleições do ano passado não representaram uma ‘quase vitória’ da oposição. Representaram, sim, a ‘quase derrota’ da Frente Popular que se enganchou nas próprias canelas.

Para complicar o cenário de Márcio Bittar, a polarização interna com Tião Bocalom tem aberto feridas que estão sangrando, dada a precisão e atua-lidade do golpe. “Eu pensava que seria um processo natural [ser o candidato da oposição à Prefeitura de Rio Branco]. Mas não foi. Paciência!”, lamenta o parlamentar, antes de confessar. “O que eu posso dizer é que ao longo desses últimos anos eu tenho sido um leal adversário, um adversário transparente. Eu sou um duro, mas leal adversário do PT, do PCdoB… mas os golpes mais doídos que levei não foram patrocinados pelos meus adversários. Foram patrocinados por pessoas que vivem dentro da oposição”.
Temporalidade – No discurso, todos são unânimes. Ainda é cedo para se falar em eleições. “O que eu digo pra todo mundo é: ‘Vamos trabalhar… vamos trabalhar que é trabalhando que se ganha eleição. Não é conversando fiado e nem fazendo prognóstico com tempo grande’”. A fala é de Flaviano Melo, mas poderia estar na boca, inclusive de Jorge Viana. Na prática, no entanto, esse raciocínio consensual é pura retórica. Não é que a campanha tenha sido antecipada. Ela não parou. Nos bastidores, as articulações são evidentes. Embora, ninguém na oposição queira ser vitrine de forma tão antecipada. E, para quem está no governo, quanto mais adiada for a discussão, tanto melhor. Para quem tem a máquina pública na mão, a ordem é tirar fotos em Brasília “na maratona em busca de recursos nos ministérios”, anunciar projetos etc., etc.
O “projeto” e a encruzilhada – Há pelos menos 12 anos, existe uma concepção polêmica nos bastidores da política local de que “os partidos de oposição no Acre não têm um projeto de Governo. Têm um projeto de poder”. Há quem defenda e há quem ataque essa idéia. O fato é que a ausência de unidade na oposição é um termômetro de que a tese tem lá a sua dose de sentido. Quando perguntado se não é uma conduta contraditória o PMDB falar em unidade no Acre e obedecer o indicativo do diretório nacional de candidatura própria, Flaviano Melo também pergunta quase em tom de irritação. “Sim. E qual é o problema? A unidade não pode ser em torno do PMDB?”

Essa resposta é um complicador a mais nos dilemas de Márcio Bittar. No plano individual, Bittar não tem muitos dramas. Veio legitimado com excelente votação, tem projetos de formação de quadros interessante para quem pensa em sustentabilidade política.

Mas, no plano coletivo, Bittar não encontra respaldo interno na colcha retalhada de interesses pessoais em um grupo que parece ainda não ter aprendido o que é ser  oposição. E adianta, ao menos no discurso. “O que eu acho mais importante é a oposição dar consistência ‘ao projeto’. Eu quero trabalhar para essas eleições em bases programáticas. O que for para fortalecer as bases de criação de um projeto para a oposição, eu topo”.

Diante das encruzilhadas construídas pela oposição no Acre, Márcio Bittar deve avaliar com carinho em qual varadouro seguir. Porque “um jeito novo de caminhar” como sugere o já desgastado verso de Thiago de Mello está longe da performance oposicionista.

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