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Márcio Bittar defende o diálogo como uma ferramenta de trabalho

Bem cotado para disputar as eleições para a Prefeitura de Rio Branco nas eleições de 2012, o deputado federal Márcio Bittar (PSDB) tem dito que o momento não é de rivalidades internas nos partidos de oposição. Defensor do diálogo exaustivo capaz de selar uma ampla aliança que garanta a vitória contra a Frente Popular, ele diz que mantém o sonho de governar a capital acreana e o Estado.    
E sua predisposição ao diálogo embute uma visão de longo prazo. O que é fundamental, segundo Marcio, é que a oposição tenha a exata compreensão da necessidade de se preparar para estar a altura de governar Rio Branco e o Estado, e com cautela decidir na hora certa qual a tarefa de cada liderança.

Nesta entrevista, o deputado federal mais bem votado da história do Acre fala também sobre a eleição do novo diretório municipal do PSDB, a provável manutenção de Sérgio Guerra como presidente nacional do partido e a proximidade com o senador Aécio Neves.

O fato de o PSDB acreano possuir dois fortes pré-candidatos para as eleições do ano que vem se constitui em problema?
Márcio Bittar: Em primeiro lugar, é preciso sinalizar para a população que temos condições de administrar as questões da Capital com o máximo de eficiência e zelo administrativo possíveis. Isso é mais importante que a escolha de quem terá o privilégio de representar os partidos de oposição na campanha do ano que vem. Quem se dispuser a encarar esse desafio terá que se preocupar com esse ponto. É preciso conhecimento, disposição, espírito democrático e capacidade de administrar, o que inclui a habilidade de reunir em torno de si os melhores profissionais para cuidar bem de cada área do serviço público. Por isso estamos em fase de montagem de um escritório que vai nos possibilitar o debate e o aprofundamento de todos os problemas enfrentados pela população de Rio Branco. Vamos consultar os técnicos, colher dados, ouvir a população e debater soluções para os muitos entraves que não permitiram ainda à capital acreana ser um lugar compatível com a grandeza e a capacidade de sonhar de seus moradores.
Isso tem a ver com uma possível candidatura a prefeito de Rio Branco?
Márcio Bittar: Tudo que fiz na vida pública, desde o momento em que fui dirigente do movimento estudantil em Mato Grosso do Sul, deputado estadual e federal pelo Acre, o fiz com a preo-cupação de me aperfeiçoar, aprender e contribuir com os que me confiaram essas importantes missões. Estou aberto a uma reava-liação do que devo fazer da minha carreira porque acho que é o momento de ouvir as pessoas e sentir se o que pretendo está de acordo com o desejo da maioria. Quanto ao exercício de continuar buscando conhecimento, de me aperfeiçoar, de aprender com o que os outros dizem – isso faz parte da minha maneira de ser. Todos os conhecimentos que adquiri e aqueles puder apreender, daqui por diante, serão válidos para Rio Branco, o Acre e para a minha atuação em Brasília.
O que faltou à oposição, até agora, para vencer uma eleição majoritária?
Márcio Bittar: Uma concepção mais ampla de projeto político que substitua, para o bem de todos os acreanos, a proposta do atual governo. É o que falta a alguns de nossos representantes, sempre ocupados com a próxima eleição. Enquanto o debate dentro dos partidos não ganhar as dimensões necessárias, talvez continuemos do lado de fora do poder. Temos que nos dar conta de que não é hora de decidir quem será o candidato em 2012, mas o papel de cada ator no cenário político atual, da importância do diá-logo e da união em torno de um projeto duradouro.
O senhor diz isso pela disputa que se trava dentro do PSDB?
