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Diga-me o que estudas, a quem contratas e com o que gastas e te direi como vais acabar!

Meus cumprimentos aos que destinam alguns minutos do seu dia à leitura, e que esse pequeno investimento possa gerar bons resultados, e assim o desejo, pois neles refletirão a minha pequena contribuição. Este texto retrata apenas a conclusão alcançada por alguém que se dedica a observar o rumo que toma a intelectualidade e o profissionalismo brasileiros.

Sou arquiteta e urbanista pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e, para tal estado vim por faltarem, na época, opções de minha preferência no Acre. Estendi minha morada na cidade de Belém devido ao meu interesse em adquirir mais conhecimento técnico para agregar valor às minhas habilidades profissionais. E assim, estou prestes a concluir Engenharia de Segurança do Trabalho, curso ainda um MBA em Gerenciamento de Obras e Tecnologia da Construção e um Mestrado em Engenharia Civil, pela UFPA, na linha de materiais.

A intenção em esmiuçar meu humilde currículo é relatar o que atestei durante essa jornada acadêmica: a maioria dos brasileiros tem uma visão equivocada sobre o conhecimento técnico e científico. E é por isso que, em relação a toda a população do nosso país, podemos contar com poucos mestres e doutores. Consequentemente, poucos são os profissio-nais que sabem que a melhor receita é sempre aprender mais, e que de nada vale o lucro, sem o bom senso na hora de reinvesti-lo. Você pode até não ser doutor, mas se for rico, vais saber o quanto vale a pena investir em tudo que um doutor conhece. Quantas pessoas ricas você conhece?

É como diz o velho ditado: “o mundo é dos mais espertos”, e nessa idéia, quem se dedica a produzir a ciência, da qual precisam os “espertos”, é vergonhosamente desvalorizado. As pessoas que compartilham o que sabem e que, ainda assim, continuam se dedicando a aprender mais, é que são os professores dos quais o Brasil precisa. Em alguns anos, não encontraremos mais professores nas salas de aula, e isso já acontece. Os melhores mestres pesquisam para as maiores e melhores empresas do mundo!

Tracemos outro caminho de raciocínio: um parâmetro usado para escolher as pessoas certas para determinadas funções é seu currículo vitae. Experimente, então, verificar o curriculo lattes dos seus profissionais com formação superior: está lançado o desafio! A qualidade na atuação profis-sional não é só adicionar linhas no curriculo vitae, o que também não deixa de ser importante. Porém, a garantia de que o profis-sional entende e tem domínio sobre o que atesta em seus certificados é justamente a capacidade que o mesmo tem em informar, ensinar e produzir. O que seus funcionários produzem?

O mercado de trabalho tem gerado novos ramos de negó-cios: um deles é a extensão acadêmica, recheado de cursos técnicos, de pós-graduações, de preparatórios para concursos, e por aí vai… Eu mesma, como citei anteriormente em minhas atividades, sou uma potente investidora desse mercado. Digo que sou investidora, pois “gasto” boa parte do que ganho em formação profis-sional, afinal o conhecimento técnico é uma exigência natural feita por qualquer atividade, pois se você não sabe, até pode fazer, mas faz errado. E no final de tudo, alguém paga por isso, e pode ser muito caro. Tomem como exemplo o edifício que desabou em Belém ainda em fase de construção. Pensem na qualidade do serviço e no domínio técnico-científico do profissional responsável por isso. “Quem vê diploma, não vê competência!”
Entretanto, a exigência de especialização técnica no mercado cresceu tão repentinamente que a qualidade dos cursos passou a ser colocada à prova. Ou seja, tendo eu o diploma de especialista em determinada área, tendo eu assistido as aulas e cumprido a carga horária exigida para a obtenção do certificado, garante o meu domínio no assunto e a qualidade do meu serviço? Pense em todos os cursos que você já fez e em tudo que, de fato, aprendeu neles. Qual foi seu rendimento? O que você aplica?

Por isso falei antes sobre a qualidade de nossos professores. De todos os que já tive, os melhores eram os que mais estudavam e sabiam fazer do seu aprendizado a sua profissão: eis o caminho mais eficiente para o bom ensino e para a boa qualidade. Há quem com base no tem de expe-riência, mas o que se tem de bons resultados na experiência da maio-ria dos profissionais?

