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Irregular, Loteamento Acredata sofre com o abandono e a falta de saneamento

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Cerca de 240 famílias moram no Loteamento Acredata. O loteamento foi feito pelo antigo presidente da Associação dos Empregados da Acredata, João Alves da Silva, que em 2005 vendeu os terrenos para os associados que, por sua vez, venderam para terceiros.
Cansado de pedir ajuda para os órgãos competentes, o motorista Francisco Alves de Souza, 55 anos, um dos mais antigos moradores do bairro, resolveu denunciar na Rádio GAZETA FM 93,3 o sofrimento dos moradores.

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Travessa da Mangueira é intrafegável e está sem iluminação pública há muito tempo; no detalhe, moradores passam por um trapiche que está substituindo um bueiro

Todos os lotes são irregulares e para a Prefeitura de Rio Branco não existem de direito, o que impede o poder público de regularizar os terrenos e fornecer os títulos definitivos.
Duas funcionárias da Acredata, que não quiseram ser identificadas, contam que a área de terra foi adquirida com dinheiro da associação e vendida para os próprios associados mas é uma área que pertence a herdeiros e que não está desembaraçada. Uma de-las contou que quando descobriu que os terrenos poderiam não ser regularizados desistiu de comprar. “Os terrenos foram vendidos muito baratos para os associados, mas eu não quis arriscar porque eu sabia que um dia isso iria se complicar”, revelou.

Localizado entre a Vila Betel e o Loteamento Osvaldo Amorim no bairro Floresta, os moradores se utilizam de outros terrenos para poder entrar e sair do bairro. Depois de muitas reivindicações, segundo o secretário municipal de Gestão Urbana, José Otávio, somente uma rua foi feita pelo bairro Vila Betel para dar trafegabilidade aos moradores através do PGP, Programa de Gestão Participativa. “A rua foi feita pelo PGP mas o loteamento é irregular”, assegurou.

A outra passagem é feita por um terreno que ainda não tem construção. Dentro do loteamento as mal traçadas ruas estão em péssimas condições. Por causa disso os moradores andam na lama ou sobre trapiches construí-dos por eles mesmos.

Dona Maria das Graças Paiva da Silva, 55 anos, mora há 5 anos no local e diz que o bairro não existe, não tem CEP, o Código de Endereçamento Postal, o que dificulta a chegada de correspondências e a instalação de telefones, por exemplo. “Aqui é considerada uma área verde. Nós compramos os lotes porque estavam sendo vendidos por uma entidade como a Associação dos Empregados da Acredata e agora é que a gente percebeu que isso tudo aqui é irregular”, declarou. Nem IPTU, Imposto Predial e Territorial Urbano, os moradores pagam.

Procurado pela reportagem, o ex-presidente da Associação dos Empregados da Acredata, João Alves Ferreira, que assinou todos os contratos de compra e venda dos lotes, não foi encontrado na Acredata e nem na Delegacia do Barro Vermelho onde estaria lotado para prestar serviços, e seu telefone 9986-XX29 já pertence à outra pessoa.

Água mineral corre o risco de contaminação

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Crianças sofrem para transitar e ir à escola. Clédson teme que água dos poços se contaminem com esgoto

Uma coisa o Loteamento Acredata tem de melhor: A água mineral que brota do solo de inverno a verão e em abundância. Só no terreno de Cléd-son Queiroz da Silva existem quatro olhos d’água. Segundo ele a Ufac já fez uma pesquisa e constatou que se trata de água mineral de primeira qualidade.
Essa riqueza de água está totalmente ameaçada porque, sem esgotamento sanitário nenhum, os moradores fazem privadas ou canalizam o esgoto para a beira das ruas, contaminando o manancial inacreditável que existe no local.

“Aqui todos os moradores tem poço em casa. A água é limpa, cristalina e nunca falta nem mesmo no mais rigoroso verão. Os poços estão sempre cheios, na boca do poço. Se não canalizarem o esgoto vamos acabar com toda essa água contaminada”, disse Clédson preocupado.

Manoel Nobre, 42 anos, mora a cinco anos no bairro, com esposa e dois filhos, e também se preocupa com a contaminação da água. “Já não temos ruas, não temos esgoto e nem iluminação pública e se a gente ficar sem água??? Como vai ser?, questionou.

Para completar a situação caótica do loteamento, está havendo uma invasão na parte baixa, fazendo fundos com a construção do residencial Araçá. Os invasores também estão poluindo um pequeno igarapé por onde escoa toda a água mineral dos olhos d’água espalhados pelo loteamento Acredata.

As ruas são feitas à mão

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Graça reclama que o loteamente não tem CEP
Graça reclama que o loteamente não tem CEP

O Loteamento Acredata tem uma rua principal, a Sucupira e mais quatro ruas. A Travessa da Mangueira, por exemplo, está totalmente intransitável. Um longo trapiche foi feito para que as crianças possam ir para a escola sem pisar na lama. Em outra parte da Travessa Jatobá tem um outro trapiche sobre o local onde deveria existir um bueiro.
Seu Francisco, que trabalha como motorista em uma empresa de construção civil é quem leva restos de obras para minimizar o tamanho das valas que se formam no período de chuvas. “Eu já comprei três manilhas para colocar na minha rua porque senão, não daria para chegar em casa”, revelou.

Seu Francisco e outros moradores fazem com suas enxadas as aberturas nos locais das ruas. Nelas também espalham restos de construções e com pedaços de pau fazem os trapiches que garantem o ir e vir das 240 famí-lias que moram no local.

Um dos mais novos moradores do loteamento é Clédson Queiroz da Silva, trabalhador braçal, de 27 anos, que mora há dois anos e meio no local. Ele está tentando regularizar uma associação de moradores. Para ele sem a associação vai ser quase impossível ter as reivindicações atendidas pela prefeitura. “Eu estou com todos os documentos para montar a associação mas não temos o dinheiro para fazer as autenticações. Já fui na Assembléia e nunca encontro ninguém para ajudar. Na Câmara tem um cadeado na porta”, disse ele que ainda não sabia que a Câmara de Vereadores está funcionando na sede da Fundação Nacional de Saúde local por causa do perigo de desabar.

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