Márcio Bittar: A eleição do diretório municipal será no dia 20 de março; a escolha do candidato do partido, só em junho do ano que vem. Mas a confusão que se tem feito entre as duas coisas acarreta algumas injustiças, como a que fazem agora com o Dr. José Wilson, cuja recondução ao cargo de presidente do diretório municipal deveria ser uma questão de princípios e de gratidão. O Dr. Zé Wilson foi importante em outro momento do partido, mas para alguns agora parece que não é mais. O apoio que empresto ao nome dele é o mesmo que empenho ao deputado federal Sérgio Guerra e a Bocalom para que ambos continuem nos cargos em que estão.
Notícias da eleição passada davam conta de que seu nome aparecia nas pesquisas como o mais forte para o Senado pela oposição. Mas o senhor acabou preterido…  
Márcio Bittar: De fato, o PSDB do Acre deixou de ter o senador da República, isso em nome da candidatura a governador. E mesmo assim ajudei muito tanto o candidato a governador quanto a senador da coligação. Nunca escondi de ninguém as minhas pretensões de disputar a prefeitura. Todos sabiam disso, e até havia disposição em favor dessa pretensão. Se meu nome estiver bem nas pesquisas de opinião público, se tiver o apoio do diretório e de outros partidos de oposição, por que seria preterido mais uma vez?  
Outras siglas ensaiam lançar nomes para a Prefeitura de Rio Branco, entre elas o PMDB. Como o senhor encara esses movimentos?
Márcio Bittar: O projeto que eu sonho para o Acre não será possível sem a presença e a ajuda do PMDB. Trata-se de um partido fundamental pelas pessoas que o compõem, como por exemplo o ex-governador e agora deputado federal Flaviano Melo. O PMDB tem história, tradição, bons quadros e experiência administrativa. Creio não haver problema no fato de que a oposição tenha dois ou mais candidatos, desde que isso faça parte de uma estratégia.
O senhor disse que também apóia Sérgio Guerra, que agora poderá medir forças contra o grupo de José Serra, para quem o senhor pediu votos nas últimas eleições. Por quê?
Márcio Bittar: Porque o deputado Sérgio Guerra demonstrou que tem experiência e capacidade de sobra para conduzir o partido no caminho que ele precisa trilhar até voltar à Presidência da República. Depois de duas candidaturas do ex-governador José Serra à presidência, penso que agora é a vez do senador mineiro Aécio Neves. Serra era mais preparado para governar do que Dilma, o povo do Acre sabia disso, e é uma pena que o resto do Brasil não tenha seguido a tendência do eleitorado acreano. Mas o momento é outro, e o timoneiro dessa nova fase é sem dúvida o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves, que em resposta a um convite meu garantiu que virá ao Acre ainda este ano.
Pelo que foi divulgado pelo jornal O Globo, o senhor tem feito parte da tropa de choque do deputado Sérgio Guerra, certo?
Márcio Bittar: Junto com os deputados Bruno Araújo (PSDB-PE) e Rodrigo de Castro (PSDB-MG) coletei assinaturas da bancada em favor de Guerra. É uma forma de me posicionar em relação à escolha de quem deve comandar o PSDB nos próximos anos. Também atuei em favor da eleição do líder da bancada do partido na Câmara Federal, o deputado Duarte Nogueira, e da escolha do primeiro secretário da Casa, Eduardo Gomes, do Tocantins. Além de ter me aproximado de Aécio, inaugurei um diálogo com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Isso tudo por uma razão muito simples: quem quiser assumir o comando da capital acreana ou do Estado vai precisar ter uma relação estreita com os líderes do PSDB que, repito, voltarão a governar o país. Eles precisam enxergar o Acre e a Amazônia através dos nossos olhos. Em nome da preservação am-biental não podemos conti-nuar vivendo na miséria.
O senhor poderia ser mais claro sobre esse assunto?
Márcio Bittar: Os últimos dados do Ministério do Desenvolvimento Social apontam, por exemplo, que no Acre quase um terço da população (31,53%) vive abaixo da linha da pobreza. São mais de 58 mil famílias com renda mensal inferior a 145 reais. Para mudar isso não bastaria apenas ganhar o governo, mas é imprescindível que tenhamos o apoio dessas lideranças no plano nacional.