Além da bagagem que se adquire com a vivência, é preciso, de fato, experimentar. E quem faz isso, quem ousa, quem analisa e obtém os resultados dos quais o mundo precisa pra evoluir são os estudiosos. Segundo o autor do livro Pai Rico, Pai Pobre, você acaba se tornando o que você estuda, ou seja, se você não estuda, não preciso dizer o que você é. Diz ainda que sua profissão pode ser diferente do seu negócio, porém precisamos adotar é a idéia de que negócio também precisa de base científica, já que para ser alguma coisa, você precisa estudar. Então, se seu negócio é empreender, leia sobre empreendedorismo, e dentro do ramo o qual vai empreender, contrate quem estuda para ser o melhor no que faz. Voltando aos comentários do autor desse livro, pessoas inteligentes contratam pessoas mais inteligentes do que ela. É assim que se compartilha, é assim que se aprende com professores de verdade.

Pra alguns empresários, investir em produção científica soa como perda de tempo. Para os melhores empresários do mundo, esse é o melhor investimento. Afinal, é da ciência que vem tudo que usamos, saibamos usar ou não. Se você não quer que seu funcionário perca tempo com extensão acadêmica, prepare-se para perder para a concorrência no mercado econômico, e sendo um pouco mais cruel: prepare-se para perder dinheiro.

Alguns devem se perguntar o porquê de escrever esse artigo em um jornal acreano? Isso eu descobri em minhas experiências: é mais fácil corrigir o que ainda está no início, o que ainda é pequeno. O Acre é um estado em crescimento, que chama atenção por “não existir” pro resto do mundo. Então, aproveitemos o jargão, já que o que não existe pode muito bem ser inventado.

Tenho a pretensão de voltar ao Acre, mas já pensei muitas vezes em não fazê-lo, e creio que quem lê esse texto, imagina o porquê: muitos dos que saem se deleitam nas oportunidades, nas facilidades e modernidades que as “cidades grandes” oferecem, fatores estes que por muito tempo foram pouco desenvolvidos no estado acreano, seja por questões políticas ou por falta de iniciativa privada, mas não desejo rumar para tais questões.

O fato é que resolvi inovar! Entenda-se inovar como aplicar novas idéias, torná-las reais. Então, sabendo que no Acre há também muitas outras qualidades de vida e de trabalho, por que não melhorá-las? É aí que entra minha contribuição: difundir as idéias que adquiri ao longo de minha pequena existência, além das que ainda virão. Isso também é net-working, é relacionamento, é comunicação, que são bases para a formação de bons profissionais.

Tenho certeza absoluta de que se as pessoas que gerem negó-cios bem sucedidos na região passassem a investir na formação profissional e no incentivo à produção científica, junto com a propagação do conhecimento no ambiente de trabalho, ganhariam muitos outros benefícios, como: maior envolvimento do funcionário com a empresa, já que nela haverá possibilidade de ascensão profissional e intelectual; mais inovação, o que torna a concorrência relevante; mais reconhecimento e confiança por parte dos clientes e parceiros; criação de atrativos aos colaboradores, etc.

Por isso, meus caros, leiam e incentivem a leitura, freqüentem e promovam encontros profissionais, invistam na formação dos alunos de hoje que serão os profissionais de amanhã, para que eles se tornem também seus colaboradores. Façam da produção de ciência a moeda interna de sua empresa, e dela surgirão grandes cientistas, os quais se sentindo tão valorizados quanto devem ser, serão seus trunfos, suas “pratas da casa”. Isso se chama inteligência financeira e leva ao sucesso profissional. Saiba no que e em quem você investe, logo, mesmo que não queira estudar tanto, vai saber que seu dinheiro pode te ensinar algo amanhã, através de quem faz uso dele. Faça-o trabalhar por você!

Belém, Pará. 16 de abril de 2011.

* Rejane de Oliveira Togneri – Arquiteta e Urbanista
arqui.togneri@hotmail.com

 

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