Recentemente o senhor anunciou a vinda ao Acre do secretário-geral do PSDB, Rodrigo de Castro. O que ele vem fazer aqui?
A visita será no próximo dia 17 de março. Rodrigo virá ao Acre como parte de uma estratégia do PSDB de visitar todas as regiões do país. Nosso secretário-geral dará uma palestra para os filiados do partido e todas as pessoas interessadas em política. Devo aproveitar a presença dele para inaugurar nosso escritório político, cuja equipe já está trabalhando desde o mês passado.
Em menos de um mês na Câmara, o senhor apresentou dois projetos importantes. Do que eles tratam?  
Márcio Bittar: O primeiro visa aumentar as penas de prisão àqueles que cometem crimes contra a vida de agentes públicos de Segurança. Agentes penitenciários, policiais civis e militares, delegados, juízes e promotores são legítimos representantes do Estado. O homicídio doloso contra essas pessoas passa a ser crime hediondo. As leis precisam ser mais duras contra os criminosos. O outro projeto regulamenta a criação de novos partidos ao impor regras contra o oportunismo político.
A proposta tem a ver com a propalada saída do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, do DEM?
Márcio Bittar: É o caso mais flagrante e acintoso atualmente. Kassab tem dito na cara de todo mundo, inclusive da Justiça Eleitoral, que criaria uma nova sigla para fundi-la ao PSB, que faz parte da base governista. Trata-se de uma explícita manobra, para burlar a lei, políticos mudando de lado sem punição. Meu projeto também proíbe que os novos partidos se integrem ou se fundam a outros na mesma legislatura em que forem criados. Para ter direito a essas regalias, as novas siglas precisariam antes passar pela prova das urnas.
Pra encerrar, gostaria que o senhor falasse sobre essa fase de pregação em favor do diálogo, que parece contrastar com a imagem de pessoa impositiva que ficou das campanhas passadas.
Márcio Bittar: Ao olhar para trás vejo, de fato, que minhas posturas políticas de outrora podem ter passado a idéia de que sou um sujeito impositivo, mas naquelas circunstâncias o comportamento mais incisivo ao emitir opiniões e defender determinadas posturas se justificava. Dou um exemplo: minha veemência em vencer as eleições majoritárias e governar com correção e respeito ao dinheiro público acabou por afastar de mim alguns integrantes da oposição. Não existem oportunistas apenas no governo. Do lado de cá há também aqueles que estão ansiosos para vencer, e uma vez no governo tirar proveito pessoal dessa vitória. Sempre fiz questão de deixar claro que comigo não seria assim, e que todos que quisessem fazer parte do projeto teriam que suar a camisa e fazer jus à confiança da população. Alguns, então, passaram a me tachar de autoritário. Para essas pes-soas é bem mais fácil me xingar do que admitir que sempre estiveram mal intencionadas.
O senhor acredita na possibilidade de unir os partidos de oposição em torno de si para as eleições municipais?
Márcio Bittar: Nunca fiz alianças por conveniência. Na época da eleição para o governo estadual (2006), por conta da verticalização, tive de optar entre o apoio do PSDB e o do PDT. Este último estava comigo desde o início da pré-campanha, por isso tive de abrir mão de ter no palanque um cabo eleitoral do quilate de Geraldo Alckmin para manter nele aliados como o empresário Narciso Mendes e o ex-deputado estadual Luiz Calixto. Não me arrependo, pois sou um sujeito leal, procuro agir com correção. É assim que faço política. Os eleitores que me deram a maior votação de toda a história do Estado confiam em mim. Os que convivem comigo no dia-a-dia também. Na política, o diálogo é a principal ferramenta de trabalho. E será através dela que transformaremos em realidade o sonho de fazer de Rio Branco e do Acre um lugar melhor para todos.

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